O mundo tem uma pegada
ecológica superior à biocapacidade do Planeta e o déficit ambiental cresce a
cada ano e a biodiversidade paga um alto preço.
“Acreditar que o crescimento
econômico exponencial pode continuar infinitamente num mundo finito é coisa de
louco ou de economista” Kenneth Boulding (1910-1993)
Existe uma emergência
climática e uma emergência ambiental. O aquecimento global pode tornar boa
parte da Terra em locais inabitáveis. A 6ª extinção em massa das espécies
ameaça a biodiversidade e a redução considerável dos polinizadores que garantem
a produção de alimentos.
Relatório de Sir Partha Dasgupta diz que os interesses da humanidade estão degradando o meio ambiente. O gráfico abaixo resume a situação, pois enquanto a produtividade econômica aumenta, cresce o capital humano, mas diminui o capital natural. Ou seja, enquanto a economia cresce, a humanidade enriquece e a natureza empobrece. Isto é, o mundo tem uma pegada ecológica superior à biocapacidade do Planeta e o déficit ambiental cresce a cada ano e a biodiversidade paga um alto preço. Este caminho é insustentável. A extensão em que se degradou coletivamente a biosfera criou extremos riscos e incertezas, ameaçando nossas economias e meios de subsistência e deu origem a riscos existenciais para a humanidade.
Em 2011, quando a população global atingiu 7 bilhões, o economista David Lam e o demógrafo Stan Becker fizeram uma aposta. Lam previu que os alimentos ficariam mais baratos na próxima década, apesar do contínuo crescimento populacional. Becker previu que os preços dos alimentos subiriam, por causa dos danos que os humanos estavam causando ao planeta, o que significava que o crescimento populacional ultrapassaria o fornecimento de alimentos. Becker venceu e, seguindo seus desejos, Lam assinou um cheque de US$ 194 para o Population Media Center, uma organização sem fins lucrativos com sede em Vermont, que promove ações visando a estabilização da população internacionalmente.
De fato o Índice de Preços de Alimentos da FAO/FFPI – que é uma medida da variação mensal dos preços internacionais de uma cesta de commodities alimentares – tem apresentado valores recordes. A atualização do FFPI da FAO (divulgado 08/07/2021) teve um curto pico acima de 120 pontos em meados da década de 1970, em valor real, em decorrência do primeiro choque do petróleo, mas atingiu os valores mais baixos da série entre 1985 e 2005. O preocupante é que os preços voltaram para o patamar de 120 pontos no primeiro semestre de 2021, conforme mostra o gráfico abaixo.
Comida mais cara num quadro de desemprego significa aumento da insegurança alimentar. Indubitavelmente, o espectro da fome voltou a assustar o mundo. O discurso otimista de David Lam, (quando fez um discurso presidencial à PAA – Population Association of America – em 2011) não parecem corresponder a nova realidade global.
De acordo com projeções do
IHME da Universidade de Washington (Vollset, 14/07/2020), a população mundial
deve alcançar o pico de 9,73 bilhões de habitantes em 2064 e iniciar uma fase
de decrescimento nos anos e décadas seguintes. Mas até lá a Pegada Ecológica
deve continuar crescendo e as emissões de gases de efeito estufa podem ter um
efeito de colocar o aquecimento global em uma rota de não retorno.
Mas o Conselho Consultivo de
Crise Climática (CCAG, na sigla em inglês), em seu terceiro relatório
climático, divulgado dia 25/08/2021, alerta que reduzir a zero as emissões de
gases de efeitos estufa até 2050 não é mais o suficiente para inverter as
mudanças climáticas. Dessa maneira, o planeta não atingirá a meta estabelecida
pelo Acordo de Paris em limitar o aquecimento global em até 1,5º C até o fim deste
século, pois este limite poderá ser ultrapassado já em 2030 e o limite de 2º C
pode ser ultrapassado até 2050.
Assim, como mostrou Stan
Becker a população mundial vai enfrentar muitos desafios ao longo do século XXI
e não vai ser mais possível jogar o debate sobre a questão populacional para
debaixo do tapete. Segundo Martine e Alves (2015), o desenvolvimento
sustentável virou um oximoro e o tripé da sustentabilidade (econômico, social e
ambiental) virou um trilema. Sem ECOlogia não há ECOnomia. O mundo vai ter que
escolher entre grande quantidade de pessoas com baixa qualidade da vida
ambiental ou menor quantidade de pessoas (e consumo) e maior qualidade de vida
ecológica. (ecodebate)
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