Desperdício d’água é uma quantidade que seria suficiente para
abastecer mais de 63 milhões de brasileiros em um ano.
Volume sem utilização daria para levar o precioso líquido aos
quase 35 milhões de brasileiros que não têm acesso nem para lavar as mãos e
também atender, por quase 3 anos, aos mais de 13 milhões de brasileiros que
habitam em favelas.
Maiores desafios dos gestores públicos têm sido garantir acesso da
população à água potável. Números de 2019 mostram perda de 40%. Caso esse
índice venha a ser reduzido para 25% todas as favelas do país poderão receber o
precioso líquido por quase 3 anos.
O cálculo, divulgado em 31/05/2021, é resultado de um novo estudo
do Instituto Trata Brasil em parceria com a Associação Brasileira dos
Fabricantes de Materiais para Saneamento (Asfamas), elaborado pela Consultoria
GO Associados e denominado “Perdas de água potável (2021, base 2019: desafios
para a disponibilidade hídrica e ao avanço da eficiência do saneamento básico”.
O estudo foi feito a partir de dados públicos do Sistema Nacional
de Informações sobre Saneamento (Snis), base 2019, contemplando análise das 27
unidades federativas e das cinco regiões do país, bem como das cem maiores
cidades – os mesmos municípios do Ranking do Saneamento Básico.
É um cenário preocupante em plena pandemia da covid-19, pois se trata de acesso a recursos hídricos, elemento crucial para a população brasileira que se vê à mercê de precários índices referentes à água potável, somando-se a isso a ineficiência do setor de saneamento básico em relação aos índices de perdas do referido líquido.
A análise do estudo diz em um dos seus pontos: “Em pleno século 21, e no maior país da América Latina, o Brasil ainda registra grande ineficiência na distribuição da água potável pelas cidades. Quase 40% (39,2%) de toda água potável captada não chega de forma oficial as residências do país, o que representa um volume equivalente a 7,5 mil piscinas olímpicas de água tratada desperdiçada diariamente ou sete vezes o volume do Sistema Cantareira – maior conjunto de reservatórios para abastecimento do Estado de São Paulo. Mesmo considerando apenas os 60% deste volume que são de perdas físicas (vazamentos), estamos falando de uma quantidade suficiente para abastecer mais de 63 milhões de brasileiros em um ano, equivalente a 30% da população brasileira em 2019. Esse volume seria, portanto, mais que suficiente para levar água aos quase 35 milhões de brasileiros que até hoje não possuem acesso nem para lavar as mãos em plena pandemia. Poderia também atender, por quase três anos, aos mais de 13 milhões de brasileiros que habitam em favelas”.
“O documento prossegue: Além de atender a este enorme contingente
de brasileiros, no que se refere ao impacto ambiental, o volume de água que
poderia ser economizado da natureza certamente ajudaria a manter mais cheios os
rios e reservatórios espalhados pelo país. Como é de conhecimento de todos, em
várias localidades brasileiras estamos vivendo escassez de chuvas e, de acordo
com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a precipitação deste ano
pode ser o menor dos últimos 91 anos colocando em risco os reservatórios de
água para abastecimento, mas também os voltados à geração de energia elétrica.
Uma redução dos atuais 40% de Índice Perdas de Faturamento Total
para índices próximos a 25%, meta prevista pela Portaria Nº 490 do Ministério
do Desenvolvimento Regional, permitiria a economia de um volume da ordem de 2,2
bilhões de m³. “Significa que, mesmo se conseguirmos uma redução não tão
ambiciosa nas perdas de água, já seria volume suficiente para atender a
aproximadamente 39 milhões de brasileiros num ano – número equivalente aos
brasileiros historicamente sem acesso”.
Com base no índice de Perdas na Distribuição (IPD), podemos
observar que desde 2015 o país vem piorando. De 2015 a 2019 houve um aumento de
2,5 p.p., muito significativo, uma vez que deveria ter baixado, foi o que
revelou o estudo.
Evolução do IPD de 2015 A 2019
SNIS 2019 – Elaboração GO Associados
O estudo também apontou que os indicadores de perdas de água por região não diferem de outros indicadores de acesso ao saneamento quando olhamos regionalmente. A região norte do país, detentora dos piores índices de saneamento, também é onde se registra o maior IPD, com 55,2%, isto é, a região perde mais da metade da água potável produzida. Não muito atrás, a região Nordeste também aponta indicador alto, com 45,7%.
