A Amazônia brasileira é
tema-chave nas negociações para o enfrentamento da crise climática global na
COP27, a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Dados do SEEG (Sistema de
Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa) mostram que o
bioma concentra 77% das emissões por mudança de uso da terra no Brasil,
ligadas, principalmente, ao desmatamento e ao fogo associado, tendo emitido 911
milhões de toneladas de gases do efeito estufa em 2021. Pesquisadoras no IPAM
(Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) destacam que tais fatores apontam
as prioridades para o fortalecimento de políticas socioambientais no país.
“O dado indica um caminho claro para a redução de emissões de gases do efeito estufa no Brasil. Temos que acabar com as emissões provenientes do desmatamento. Se não combatermos a derrubada das florestas, principalmente na Amazônia, todas as outras estratégias de mitigação nacionais serão em vão”, avalia Bárbara Zimbres, pesquisadora no IPAM e responsável pelo cálculo de emissões de gases do efeito estufa por mudanças de uso da terra no Brasil do SEEG.
Emissões amazônicas
Análise do IPAM apresentada
na COP27 calcula que Pará, Amazonas e Mato Grosso são os estados amazônicos que
mais emitiram gases do efeito estufa em 2021: foram 640 milhões de toneladas de
carbono equivalente, ou 70% das emissões brutas por mudanças de uso da terra da
região. A medida do carbono equivalente representa a soma do efeito
superaquecedor de todos os tipos de gases do efeito estufa na atmosfera. Já os
maiores aumentos de emissões entre os estados da Amazônia, de 2020 para 2021,
ocorreram em Amapá (266%), Tocantins (185%), Roraima (124%) e Maranhão (114%).
Por conta da fumaça de
queimadas associadas ao desmatamento, a aldeia Afukuri, no Território Indígena
do Xingu, sudoeste da Amazônia, registrou uma qualidade do ar 53 vezes pior do
que o indicado como aceitável pela OMS (Organização Mundial da Saúde) na
segunda quinzena de setembro deste ano. O povo Kuikuro ficou exposto 17 horas
por dia à concentração de 795 microgramas de material particulado de fumaça de
queimadas e poluentes, por cada metro cúbico de ar. A recomendação
internacional estabelece esse limite até 15 μg/m³ para não prejudicar a saúde.
No total, o bioma Amazônia
teve alta de 17% nas emissões brutas entre 2020 e 2021. De 2017 para 2022,
chega a 65% o crescimento das emissões brutas da Amazônia brasileira. As
emissões brutas são o resultado de tudo o que é emitido, sem considerar os
gases de efeito estufa que são removidos da atmosfera pela vegetação nativa ou
regenerada em áreas protegidas como as unidades de conservação e as terras
indígenas.
“A COP27 é uma oportunidade para chamarmos a atenção do mundo à situação de ameaça em que se encontra hoje a maior floresta tropical do planeta e ao que podemos fazer efetivamente para reduzir de forma imediata as emissões que provocam o superaquecimento global”, comenta Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo.
Maior alta em 19 anos
Dados divulgados pelo SEEG no início de novembro revelaram o maior aumento em 19 anos das emissões no Brasil. Em 2021, o país emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de carbono equivalente – um aumento de 12,2% comparado ao ano anterior, em que foram emitidas 2,16 bilhões de toneladas. Todos os biomas tiveram mais emissões causadas por desmatamento, com expressividade na Mata Atlântica (65%), seguida pela Amazônia (17%) e pelo Pantanal (15%). No Cerrado o aumento foi de 4%, na Caatinga e no Pampa, de 3%.
O Brasil está entre os maiores poluidores do mundo: é o 4° que mais emitiu gases do efeito estufa desde 1850. O comprometimento e atuação do país em metas climáticas mais ambiciosas são vistos pela comunidade científica como fundamentais para cumprir o Acordo de Paris, firmado em 2015 por 196 países, e limitar o aumento da temperatura média do planeta em 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
Eventos climáticos extremos na história recente refletem o superaquecimento global que está em 1,1°C. De acordo com relatório das Nações Unidas, com a falta de progresso e a implementação somente das metas atuais, o planeta está a caminho de uma elevação de até 2,8°C. Um aumento de 2°C teria como consequência global até 14 vezes mais ondas de calor e 70% mais secas, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).
Além do setor de mudanças de uso da terra, o SEEG calcula as emissões brasileiras por agropecuária, energia, processos industriais e resíduos (sólidos e líquidos, provenientes do processo de tratamento de lixo, por exemplo). Praticamente todos os setores tiveram alta: 3,8% na agropecuária; 12,2% no setor de energia, a maior alta desde 1973; e 8,2% no setor de processos industriais e uso de produtos. O setor de resíduos foi o único com emissões estáveis de 2020 para 2021. Os números podem ser acessados no site da iniciativa. (ecodebate)
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