De fato, a pobreza extrema
vinha se reduzindo no mundo até 2015. Mas a pandemia da covid-19 reverteu a
tendência de queda. O blog do Banco Mundial (MAHLER et. al, 24/06/2021) traz
algumas projeções que indicam o aumento da pobreza extrema no mundo e em
diversas regiões. O Blog diz que após mais de um ano de pandemia, ainda há
muito para saber sobre seu impacto na pobreza global. Enquanto se aguarda
pesquisas domiciliares, os autores aprofundam estudos anteriores sobre as
consequências da pandemia sobre a pobreza.
A metodologia utilizada
calculou a pobreza induzida por COVID-19, entendida como a diferença na pobreza
em um mundo com e sem a pandemia. As estimativas de pobreza induzida pela
pandemia foram derivadas usando as previsões de crescimento mais recentes
disponíveis no Global Economic Prospect (GEP) e o contra factual pré-pandêmico
foi derivado usando as previsões do GEP de janeiro de 2020. Em janeiro de 2021,
estimamos que a pandemia levará entre 119 e 124 milhões de pessoas à pobreza
extrema em todo o mundo em 2020.
Na versão mais recente, os autores revisaram os números com base nas atualizações dos dados globais de pobreza que ocorreram em março e junho e com base nas previsões de crescimento lançadas recentemente da versão de junho de 2021 do GEP. O gráfico abaixo mostra que a pobreza extrema no mundo passou de 655 milhões de pessoas, em 2019, para 732 milhões em 2020 e deve cair ligeiramente para 711 milhões de pessoas em 2021, conforme as projeções.
No caso da América Latina e Caribe (ALC), a pobreza extrema já vinha crescendo de 23 milhões de pessoas em 2015 e para 24 milhões em 2019, mas deu um salto em 2020, para 27 milhões de pessoas, devendo cair ligeiramente para 26 milhões em 2021.
Na África Subsaariana a situação é mais crítica pois a extrema pobreza passou de 418 milhões de pessoas em 2015 para 439 milhões em 2019, estando projetada para 467 milhões em 2020 e 478 milhões em 2021. O que chama a atenção é que a África, juntamente com a Oceania, é o continente com menor coeficiente de mortalidade da pandemia e mesmo assim tem sofrido com o impacto da pobreza.
Mas o quadro de aumento da pobreza é ainda maior se for utilizada uma metodologia mais ampla. De acordo com o MPI 2021 publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Oxford Poverty and Human Development Initiative, cerca de 1,3 bilhão de pessoas nos países em desenvolvimento vivem na pobreza multidimensional. Aproximadamente metade dos pobres multidimensional (644 milhões de pessoas) têm menos de 18 anos e 8,2% (105 milhões) têm 60 anos ou mais.
Para chegar a esses números,
o MPI vai além da renda para entender como as pessoas vivenciam a pobreza de
várias maneiras sobrepostas. Ele identifica como as pessoas estão sendo
deixadas para trás em termos de saúde, educação e padrão de vida, interrogando
10 indicadores como falta de água potável, nutrição adequada ou educação
primária. Pessoas carentes em, pelo menos, um terço desses indicadores ponderados
são classificadas como multidimensionalmente pobres. O Índice 2021 inclui dados
de 109 países, onde vivem 5,9 bilhões de pessoas ou cerca de 92% da população
do mundo em desenvolvimento.
A figura abaixo mostra a distribuição da pobreza multidimensional no mundo. Na África Subsaariana, cerca de 556 milhões de pessoas (53% da população) vivem na pobreza multidimensional. No Sul da Ásia, 532 milhões de pessoas (29% da população) são multidimensionalmente pobres. Os países com mais pessoas vivendo na pobreza multidimensional são Índia, Nigéria, Paquistão, Etiópia e República Democrática do Congo. A pobreza multidimensional é encontrada em todas as regiões em desenvolvimento do mundo, mas é particularmente significativa na África Subsaariana e no Sul da Ásia (especialmente nos países com maiores taxas de fecundidade), onde vivem quase 85% de todas as pessoas multidimensionalmente pobres.
Um fato que deve agravar a situação da pobreza e da insegurança alimentar é o aumento do Índice de Preços dos Alimentos da FAO que tem batido o recorde de alta dos últimos 50 anos. É sabido que a carestia atinge mais fortemente a população de baixa renda. Desta forma, o mundo está cada vez mais longe de conseguir efetivar o objetivo número 1 dos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. (ecodebate)
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