O
Matopiba – que compreende os Estados da Bahia, do Maranhão, do Piauí e de
Tocantins – bateu recorde de concentração do desmatamento no Cerrado. Do total
de vegetação suprimida no bioma entre agosto de 2020 e julho de 2021, 61,3%
(5227,32 km²) esteve concentrado na região. Trata-se de um registro histórico
para a série Prodes (2002–2021), superando o ano de 2017, quando a região foi
responsável por 61,1% da derrubada no Cerrado.
A
análise é de pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia) e vem à tona na sequência da consolidação dos dados do Prodes, do
Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), para o mapeamento de
supressão da vegetação nativa do Cerrado no período. A área total desmatada no
bioma é a maior desde 2015 e equivale a quase seis cidades de São Paulo: foram
8.523,44 km² de corte raso, um aumento de 8% em relação aos 7.905,16 km²
suprimidos nos 12 meses anteriores.
“O Matopiba tem estado há anos entre as regiões do país onde a vegetação nativa tem sido mais convertida em agropecuária”, diz a diretora de Ciência no IPAM, Ane Alencar. “Essa região precisa de um olhar especial para os conflitos que têm se acirrado por conta dessa conversão. O aumento do desmatamento no Cerrado mostra que a falta de governança ambiental e os conflitos socioambientais decorrentes dela não são prerrogativas somente da Amazônia”.
Análise do IPAM com dados do PRODES mostra maior desmatamento no Cerrado no Matopiba desde 2017.
Maranhão
foi o estado que teve a maior área de vegetação nativa desmatada com 2.281,72
km², seguido por Tocantins 1.710,55 km² e Bahia 925,11 km². Piauí teve 583,73
km² derrubados. Na comparação, a soma da área de Cerrado desmatada no Matopiba
corresponde a pouco mais de 3 vezes o território da capital paulista.
Maior
parte em propriedades rurais
A
análise do IPAM com dados do Prodes mostra ainda que grande parte da área
desmatada no Cerrado ocorreu dentro de propriedades rurais privadas: foram
6.498 km² derrubados, ou 76,2% do total suprimido no bioma.
“O
desmatamento no Cerrado está se concentrando em áreas privadas. Como temos
apenas 8% do bioma em áreas protegidas, a conservação da savana mais biodiversa
do mundo e da caixa d’água do Brasil dependerá de ações em áreas privadas e do
setor agropecuário”, avalia a pesquisadora no IPAM Julia Shimbo.
Do
desmatamento em FNPDs (Florestas Públicas Não Destinadas), 71% se deu em áreas
de sobreposição com CAR (Cadastro Ambiental Rural). Em Terras Indígenas,
aproximadamente metade ocorreu em áreas de sobreposição com CAR; e em Unidades
de Conservação, quase 80% foi em áreas com sobreposição de CAR.
“A
natureza auto declaratória do CAR permite que uma série de inconsistências
surjam, como as sobreposições entre cadastros”, explica a também pesquisadora
na instituição, Andrea Garcia. “Essas sobreposições podem servir como indicador
a ser usado com cautela em áreas com insegurança fundiária, podendo também
refletir, mas não necessariamente, a existência de conflitos.”
Terras
sem informação fundiária, ou seja, terras não cadastradas em nenhuma base de
dados, respondem por 724 km² desmatados, ou 8,5% do total, enquanto APAs (Áreas
de Proteção Ambiental) tiveram 538 km² derrubados (6,3%), e assentamentos 434
km² (5,1%) – sendo que pelo menos 87% do desmatamento em APAs e em
assentamentos ocorreu dentro de terras federais.
Destinação
agropecuária
Segundo
o MapBiomas, Tocantins e Maranhão, nesta ordem, são os Estados que mais
perderam vegetação nativa de Cerrado na última década. A iniciativa revelou que
a região do Matopiba mais que dobrou a área destinada à agropecuária nos
últimos 36 anos.
De 1985 a 2020 o Cerrado perdeu 19,8% de sua vegetação nativa, ou 265 mil km², que equivalem a uma área maior que a do Piauí. A expansão da agropecuária no bioma no mesmo período é quase complementar: foram 262 mil km² destinados à atividade.
Atualmente, a agropecuária ocupa 44,2% do bioma.
O
Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, com 198 milhões de hectares, e
apresenta diferentes tipos de vegetação nativa. Como hotspot de biodiversidade,
é a savana mais biodiversa do mundo e está sob elevado grau de ameaça. Quase
metade já foi desmatada: 54,5% de seu território ainda é coberto por vegetação
nativa, sendo que 44% encontra-se justamente no Matopiba. (ecodebate)
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