Avanço da agropecuária no
Cerrado e na Amazônia reduz a biodiversidade
Desmatamento e da conversão
de matas nativas – A maior parte das espécies perdeu entre 25% e 65% da área
original de distribuição, sendo as espécies do Cerrado as mais impactadas.
O aumento do desmatamento e
da conversão de matas nativas, especialmente para a produção de soja e a
pecuária, tem reduzido o habitat da maioria das espécies da Amazônia e do
Cerrado.
Isso é o que mostra uma
análise realizada pelo WWF-Brasil e parceiros que avaliou 486 espécies (183
aves, 101 anfíbios, 118 mamíferos e 84 lagartos e serpentes). Algumas perderam
mais da metade da área original de distribuição. As maiores perdas estão no
Cerrado.
Algumas das espécies
ameaçadas são bem conhecidas pelos brasileiros, como o lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus), que teve mais da metade de seu habitat perdido, e o tatu-bola
(Tolypeutes tricinctus) escolhido pela FIFA como mascote oficial da Copa do
Mundo de 2014. Em um período de cinco anos, o tatu-bola viu aumentar em 9% a
cultura de soja dentro dos limites da sua distribuição, na região do Matopiba,
no Cerrado.
A redução da diversidade de
espécies está normalmente associada ao desaparecimento de ecossistemas e seus
serviços ambientais. Como alerta o estudo, “o impacto sobre espécies associadas
a áreas úmidas e matas de galeria como anfíbios, por exemplo, indica que
estamos impactando também os recursos hídricos”.
Do total de espécies analisadas, 136 são endêmicas, com mais de 95% da área de distribuição restrita a esses biomas. Nesse caso, as perdas médias foram de 17% para a Amazônia e 35% para o Cerrado, o que é preocupante já que estas espécies não ocorrem em nenhum outro local.
Cerrado na mira da destruição
O bioma é a savana com maior
biodiversidade do planeta, mas também um dos mais ameaçados. Nos últimos dez
anos, o Cerrado perdeu 6 milhões de hectares de vegetação nativa, sendo que
cerca da metade disso (3,2 milhões de hectares) ocorreu no chamado “Matopiba”,
que inclui partes dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
“Além de já ter perdido mais
da metade da sua cobertura original, o que restou no Cerrado encontra-se
bastante fragmentado e, em muitos casos, degradado pela ação intensa do homem,
criação de gado, fogo recorrente, invasão de espécies exóticas, dentre outros”,
avalia Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil. “É essencial a
mudança de mentalidade das empresas e do governo: a destruição do ecossistema é
desnecessária, pois já existem áreas suficientes para a expansão do agronegócio
– que inclusive, já está sendo prejudicado com quebras de safras constantes por
conta da degradação ambiental”.
De acordo com Frederico
Machado, Líder de Conversão Zero do WWF-Brasil, “o setor privado brasileiro já
tem bons exemplos de como ampliar a produção, sem desmatar, e um deles é a
Moratória da Soja na Amazônia. Acordo multissetorial que desde a sua assinatura
promoveu drástica redução da destruição causada pela soja”. É necessário igual
comprometimento do setor de soja com o Cerrado, assim como do maior esforço do
setor pecuário em não desmatar.
Os dados do MapBiomas indicam
que as principais atividades responsáveis pelo desmatamento e queima do Cerrado
e da Amazônia são as produções de gado e soja. Até 2021, a agropecuária já
ocupava mais de 40% do Cerrado (23,7% pastagem; 8,9% soja; 7,3% mosaico
agricultura e pastagem), e 14% na Amazônia (13,5% pastagem; 1,2% soja) da área
original destes biomas.
Sobre o estudo
O estudo foi realizado pela consultoria Gondwana, sob coordenação do pesquisador Cristiano de Campos Nogueira, e tem o objetivo de apresentar as consequências da perda de vegetação nativa para a biodiversidade do Cerrado e da Amazônia brasileira, além de acrescentar evidências para propor políticas públicas e ações de conservação das espécies destes biomas.
Cerrado na mira do agronegócio.
Para calcular o impacto da perda de habitat sobre a biodiversidade, os pesquisadores cruzaram mapas da distribuição de cada uma das espécies (disponíveis no site da IUCN) e os dados de uso do solo para o Cerrado e para a Amazônia (do MapBiomas). (ecodebate)
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