SNIS 2019 – Elaboração GO Associados
Também foi objeto de investigação do estudo o Indicador de Perda
por Ligação. Normalmente, esse indicador nos dá uma análise mais minuciosa da
quantidade de litros de água perdida por ligação/dia. No entanto, ele não é
necessariamente comparável entre regiões, uma vez que tende a aumentar quanto
maior for o volume de água produzido ou quão maior for a taxa de ocupação das
residências (número de habitantes por ligação). Por esta razão é importante
olhar o conjunto de indicadores das regiões para melhor compreender a real
situação das perdas.
Índice de perdas de ligação (2019) por regiões
SNIS 2019 – Elaboração GO Associados
Vê-se que o índice de perdas da região Centro-Oeste apresenta o
melhor desempenho; a região Norte, o pior. As três demais regiões, bem como o
Brasil inteiro, apresentaram índices que oscilam entre 300-350 l/ligação/dia.
Com relação à evolução do indicador de perdas na distribuição, a
região que mais apresentou piora no período 2015-2019 foi o Norte com aumento
de 0,09%. Novamente uma melhora na região Centro-Oeste, com redução de 0,01%
nos anos avaliados.
Índice de perdas na distribuição de 2015 a 2019 por regiões
SNIS 2019 – Elaboração GO Associados
O estudo também abordou os indicadores de perdas de água por
estados. Foram analisados dois indicadores, Índice de Perdas na Distribuição e
Índice de Perdas por Ligação. Observa-se que o estado de Goiás foi o que
apresentou a menor perda, e o Amapá, a maior. 15 unidades da federação
apresentam indicadores piores que a média nacional, o que é muito ruim,
considerando que a média do Brasil já é preocupante.
Índice de perda na distribuição (%) nas UFs (2019)
SNIS 2019 – Elaboração GO Associados
Esta posição que o Amapá ocupa em último lugar no Ranking no
Índice de Perda na Distribuição de Água entre as unidades federativas já foi
objeto de análise em março/2018 no artigo “A solução da água no Amapá pode vir
da redução das perdas”. Nele abordei sobre o abastecimento de água no estado e
as perdas que ocorriam no processo de abastecimento por meio de redes de
distribuição. Naquele ano as perdas chegavam a 70%, ou seja, a cada dez litros
produzidos sete ficavam pelo meio do caminho. Como constatamos em 2019, um ano
depois, passou para 74%.
Neste contexto, o estudo destaca os ganhos econômicos com a
redução das perdas de água potável. Para isso, foram definidos na média
nacional três cenários a serem alcançado em 2034, que são: 15% (otimista), 25%
(realista), 35% (pessimista). É importante destacar que mesmo a primeira dessas
metas ainda se situa acima de índices já alcançados por países como Estados
Unidos e Austrália, ou municípios como Nova Iorque, Toronto, Tóquio, Copenhague
e Cingapura. Portanto, entende-se que, embora bastante desafiador, é possível
alcançar indicadores iguais ou inferiores a 15%. Exceto pelo cenário pessimista
tais objetivos são mais ambiciosos do que o estabelecido pelo Plano Nacional de
Saneamento (Plansab) em 2013, que previa um índice de perdas de 31% em 2033. Já
o cenário realista tido como base foi estabelecido pela Portaria Nº 490 de 2021
do Ministério de Desenvolvimento Regional – MDR.
Sumário do impacto da redução de perdas
SNIS 2019 – Elaboração GO Associados
Para Édison Carlos, presidente executivo do instituto responsável
pela pesquisa, “O Trata Brasil já há alguns anos estuda a situação das perdas
de água potável e estamos cada vez mais preocupados, pois os números só pioram.
Ao não atacar o problema, as empresas operadoras de água e esgotos precisam
buscar 1ª publicação mais água na natureza, não para atender mais pessoas, mas para
compensar a ineficiência. Em momentos de pandemia e pouca chuva, isso cobra um
preço altíssimo à sociedade”.
Portanto, os gestores públicos vivem momentos desafiadores com relação ao abastecimento de água potável. Pois, se a água é um bem essencial, a falta dela terá impactos sociais, econômicos e ambientais. Quanto mais pessoas, há mais consumo de água. Desta forma, daqui a uns anos, o aumento da população sinaliza uma crise hídrica grave. Como vimos, a água má distribuída gera perdas na distribuição e na ligação.
A região Norte, mais rica em água, é a que possui os piores indicadores de abastecimento. Então, faz-se necessário um grande investimento na ampliação de abastecimento de água, principalmente em tecnologias visando reduzir as perdas que são muitos significativas. (ecodebate)
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