Na gestão dos recursos hídricos, por exemplo, as
florestas são capazes de filtrar sedimentos, nutrientes e resíduos sólidos,
impedindo que cheguem aos cursos d’água. A incorporação da infraestrutura
natural — ou infraestrutura verde — nos planos de gestão hídrica pode
potencializar a eficiência, o desempenho e a resiliência das estruturas
convencionais, reabilitando a paisagem a ofertar água de melhor qualidade às
próprias estações de tratamento. Um estudo realizado pela WRI Brasil em
parceria com a TNC e a Fundação O Boticário, concluiu que o estado do Rio de
Janeiro pode economizar R$ 156 milhões em 30 anos no tratamento de água, se
investir em infraestrutura verde, realizando a restauração de três mil hectares
de áreas com alto potencial de erosão.
Sabendo dos benefícios dessa ferramenta o Comitê
Guandu é pioneiro na implementação de projetos que são fundamentados na infraestrutura
verde, buscando serviços hidrológicos e impactos ambientais e sociais. Para
fomentar essa iniciativa o Comitê conta hoje com o Grupo de Trabalho de Infraestrutura
Verde (GTIV). Segundo o Engenheiro Agrônomo Hendrik Mansur (TNC), Coordenador
do Grupo, o objetivo do GTIV é contribuir para elaboração e implantação de
soluções baseadas na natureza, visando restaurar o ambiente rural das bacias e
assim contribuir para a melhoria da qualidade e quantidade de água, bem como
preservar a biodiversidade.
Um programa do Comitê Guandu-RJ, baseado em soluções
na natureza, que é exemplo e alvo de estudos dentro e fora do país, é o
Produtores de Água e Floresta (PAF). O PAF é desenvolvido há 10 anos pelo
Colegiado, com coordenação técnica da AGEVAP e parceria com prefeituras
municipais e instituições como a TNC. Atualmente com execução da ONG Crescente
Fértil e do Consórcio Técnico Água e Solo/ABG, o programa já resultou, em uma
década, na conservação e restauração de mais de 5 mil hectares de mata
atlântica, além de beneficiar produtores locais com retribuições financeiras,
através do pagamento por serviços ambientais (PSA), ou seja, gerando benefícios
ambientais, econômicos e sociais.
O PAF já beneficiou mais de cem produtores que contribuiram de forma direta para os seus resultados.“Além do benefício social, o projeto incentiva os produtores na adoção de boas práticas em suas propriedades, o que, aliado às atividades de conservação e restauração florestal desenvolvidas, contribuem para melhoria da qualidade e garantia da disponibilidade dos recursos hídricos. As florestas desempenham um papel fundamental no ciclo hidrológico. Durante o processo de fotossíntese, a vegetação retira água do solo através de suas raízes e a libera para atmosfera na forma de vapor. Esse processo, denominado evapotranspiração, é responsável por mais da metade do aporte de umidade atmosférica derivada da terra.
Soluções baseadas na natureza podem tornar infraestruturas urbanas mais verdes e resilientes.
Estudos recentes mostram que 65% da precipitação que
ocorre na superfície terrestre são oriundas da evapotranspiração ocorrida no
próprio ambiente terrestre, destacando a importância das florestas para o ciclo
hidrológico global. Adicionalmente, a presença de cobertura florestal aumenta o
aporte de matéria orgânica no solo, o que, aliado a outros fatores, aumenta sua
taxar de infiltração, contribuindo para o abastecimento de nossos mananciais.
São inúmeros os benefícios hidrológicos promovidos pelas florestas, explicou
Gabriela Teixeira, Engenheira Florestal e Especialista em Recursos Hídricos da
AGEVAP, delegatária do Comitê Guandu-RJ.
Hoje, os Produtores de Água e Floresta é
desenvolvido nos municípios de Rio Claro, Mendes, Engenheiro Paulo de Frontin e
Vassouras, conservando e restaurando os biomas de nascentes e sub bacias
contribuintes à bacia do Guandu, que abastece cerca de 9 milhões de pessoas na
Baixada Fluminense.
Outra iniciativa do GTIV é a elaboração dos Planos
Municipais de Mata Atlântica (PMMA) para os municípios da bacia. Trata-se de um
instrumento de gestão territorial, no qual são indicadas as estratégias
prioritárias tanto para Conservação como para Recuperação da Mata Atlântica
local. O PMMA é um instrumento legal de planejamento importante para o
município, que contribuirá para elaboração/aperfeiçoamento de políticas
publicas para a área rural do município. Em um processo participativo o PMMA
deve conter, pelo menos:
• Diagnóstico
da vegetação nativa;
• Indicação dos principais vetores de
desmatamento;
• Áreas
prioritárias para conservação e recuperação da vegetação nativa;
• Indicação
de ações preventivas ao desmatamento e de conservação;
• Utilização
sustentável da Mata Atlântica no município.
“Os PMMA serão elaborados por uma empresa contratada
pelo Comitê Guandu, através da AGEVAP”. Por meio de um acordo de cooperação, os
municípios participarão de todas as etapas da elaboração do plano, o que
permitirá integração de Políticas Públicas de Meio Ambiente e de Recursos
Hídricos. Com base nas informações dos PMMA será elaborado o Plano Diretor
Florestal da Região Hidrográfica do Guandu, com base nas informações levantadas
nos municípios’, explicou Hendrick Mansur (TNC).
Com as recomendações de distanciamento social da OMS, e os decretos do Estado do Rio de Janeiro, em enfrentamento a pandemia do COVID-19, o grupos seguem seus trabalhos de forma remota, para que o avanços nos projetos baseados em infraestrutura verde continuem, e é claro, seus benefícios ambientais e sociais.
(ecodebate)
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