A redução temporária das
emissões de carbono causada pelos confinamentos durante a pandemia não interrompeu
o avanço da mudança climática; várias agências da ONU publicam relatório
inédito Unidos pela Ciência e comprovam que mundo está longe de atingir
compromissos do Acordo de Paris.
Um relatório inédito
publicado por várias agências das Nações Unidas mostra que as concentrações de
gases na atmosfera atingiram níveis recorde e o planeta está caminhando para
enfrentar um aquecimento muito perigoso.
Um mundo em perigo
O secretário-geral da ONU,
António Guterres, afirma que o número de desastres naturais já é cinco vezes
maior do que os registros de 1970, incluindo ondas de calor fatais, furacões,
enchentes e incêndios.
Segundo Guterres, “essas mudanças são apenas o começo do pior que está por vir”. O chefe da ONU faz um alerta: sem reduções imediatas e em larga escala das emissões de gases, será impossível limitar o aumento da temperatura global a 1,5° C e as “consequências serão catastróficas”.
Vítima do ciclone Idai na Beira.
Cenário angustiante
De acordo com cientistas, o
aumento da temperatura global já está causando eventos extremos do clima, com
enorme impacto nas economias e nas sociedades.
O relatório Unidos pela
Ciência sugere um cenário angustiante: mesmo com ação ambiciosa para cortar as
emissões de gases, o nível do mar continuará subindo e ameaçando ilhas e
populações que vivem em áreas costeiras.
António Guterres é claro: “o
tempo está acabando” e “é preciso agir agora para evitar mais danos
irreversíveis”. O secretário-geral vê a COP26, em novembro, como a chance de um
ponto de virada na situação.
Guterres faz um apelo a todos
os países, para se comprometerem em atingir emissões zero até meados do século
e para apresentarem estratégias claras, de longo prazo, para que a meta seja
alcançada.
A Conferência 2021 da ONU sobre Mudança Climática, conhecida como COP26, acontecerá entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro em Glasgow, na Escócia. A expectativa é de que os líderes mundiais decidam os rumos da ação climática para a próxima década.
Nas ilhas Seychelles, meta é melhorar a proteção costeiras e impactos do aumento do nível do mar.
Descobertas notáveis
De acordo com a Organização
Meteorológica Mundial, OMM, reduzir as concentrações de metano, CH4, na
atmosfera a curto prazo poderá ajudar no alcance das metas do Acordo de Paris.
Mas a medida não elimina a necessidade de reduções mais fortes e rápidas de CO2
e outros gases.
Já o Programa da ONU para o
Meio Ambiente, Pnuma, alerta que a diferença entre o nível atual de emissões e
o nível estipulado pela ciência até 2030 é maior do que nunca.
Um futuro mais quente
O relatório explica que a
temperatura global será em média 1°C mais quente do que os níveis da era
pré-industrial (1850-1900) em cada um dos próximos cinco anos, e é muito
provável que fique entre 0,9° e 1,8°C.
Existem ainda 40% de chance
de que a temperatura em um dos próximos cinco anos seja 1,5°C mais quente do
que os níveis pré-industriais. No entanto, o relatório destaca que será difícil
a temperatura média ultrapassar 1,5°C no período 2021-2025.
Regiões de alta latitude e o Sahel provavelmente estarão mais úmidas nos próximos cinco anos. Em relação ao nível do mar, a expectativa é de aumento entre 0,3 e 0,6 m ate 2100, mesmo se as emissões de gases forem reduzidas e o aquecimento global menor do que 2°C.
Pessoas cruzam rio no Haiti após ponte ter sido destruída pelo furacão Matthew em setembro/2016.
Momento crucial para ação
climática: está acabando o tempo para evitar um aquecimento catastrófico.
Saúde mundial em risco
A Organização Mundial da
Saúde, que também assina o estudo, alerta para aumento das mortes por calor
extremo. Segundo a agência, 103 bilhões de horas de trabalho foram perdidas em
2019, na comparação com os índices de 2000, com trabalhadores afetados pelo
clima.
Além da Covid-19, ondas de
calor, incêndios e má qualidade do ar são fatores que ameaçam a saúde humana,
colocando em risco especial as populações mais vulneráveis.
O relatório Unidos pela Ciência foi produzido pela Organização Meteorológica Mundial, OMM; Programa da ONU para o Meio-Ambiente, Pnuma; Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, IPCC; Projeto Global de Carbono, GCP; Programa Mundial de Pesquisa sobre o Clima, WCRP, e Met Office, do Reino Unido. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário