O trabalho é um estudo da Universidade de Chicago, que, independentemente do aquecimento global, buscou responder por que a região austral do globo é mais propensa a temporais. Ao compilar dados de indicadores climáticos e rodar simulações de computador, os cientistas concluíram que é principalmente a configuração do relevo da região que influencia as diferenças, e o posicionamento dos Andes e de outras cadeias montanhosas modifica o fluxo de ar no planeta, o que prejudica o Hemisfério Sul.
Colhendo tempestades
A pior notícia embutida na
pesquisa, publicada pela PNAS, a revista da Academia Nacional
de Ciências dos EUA, vem dos modelos matemáticos que os cientistas criaram para
projetar o clima futuro, levando em consideração o conhecimento que produziram.
“Nós projetamos que o
Hemisfério Sul vai se tornar ainda mais tempestuoso”, escreveram os cientistas,
liderados pela climatóloga Tiffany Shaw. “No Hemisfério Norte, as mudanças na
ocorrência de tempestades são abafadas por causa de um ‘cabo de guerra’ entre
as mudanças climáticas tropical e polar”.
Os cientistas explicam que as
mudanças de radiação solar passando pelo topo da atmosfera que ocorrem pela
perda de gelo e neve perto dos polos têm efeitos distintos nos dois
hemisférios. No Norte, a interação entre esses fatores inibe a formação de
tempestades. No Sul há uma intensificação.
Analisando o território
nacional neste fim de ano, é difícil ignorar a chegada de eventos extremos de
chuva ao Brasil.
Na cidade de São Paulo, em 7 dias choveu metade do volume esperado para o mês. Sinal de que, independentemente da mudança na média, a precipitação está se concentrando em um período menor. Deslizamentos de terra como consequência das chuvas são muitos. No Norte Fluminense, os eventos mataram 3 pessoas no início do mês. Em Santa Catarina, foram 7 mortes. No Paraná, uma encosta de terra que desabou sobre a BR-376 matou 2 homens soterrados e bloqueou a estrada por 9 dias.
Sistema interligado
Isoladas, essas tragédias não
podem ser atribuídas diretamente à mudança do clima. Mas avaliadas em conjunto,
e com o volume de chuva nesses lugares sendo computado, os dados alimentam as
observações e projeções dos cientistas climáticos.
Como o clima está interligado
em todo o globo, fenômenos aparentemente desconexos podem ter grande influência
um sobre o outro. No caso do estudo de Shaw, um dos fatores que mais
influenciam a frequência de tempestades nos trópicos é o aquecimento das águas
do Oceano Austral, a grande massa de água que rodeia a Antártida.
As duas regiões polares do
planeta diferem em geografia, sobretudo pela posição de seus mares. Enquanto no
Polo Sul há uma massa de terra cercada de água (a Antártida), no Polo Norte á
uma massa de água cercada de terra (o Oceano Ártico). E essa distinção
influencia muito a dinâmica do clima.
“Nós mostramos que o aumento
recente na propensão a tempestades no Hemisfério Sul está conectada ao
transporte de energia no Oceano Austral”, escrevem os cientistas. “Essas
mudanças observadas são consistentes, de modo qualitativo, com modelos de
projeção futura do clima.”
Como o aquecimento do Oceano Austral exerce sua influência em todas as direções, não surpreende que o Brasil, o maior país do Hemisfério Sul em extensão territorial, esteja entre aqueles que devem sentir as mudanças mais intensamente.
Hemisfério sul tem mais tempestades que o norte.
Ciência local
As pesquisas de escopo mais
local publicadas recentemente estão corroborando as análises globais.
Um estudo dos climatólogos da
UFRJ Wanderson Silva e Antonio Carlos Oscar Jr., publicado em junho na revista
científica Natural Hazards, mostra como os extremos de chuva estão se fazendo
sentir no Rio de Janeiro.
1ª publicação “Olhando para tendências, existe um aumento do
acúmulo de precipitação extrema em várias estações meteorológica perto do
oceano”, escrevem os cientistas no estudo da UFRJ. “O extremo de chuva em
períodos de 24 horas exibe um aumento na maior parte do Rio de Janeiro, crescendo
de 1 mm a 5 mm por década”.
A observação dos cientistas é
preocupante porque a maior parte do território fluminense registra uma
intensidade de precipitação diária de cerca de 13 mm.
Um estudo que avaliou a
tendência em eventos extremos de chuva no Paraná, também publicado neste ano, é
outro que deu sinais preocupantes. O trabalho usou dados de estações
meteorológicas dos municípios de Curitiba, Castro e Paranaguá.
“Uma tendência significativa de aumento foi observada, especialmente em Curitiba, uma condição que está associada ao aumento expressivo e significante de indicadores de temperatura do ar no clima”, escreveram pesquisadores liderados pelo cientista Paulo Miguel Terassi, do Instituto Tecnológico Vale, na revista Urban Hazards.
Drama nacional
Há fortes indícios de que os
extremos de chuva vão se tornar mais frequentes em outros estados brasileiros.
Um estudo da Universidade de Viçosa/MG comparou dados históricos sobre a
frequência de chuvas extremas no país de 1980 a 2015 com previsões feitas para
o período de 2020 a 2100.
“A análise de projeções
climáticas futuras indica um aumento nos níveis de retorno de precipitação
extrema comparados com o mesmo período histórico em pelo menos 90% do
território nacional”, escreveram os cientistas, liderados por Bianca Cortez, na
revista Hydrological Sciences Journal.
Se a infraestrutura do país
para lidar com as chuvas já não conseguiu dar conta de muitos desastres no
passado, o futuro não é otimista.
“Ele mostra que projetos de engenharia precisam urgentemente considerar a essência ‘não estacionária’ dos extremos de precipitação, sob o risco de uma infraestrutura cada vez mais insegura”, afirma a pesquisadora.
'Rio voador' leva umidade da Amazônia até o sul do país.
Um fenômeno potencializa o
outro, formando um terceiro - a chamada zona de convergência do Atlântico Sul,
que é recorrente durante o verão nesta região do planeta e provoca fortes
chuvas.
'Rio voador', o fenômeno que
ajuda a explicar as tempestades de verão no Brasil.
Tempestades provocaram deslizamentos e mortes em São Paulo.
Tempestade na Zona Leste de São Paulo/SP em novembro/22, em 7 dias, choveu metade do volume esperado para dezembro/22.
Mudanças climáticas: Previsão
de Hemisfério Sul com mais tempestades já afeta o Brasil.
Estudo da Universidade de Chicago conclui que a configuração do relevo, o posicionamento dos Andes e de outras cadeias montanhosas modificam o fluxo de ar no planeta e prejudica a região. (biodieselbr)
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