Em
fevereiro/22, a ONU divulgou seu mais recente relatório do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que aponta que, com a
aceleração da crise climática, seus efeitos tendem a se intensificar em um
menor período de tempo.
“Trabalhando
com a estimativa de um aquecimento global de 1,5ºC, o previsto é que o número
de pessoas impactadas pelas secas e enchentes resultantes aumente, o que coloca
a população em situação de vulnerabilidade em um risco até três vezes maior”,
explica Nicole Brassac de Arruda, bióloga e pesquisadora do Lactec, instituição
de ciência e tecnologia (ICT) com sede em Curitiba.
Isso
porque as mudanças climáticas têm impacto direto nos ciclos hidrológicos,
influenciando na ocorrência de secas e de enchentes severas, frequentemente
seguidas por deslizamentos. Com uma temperatura mais alta, mais água evapora e
mais chuvas incidem em locais em que não eram tão frequentes. Isso afeta o
balanço hídrico, pois se mais água está chegando a um determinado lugar, está
fazendo falta em outros.
O Brasil já sente esses efeitos: só no ano de 2022, as chuvas já deixaram milhares de pessoas feridas e desabrigadas em pelo menos oito estados brasileiros. Os temporais ocorridos em Petrópolis, por exemplo, chamaram atenção com um saldo de cerca de 230 mortos e muitos desabrigados.
Segurança hídrica ameaçada
Com as
mudanças no ciclo hidrológico, acendem-se algumas luzes de alerta. No Brasil e
na América Latina, o IPCC prevê riscos para a segurança hídrica — que diz
respeito à disponibilidade de água para satisfazer as demandas da população,
das atividades econômicas e de conservação de ecossistemas —, para a segurança
alimentar, já que as secas causam prejuízos às colheitas, e para a vida,
ameaçada por fatores como inundações, erosões, deslizamentos, tempestades e
elevação do nível do mar.
É nesse
contexto que entra a necessidade de uma gestão de recursos hídricos eficaz,
aponta Nicole: “Algumas dessas estiagens e enchentes constituem eventos fora da
curva que destoam das séries históricas de dados que usamos para ações de
gestão e planejamento. Mas é possível tentar prevê-los utilizando ferramentas
de modelagem hidrológicas e meteorológicas e, assim, fazer um bom planejamento
urbano do uso de água”.
As
modelagens ajudam a traçar cenários e definir tendências de crescimento da
população, de consumo de água e de perdas desse recurso natural, o que facilita
o planejamento da quantidade de água, de reservatórios e de quais tipos de
reservatórios são necessários para que a cidade não passe por escassez ao longo
do tempo.
Além do uso da tecnologia, a especialista não descarta o impacto que podem ter as ações individuais dos mais de 7,6 bilhões de habitantes da Terra para a manutenção da segurança hídrica. “Se cada um medir um pouco melhor sua pegada hídrica e de carbono, teremos ações individuais que, somadas, acabam trazendo uma folga para esse sistema. Revisar nossas torneiras e sistemas hidráulicos, tomar banhos mais curtos e reutilizar a água são formas de reduzir o seu consumo, e água não consumida é água reservada para o futuro”, conclui.
Sobrevoo em Sena Madureira sob inundação (Acre, Brasil).
3.3
bilhões de pessoas estão muito vulneráveis aos impactos climáticos mundiais.
Mortalidade
por eventos extremos foi 15 vezes maior em regiões mais vulneráveis na última
década. (ecodebate)
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