Os EUA são um dos poucos países
desenvolvidos do mundo que deve continuar apresentando crescimento demográfico
ao longo do século XXI.
A expectativa de vida ao nascer, que era alta em meados do século passado (quase 70 anos), cresceu nos anos seguintes, embora não tenha alcançado o patamar de 80 anos como tantos outros países desenvolvidos. Durante a pandemia da covid-19 houve uma queda da expectativa de vida, mas as projeções da Divisão de População da ONU indicam uma expectativa de vida ao nascer, para ambos os sexos, de cerca de 90 anos em 2100 (como mostra o gráfico abaixo, painel da direita).
A consequência da queda da fecundidade e do aumento da expectativa de vida é a mudança na estrutura etária, com a diminuição dos grupos jovens e o aumento da proporção dos grupos mais idosos. O gráfico abaixo (da esquerda) mostra a população de 0 a 14 anos dos EUA de 1950 a 2100. A população de crianças e adolescentes cresceu durante o baby boom, diminuiu durante o baby bust e voltou a aumentar após 1990. Porém, a partir de 2020 vai apresentar um ligeiro declínio no restante do século. Já o número de idosos (gráfico da direita) tem crescido continuamente, passando de menos de 20 milhões em meados do século para 90 milhões em 2022 e deve chegar a 140 milhões de pessoas com 60 anos e mais em 2100.
Esta mudança da estrutura etária, provocada pelo avanço da transição demográfica (queda nas taxas de mortalidade e natalidade) se expressa na transformação da pirâmide populacional, estreitando a base e alargando o topo entre 1950 e 2100, conforme mostrado nos gráficos abaixo. A pirâmide etária dos EUA de 1950 tinha um estreitamento da base em função da queda da fecundidade durante a grande recessão dos anos de 1930 e durante o período da guerra. Mas a base voltou a se alargar durante o início do baby boom. A pirâmide de 2022 mostra uma alta proporção de pessoas em idade ativa. No restante do século a pirâmide norte-americana vai ter um alargamento do topo, mas não terá uma redução tão forte da base devido à imigração que deve ser um fator de manutenção do crescimento demográfico, mesmo que em ritmo mais lento.
Os EUA são um dos poucos países desenvolvidos do mundo que deve continuar apresentando crescimento demográfico ao longo do século XXI, a despeito de ter taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição. O gráfico abaixo mostra o número de nascimentos menos o número de morte e o número líquido de imigrantes entre 1950 e 2100. Nota-se, que o principal componente do crescimento anual no século XX se deveu ao alto número de nascimentos e ao baixo número de mortes. Mas no século XXI, o número de nascimentos começou a cair e o número de óbitos aumentou muito (devido a uma estrutura etária mais envelhecida). Em 2043, o crescimento vegetativo (nascimento – mortes) se tornará negativo, mas o crescimento demográfico continuará em função da entrada líquida anual de 1 milhão de imigrantes.
A razão de dependência dos EUA caiu antes da Segunda Guerra, subiu no pós-Guerra, voltou a cair entre 1970 e 2010 e iniciou uma fase e aumento que deve continuar até 2100, conforme mostra o gráfico abaixo. Na década de 1960, existiam 80 pessoas consideradas dependentes para cada 100 pessoas em idade produtiva. Esta razão caiu para cerca de 60 e já iniciou um aumento desde 2010 e deve atingir 100 dependentes para cada 100 pessoas em idade ativa no final do atual século. Portanto, a fase áurea do 1º bônus demográfico já passou nos EUA.
Os EUA possuem uma das economias mais ricas do mundo, com elevada renda per capita. Mas o PIB americano representava mais de 20% do PIB global e esta participação vem caindo desde a década de 1980, chegando a cerca de 15% atualmente, conforme mostra o gráfico abaixo (lado esquerdo). Em dólares correntes a economia dos EUA é a maior do mundo, mas perde o posto de liderança para a China quando se leva em consideração o poder de paridade de compra (ppp na sigla em inglês).
Renda per capita dos EUA (em preços correntes em poder de paridade de compra) era acima de US$ 10 mil em 1980, mais do que o dobro da renda per capita mundial. 2022 a renda per capita americana chegou a US$ 76 mil, contra US$ 20 mil da renda média mundial. Para 2026, estima-se uma renda de US$ 87 mil nos EUA e de US$ 24 mil no mundo, conforme mostra o gráfico (lado direito).
O alto crescimento demoeconômico dos EUA nos últimos 200 anos gerou grande impacto ambiental. Segundo o Instituto Global Footprint Network, em 1961, os EUA tinham uma Pegada Ecológica per capita de 7,99 hectares globais (gha) e uma Biocapacidade per capita de 4,98 gha. Portanto já havia um elevado déficit ambiental. Mas com a continuidade do crescimento demográfico e econômico a Pegada Ecológica per capita passou para 8,12 gha para uma Biocapacidade de 3,39 gha em 2018. Assim, o déficit ecológico per capita passou para 4,73 gha, o que representa um déficit relativo de 140%, conforme mostra a figura abaixo. Em termos absolutos os EUA têm uma Pegada Ecológica de 2,7 bilhões de gha (ficando atrás apenas da China).
Historicamente, os EUA são os responsáveis pela maior quantidade de emissão de gases de efeito estufa, embora tenham sidos ultrapassados pela China nas emissões correntes. São também um dos países que apresentam uma grande Pegada Ecológica per capita. Neste sentido, o crescimento demoeconômico ao longo do século XXI será um fator de aumento da degradação ecológica, enquanto a China vai ter uma grande redução no tamanho da população. O presidente, Joe Biden, conseguiu uma vitória, agora em agosto de 22, ao aprovar no Congresso um pacote de investimentos para a mitigação da crise climática. A nova lei prevê cortar emissões de gases de efeito estufa, até o final da década, para um nível 40% abaixo do patamar de 2005. Evidentemente é um passo importante, mas ainda existe uma longa caminhada para o país zerar as emissões líquidas até 2050.
O mundo tem sofrido com os eventos climáticos extremos, como secas, enchentes, queimadas, furacões e ondas letais de calor. O acúmulo e a simultaneidade das crises ambientais, energéticas e alimentares – provocadas pelo crescimento desregrado e insustentável das atividades antrópicas – podem se transformar em um gatilho para acelerar a “espiral de autodestruição”. Estados Unidos, que já estão enfrentando secas, inundações e queimadas, não ficarão livres das consequências mais graves da crise climática e ambiental.
O crescimento da população mundial até 2100. (ecodebate)
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