Embora o impacto ambiental da
mineração de ouro seja bem conhecido, uma equipe liderada por pesquisadores da
USC Dornsife descobriu um culpado oculto por trás da lenta recuperação da
floresta amazônica: perda de água causada pela remodelação do terreno.
Principais conclusões:
• Cientistas descobriram que
a mineração de ouro em pequena escala na Amazônia peruana está destruindo a
camada superficial do solo e remodelando a terra de maneiras que esgotam a água
— um dos principais motivos pelos quais as florestas não voltar a crescer.
• O processo deixa para trás
pilhas de areia quente e seca e lagoas estagnadas. Esses montes de areia podem
atingir 60°C e drenar água até 100 vezes mais rápido do que o solo da floresta,
tornando o terreno inóspito para o crescimento das árvores.
• Locais próximos a lagoas ou
em altitudes mais baixas retêm mais umidade e mostram sinais de crescimento
natural, sugerindo que o acesso à água — não apenas a qualidade do solo —
desempenha um papel fundamental na recuperação florestal.
• Para melhorar o
reflorestamento, os pesquisadores recomendam achatar as pilhas de areia e
preencher os tanques de mineração para que as raízes das plantas possam
alcançar o lençol freático com mais facilidade.
As florestas da Amazônia peruana não estão se recuperando após a mineração de ouro — não apenas porque o solo está danificado por metais tóxicos, mas porque a terra foi esvaziada de água. Um método comum de mineração conhecido como mineração por sucção remodela o terreno de forma a drenar a umidade e reter o calor, criando condições adversas nas quais nem mesmo as mudas replantadas conseguem sobreviver.
As descobertas, publicadas na Communications Earth & Environment, revelaram por que os esforços de reflorestamento na região têm fracassado. Um dos coautores do estudo é Josh West, professor de Ciências da Terra e Estudos Ambientais na Faculdade de Letras, Artes e Ciências Dornsife da USC.
“Sabemos que a degradação do
solo retarda a recuperação florestal”, disse West, que também é Explorador da
National Geographic. “Mas isso é diferente. O processo de mineração seca a
terra, tornando-a inóspita para novas árvores”.
Mapeando uma paisagem
amazônica danificada
A equipe de pesquisa foi
liderada por Abra Atwood, cientista do Woodwell Climate Research Center e
ex-aluna de West, que obteve seu doutorado na USC Dornsife em 2023. Trabalhando
com colegas da Universidade de Columbia, da Universidade Estadual do Arizona e
da Universidad Nacional de San Antonio Abad del Cusco, no Peru, a equipe
estudou dois locais de mineração de ouro abandonados na região de Madre de
Dios, no Peru, perto das fronteiras do Brasil e da Bolívia.
Eles usaram drones, sensores de solo e imagens subterrâneas para entender como a mineração por sucção remodela a terra. A técnica, comumente usada em operações de pequena escala e, muitas vezes, familiares, desintegra o solo com canhões de água de alta pressão. O sedimento solto é canalizado por comportas que filtram as partículas de ouro, enquanto o material mais leve, incluindo a camada superficial do solo rica em nutrientes, é levado pela água. O que resta são lagoas estagnadas — algumas do tamanho de campos de futebol — e imponentes pilhas de areia de até 9 metros de altura.
Ao contrário da mineração de escavação, que é usada em outras partes da Amazônia e pode preservar parte da camada superficial do solo, a mineração de sucção deixa pouco para trás para sustentar o novo crescimento.
Para medir a umidade e a
estrutura do solo, os pesquisadores utilizaram imagens de resistividade
elétrica, uma técnica que monitora a facilidade com que a umidade se move pelo
solo. Eles descobriram que as pilhas de areia funcionam como peneiras; a água
da chuva escoa por elas até 100 vezes mais rápido do que em solo não
perturbado. Essas áreas também secam quase cinco vezes mais rápido após a
chuva, deixando pouca umidade disponível para novas raízes.
Para comparar as condições, a
equipe instalou sensores em vários locais — solos arenosos e argilosos, bordas
de lagoas e florestas intocadas — e descobriu que os locais desmatados eram
consistentemente mais quentes e secos. Em pilhas de areia expostas, as
temperaturas da superfície chegaram a 60°C. “É como tentar cultivar uma árvore
em um forno”, disse West.
Câmeras térmicas montadas em
drones mostraram como o solo árido assava sob o sol, enquanto áreas florestais
próximas e bordas de lagoas permaneciam significativamente mais frias.
“Quando as raízes não conseguem encontrar água e as temperaturas da superfície são escaldantes, até mesmo as mudas replantadas simplesmente morrem”, disse Atwood. “Isso explica em grande parte por que a regeneração é tão lenta”.
Salvando a Amazônia com melhores práticas
Embora a equipe tenha
observado algum crescimento perto das bordas dos lagos e em áreas baixas,
grandes extensões de terra permaneceram descobertas, especialmente onde há
grandes acúmulos de areia. Essas áreas, que ficam mais distantes do lençol
freático e perdem umidade rapidamente, são mais difíceis de reflorestar.
Entre 1980 e 2017, a
mineração de ouro em pequena escala destruiu mais de 95.000 hectares de
floresta tropical — uma área mais de sete vezes o tamanho de São Francisco — na
região de Madre de Dios. Na Reserva Nacional de Tambopata e arredores, as
operações continuam a se expandir, ameaçando tanto a biodiversidade quanto as terras indígenas. Em toda a
Amazônia, a mineração de ouro agora é responsável por quase 10% do
desmatamento.
“Só existe uma floresta
amazônica”, disse West. “É um sistema vivo diferente de tudo na Terra. Se a
perdermos, perderemos algo insubstituível”. (ecodebate)
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