Ondas de calor como as vistas
em julho de 2022, as inundações letais e os eventos climáticos extremos são
apenas o começo da crise climática.
“Os humanos serão despachados
da terra por mau comportamento” - Ailton Krenak.
Julho/2022 foi um dos seis
julhos mais quentes já registrados, acima da média do século XX, em 143 anos.
Os cinco meses de julho mais quentes já registrados ocorreram todos após 2016, conforme
mostrado no gráfico abaixo, da NASA. De fato, é uma péssima notícia, pois não
se esperava uma temperatura tão alta em um ano marcado pela presença do
fenômeno natural La Niña.
O mês de julho foi marcado
por grandes desastres climáticos no mundo, como queimadas na Europa e nos EUA,
enchentes nos EUA, China, Brasil e Seul da Coreia do Sul. Recordes de
temperatura no Canadá, com os termômetros marcando 49,5º C e a morte de 134
pessoas em Vancouver em decorrência da onda letal de calor. As secas estão
afetando a produção agrícola e a navegabilidade dos rios na Europa e em outras
partes do mundo.
Os registros se multiplicam.
Segundo relatório do Escritório da ONU para Redução de Riscos de Desastres
(UNDRR), foram registrados cerca de 100 desastres médios e grandes na década de
1970, passando para algo entre 350 e 500 atualmente, com custos de US$ 170
bilhões em média por ano. Nas projeções do relatório, os desastres podem
aumentar para 560 por ano até 2030, ou seja, cerca de 1,5 por dia. Além dos
danos econômicos são milhões de vítimas todos os anos. O mundo está ficando
perigoso e hostil.
O mais novo livro “Hothouse Earth: An Inhabitant’s Guide”, do professor de ciências da Terra da University College London, Bill McGuire argumenta que, depois de anos ignorando os avisos dos cientistas, é tarde demais para evitar os impactos catastróficos das mudanças climáticas. Ele diz que já é um mundo diferente lá fora e em breve será irreconhecível para todos nós, pois o colapso total do clima se tornou inevitável. Muitos cientistas climáticos, disse ele, estão mais assustados com o futuro do que estão dispostos a admitir em público.
Capa de “Hothouse Earth: An Inhabitant’s Guide”.
McGuire
chama a relutância da maioria dos cientistas em participar de ações civis
contra os promotores da crise climática de “apaziguamento climático” e diz que
isso só piora as coisas. Por isto é tão importante a participação de ativistas
como Greta Thunberg, que no Fórum Econômico de Davos, em 21/01/2020, disse:
“Nossa casa ainda está pegando fogo. Sua inação está alimentando as chamas a
cada hora. Ainda estamos dizendo para vocês entrarem em pânico e agir como se
vocês amassem seus filhos acima de tudo”.
Assim,
ondas de calor como as vistas em julho/2022, as inundações letais e os eventos
climáticos extremos são apenas o começo da crise climática.
Segundo
McGuire, a mudança climática severa é agora inevitável e irreversível.
Evidentemente, é preciso agir para tentar impedir que as condições materiais se
deteriorem ainda mais e também há necessidade de tomar medidas para a adaptação
climática.
Por exemplo, a extensão do gelo marinho da Antártida tem atingido os menores valores em 2022 e o degelo em junho e julho/22 foram recordes históricos, como mostra a figura abaixo. Quanto maior for o degelo maior será a elevação do nível dos oceanos, o que ameaça mais de 1 bilhão de pessoas que moram em áreas costeiras. No longo prazo, os efeitos do degelo dos polos, Groenlândia e glaciares tende a ser totalmente catastrófico se a temperatura ultrapassar em muito os 2ºC.
O fato é que quanto mais tempo ignoramos os avisos explícitos de que o aumento das emissões de carbono está aquecendo perigosamente a Terra, maior será o preço a pagar. E o que surpreende na tendência ao colapso climático é a velocidade com que a temperatura média global aumenta e se traduz em clima extremo. Porém, por mais sombrio que seja o cenário climático, isto não deve inibir as ações para mitigar o aquecimento global para impedir que um futuro angustiante se torne ainda mais verdadeiramente cataclísmico. (ecodebate)
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