O ano de 2023 marca uma data
histórica na demografia mundial. Pela primeira vez em milhares de anos, a China
deixará de ser o país mais populoso do mundo, pois será superado pela Índia em
número de habitantes.
Nas projeções da Divisão de
População da ONU, a população da China era de 1.425.887.000 habitantes em 2022,
caiu ligeiramente para 1.425.671.000 em 2023 e deve apresentar grande queda
para 766,7 milhões de habitantes em 2100. Nas mesmas datas, os números
correspondentes da Índia são respectivamente: 1.417.173.000 habitantes,
1.428.628.000 habitantes e 1.529.850.000. Portanto a China vai perder 659
milhões de habitantes entre 2022 e 2100 e a Índia vai ganhar 113 milhões de
habitantes no período dos próximos 87 anos.
Existem analistas que
consideram que a situação demográfica da Índia é bem melhor do que a da China,
pois uma terá uma população maior no final do atual século, enquanto a outra
terá uma população bem menor. Mas há outros analistas que enxergam exatamente
ao contrário, prevendo uma situação de colapso ambiental na Índia, enquanto a
China terá a oportunidade de garantir a prosperidade social e ambiental com uma
população menor (se bem que 767 milhões de habitantes não seja um número
pequeno).
O gráfico abaixo (painel da
esquerda) mostra as diversas estimativas de decrescimento da população total da
China. No painel da direita, mostra as diversas estimativas para a redução da
população em idade ativa (PIA de 15 a 59 anos) da China, que deve passar de
quase 1 bilhão de pessoas na década de 2010 para menos de 400 milhões de
pessoas em 2100.
Portanto, haverá uma grande
redução na oferta da força de trabalho chinesa. Porém, a produção per capita
poderá crescer com base na robotização, informatização e do avanço da
infraestrutura nacional e da produtividade da mão de obra. Ou seja, com uma
população menor e com melhores níveis educacionais a economia da China pode ser
tornar mais saudável e mais rica.
A China poderá ser uma potência econômica e social aproveitando o 1º bônus demográfico (bônus da estrutura etária), o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade).
O fato é que com altas taxas de investimento e a redução da população da China, a disponibilidade de capital por habitante será muito maior ao longo do século. Isto deve incrementar a produtividade por trabalhador e aumentar a renda per capita, mesmo se houver um decrescimento lento do PIB, como mostrei no artigo “Decrescimento demoeconômico com elevação da prosperidade social e ambiental” (Alves, 2023).
Portanto, o colapso
demográfico é um mito propagado pela ideologia pronatalista, antropocêntrica e
ecocida. O crescimento demográfico infinito é impossível de ocorrer em um
Planeta finito. Um dia o crescimento tem que chegar ao fim. Como mostrou Edward
Abbey (1927-1989): “Crescimento pelo crescimento é a ideologia da célula
cancerosa”.
Evidentemente, o
decrescimento demográfico traz desafios e oportunidades. O maior desafio
decorre do envelhecimento populacional e do aumento da razão de dependência
demográfica. Mas com o aumento da produtividade da força de trabalho (2º bônus
demográfico) e a maior inserção da população idosa no processo produtivo (3º
bônus demográfico) pode existir prosperidade social na China e o gigante
asiático pode se tornar um exemplo para o mundo.
Concomitantemente ao decrescimento demográfico pode haver um florescimento do meio ambiente, com menor Pegada Ecológica e incrementos na Biocapacidade do país. É o que Jon Austen chama de “depopulation dividend” (19/01/2023).
Transição urbana e demográfica na trajetória chinesa da pobreza à prosperidade.
A China é o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, além de grande consumidor de serviços ecossistêmicos, gerando grande degradação ecológica. Com uma população menor, com avanços na produção mais sustentável e com o fim do crescimento desregrado do PIB, a China poderá dar uma grande contribuição para o mundo na proteção da natureza, evitando um colapso ambiental global cada vez mais provável no ritmo atual. (ecodebate)
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