As florestas influenciam o
clima e promovem a estabilidade, reduzindo temperaturas extremas e inundações
em todas as estações e em todas as latitudes.
A política e as negociações
climáticas historicamente se concentraram no papel das florestas no sequestro
de dióxido de carbono e na mitigação do aquecimento global. Um novo estudo
expandiu esse foco para revisar três mecanismos biofísicos pelos quais as
florestas influenciam o clima em diferentes latitudes. Através da
evapotranspiração, rugosidade do dossel e albedo, as florestas influenciam o
clima e promovem a estabilidade, reduzindo temperaturas extremas e inundações
em todas as estações e em todas as latitudes, descobriram os pesquisadores.
Para Emilia Pramova, pesquisadora da empresa de manejo florestal OpenForests, estudos como este podem ajudar os formuladores de políticas a abandonar a “visão do túnel de carbono” e reconhecer o papel das florestas na promoção da biodiversidade, resiliência e bem-estar social, além de outras adaptações à das Alterações Climáticas.
Resfriando Florestas Tropicais
Embora todas as latitudes se
beneficiem da cobertura florestal, “a mensagem é muito clara: os maiores
benefícios estão nos trópicos”, disse Louis Verchot, um dos autores do artigo e
principal cientista do Centro Internacional de Agricultura Tropical da
Colômbia.
As florestas tropicais têm
uma enorme quantidade de biomassa e “estão fotossintetizando todos os dias do
ano”.
Esse mecanismo, explicou ele,
“é essencialmente um sistema de ar condicionado”. Por exemplo, onde Coe
trabalha no Brasil, as áreas desmatadas são “5°C mais quentes em média durante
o ano” do que as áreas florestadas.
Além da fotossíntese, a
equipe descobriu que a evapotranspiração nas florestas tropicais aumenta a cobertura
de nuvens e promove a precipitação ao liberar compostos orgânicos voláteis
biogênicos, que são “extremamente reativos na atmosfera. Eles criam núcleos de
condensação de nuvens [e] alteram a distribuição de gotículas dentro das
nuvens, o que as torna mais brilhantes e mantêm o ciclo hidrológico”, disse
Verchot.
A maior parte das massas de
ar que passam pela floresta amazônica, por exemplo, vem do Oceano Atlântico.
Quando chegam ao oeste da Amazônia e aos Andes, “60% a 70% [de sua massa] caiu
em algum lugar [como chuva], foi bombeada de volta para a atmosfera por árvores
e caiu novamente”, explicou Verchot.
A superfície irregular de um
dossel florestal (rugosidade do dossel) também atenua os efeitos de
temperaturas mais quentes. A rugosidade do dossel leva ao aumento da
turbulência do ar, que redistribui o calor do solo da floresta para a
atmosfera. Segundo Coe, quando as áreas perdem a rugosidade da copa (como
ocorre quando são desmatadas), o resultado tem “um efeito de frigideira. Coloca
uma tampa na atmosfera que mantém o aquecimento local”.
As florestas normalmente têm albedo baixo e temperaturas mais altas, pois a vegetação densa absorve mais energia do que as pastagens ou o solo nu. O efeito de aquecimento do baixo albedo é superado nas florestas tropicais, no entanto, pela evapotranspiração e rugosidade do dossel, resultando em resfriamento durante todo o ano.
Resiliência Econômica e Social
Os efeitos combinados do
sequestro de carbono e controles biofísicos são “necessários para orientar as
decisões políticas que apoiam a mitigação do clima global, a adaptação local e
a conservação da biodiversidade”, escrevem os autores. Verchot disse que os
formuladores de políticas em países tropicais em particular “precisam olhar
para essas oportunidades [para a conservação florestal] e incorporá-las em seu
modelo de desenvolvimento”.
Para Mateo Estrada, líder
indígena Siriano e coordenador ambiental da Organização dos Povos Indígenas da
Amazônia Colombiana, a nova pesquisa ajuda a criar “espaços de diálogo onde
empresas, governos e moradores urbanos possam reconhecer a importância das
florestas para seu sucesso econômico e sobrevivência”. Por exemplo, Bogotá, uma
cidade com mais de 7 milhões de habitantes, pode perder cerca de 60% de suas
chuvas anuais se o desmatamento continuar na Amazônia.
As comunidades indígenas “estão protegendo grandes porções de florestas e têm um papel climático muito importante”, disse Coe. Estrada acredita que a melhor maneira de proteger as florestas tropicais é “resolver as necessidades das pessoas que vivem lá… precisamos de novas economias baseadas em nosso Conhecimento Tradicional”, citando a necessidade de proteger as tradições indígenas, proteger a biodiversidade genética da região por meio de patentes, e proteger o apoio ao turismo local e esforços de conservação.
Em todo o mundo, as florestas fornecem estabilização climática local, ao mesmo tempo em que sequestram dióxido de carbono. Proteger, expandir e melhorar a gestão desses ecossistemas – especialmente as florestas tropicais – é uma das melhores estratégias para mitigar e adaptar-se ao aquecimento global. “Essas florestas são um dos nossos maiores ativos; [eles são] uma das melhores maneiras de estabilizar o clima e ajudar a salvar vidas simplesmente não fazendo nada. Basta mantê-los no lugar”, concluiu Coe. (ecodebate)
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