Usina de Belo Monte eleva em
até três vezes a emissão de gases de efeito estufa na região amazônica.
Os pesquisadores chegaram a
esse resultado depois de medirem os fluxos de metano (CH4) e dióxido
de carbono (CO2) em 23 pontos dos reservatórios da usina e no curso
do rio Xingu. As amostras foram coletadas durante as estações seca e cheia no
primeiro e no segundo ano após a inundação dos reservatórios (2016 e 2017) e
comparadas com as emissões de GEE antes da construção e implantação da usina
(2012 e 2014).
O aumento das emissões de
GEE, em especial o metano, é causado pela decomposição de matéria orgânica em
áreas inundadas. Estudos anteriores mostraram que a desaceleração da água do
rio, que ocorre em todos os tipos de reservatórios, induz à sedimentação de
partículas que aumentam a quantidade de matéria orgânica disponível para
degradação e alta ebulição. No estudo, os cientistas observaram que áreas rasas
de inundação chegam a representar até 45% da liberação total de gases do
sistema.
“A importância do nosso
estudo está no fato de conseguirmos fazer medições antes e depois da
implantação de Belo Monte e compará-las”, ressalta Dailson Bertassoli Júnior,
geólogo e primeiro autor do estudo. “Quantificamos de forma detalhada as
emissões de Belo Monte e podemos afirmar que a liberação de gases aumentou na
região.”
Os cientistas também
avaliaram o oxigênio dissolvido na água, a velocidade do vento, o pH da água e
a temperatura local e na superfície da água, mas não encontraram grandes
variações.
“A importância do nosso
estudo está no fato de conseguirmos fazer medições antes e depois da
implantação de Belo Monte e compará-las”, ressalta Dailson Bertassoli Júnior,
geólogo e primeiro autor do estudo. “Quantificamos de forma detalhada as
emissões de Belo Monte e podemos afirmar que a liberação de gases aumentou na
região.”
“O trabalho contribui para a obtenção de estimativas precisas das emissões de gases de efeito estufa pela matriz elétrica brasileira, que tem grandes usinas hidrelétricas como principal recurso energético”, afirma André Oliveira Sawakuchi, professor do Instituto de Geociências (IGc) da USP e orientador de Bertassoli. “Estimativas precisas e transparentes das emissões de gases de efeito estufa devem estar disponíveis à sociedade que utiliza a energia hidrelétrica”, diz.
A) Bacia do rio Amazonas e a localização do Complexo da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
B) Mapas de uso da terra
representando áreas inundadas, o canal original do rio e amostras de sítios
para avaliar pré e pós-represamento.
Demanda global de energia
O complexo de Belo Monte no
rio Xingu é a maior usina hidrelétrica da Amazônia. Foi instalado ao longo de
um sistema de múltiplos canais rochosos, conhecidos como Volta Grande do Xingu.
Tem uma das maiores capacidades de geração de eletricidade do mundo e foi
construída usando a tecnologia chamada fio d’água (da sigla ROR – Run Of the
River, em inglês), que se baseia no fluxo natural do rio e requer reservatórios
menores do que projetos baseados em armazenamento, como a Itaipu Binacional.
Por esse motivo, é considerada uma alternativa mais sustentável.
No entanto, como explica
Sawakuchi ao Jornal da USP, usinas de grande porte a fio d’água possuem
reservatórios de área considerável, o que não garante baixas emissões de GEE.
“Os dois reservatórios de Belo Monte ocupam área superior a 500 quilômetros
quadrados (km²) e inundaram áreas de florestas marginais, ilhas de floresta
aluvial (inundação sazonal) e áreas já desmatadas, além de reduzirem a
velocidade da água em trecho de aproximadamente 80 km do rio Xingu”, explica
o professor. “Mesmo com a retirada de
grande parte da vegetação antes do alagamento, a matéria orgânica dos solos
afogados é convertida em dióxido de carbono ou metano pela ação de micróbios.”
Sawakuchi diz, ainda, que por
ser um rio de águas claras, também há grande produção de algas no rio Xingu. Ao
morrerem, elas se depositam nas áreas de remanso dos reservatórios devido à
redução da velocidade da água. “Isso também contribui para a produção de gases
de efeito estufa.”
Outro dado que deve ser levado em consideração é a temperatura elevada das águas dos rios tropicais (cerca de 30°C no rio Xingu) e a baixa concentração de oxigênio nas partes mais profundas ou de águas mais paradas, que induzem à ação dos micróbios produtores de metano – gás mais prejudicial que o dióxido de carbono. “Portanto, o fato de uma usina ser do tipo fio d’água não garante baixas emissões, pois há diversas outras variáveis envolvidas”, alerta o professor.
Para Bertassoli, o trabalho é importante, pois dá uma ideia do impacto ambiental e social causado por uma usina desse porte. “Gases de efeito estufa são uma fração do problema. Para realizar um projeto como esse, precisamos entender os prós e os contras”.
Já Sawakuchi diz que aferir
as emissões de gases de efeito estufa é importante para orientar decisões sobre
planos de expansão da matriz elétrica brasileira. “Já há diversas usinas
hidrelétricas de grande porte planejadas em rios da Amazônia”. (ecodebate)
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