“Nosso mundo está em uma
encruzilhada e nosso planeta está na mira. Estamos chegando a um ponto, sem
retorno, de ultrapassar o limite acordado internacionalmente de 1,5ºC de aquecimento
global”. - António Guterres, 2023
O aquecimento global é uma
grande ameaça existencial à humanidade e precisa ser controlado, como já
alertado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Mas
há muita curiosidade e preocupação sobre o limite “mágico” de 1,5ºC da
temperatura global. Qual é o horizonte temporal do limite mínimo estabelecido
no Acordo de Paris?
Para responder a essa
pergunta precisamos saber se o limite de 1,5ºC é mensal, anual, decenal ou
outro período de referência. O site do Copernicus Climate Change Service mostra
que o limite de 1,5ºC já foi atingido nos meses de fevereiro e março/2016.
Contudo, a temperatura do ano de 2016 (período de 12 meses) ficou em 1,25°C
acima do período pré-industrial, tendo como base as décadas de 1850-1900. Em
fevereiro/2023, a temperatura global ficou em 1,21ºC acima do período
pré-industrial. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a marca de
1,5ºC pode ser atingida até 2025.
Contudo, se considerarmos a média da tendência de 30 anos, o patamar de 1,5ºC poderá ser atingido até abril/2035 e o patamar de 2ºC até 2060, conforme mostra o gráfico abaixo. Os anos de 2021 e 2022 foram menos quentes do que 2016 e 2020 em função do fenômeno La Niña, que esfriou as águas do oceano Pacífico nos últimos 2 anos.
Mas há grande probabilidade do ressurgimento do fenômeno El Niño, que aquece as águas do Pacífico e acelera o aquecimento global, aumentando a inclinação da reta de tendência de longo prazo. A Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA) anunciou em meados de março/2023 que o fenômeno La Niña chegou ao fim e destacou a possibilidade de volta do El Niño. É provável que o El Niño ocorra durante o pico da temporada de furacões no hemisfério norte – agosto, setembro e outubro (ASO) – voltando a atuar pela primeira vez em 5 anos.
O provável retorno do El Niño
levanta o alerta sobre como ele pode acelerar o aquecimento global e causar
eventos climáticos extremos. Últimos grandes episódios do El Niño foram em 1998
e 2015/2016, o que elevou as temperaturas médias globais a recordes e
contribuiu para a perda devastadora de florestas tropicais, branqueamento de
corais, derretimento do gelo polar e incêndios florestais.
Mesmo sem os efeitos do fenômeno El Niño, tudo indica que o mês de março/2023 apresentará temperatura alguma coisa próxima de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial, pois diversas áreas do Planeta registram temperaturas acima da média, sendo que em enormes regiões do globo a temperatura está muitíssimo acima do normal com ondas de calor em pleno inverno astronômico em países do Hemisfério Norte, conforme mostra o mapa abaixo do MetSul. O Brasil está em uma situação neutra e o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com maior anomalia de calor em março/2023.
Sem dúvida, a humanidade continua na autoestrada do inferno climático, como disse o Secretário-geral da ONU, António Guterres. Perguntei ao Chat GPT quais as consequências de o mundo ultrapassar o limite de 1,5°C da temperatura global? Segue a resposta, que pode não ser completa, mas é suficientemente direta para mostrar o enorme perigo que a humanidade enfrenta:
“Se o mundo ultrapassar o
limite da temperatura global de 1,5°C, podemos esperar consequências
significativas em muitas áreas da vida humana e do meio ambiente, incluindo:
• Aumento do nível do mar: À
medida que as temperaturas globais aumentam, os mantos de gelo polares
derretem, o que aumenta o nível do mar e pode inundar áreas costeiras.
• Eventos climáticos extremos:
O aquecimento global pode aumentar a frequência e intensidade de eventos
climáticos extremos, como ondas de calor, secas, inundações e tempestades, o
que pode ter um impacto significativo na agricultura, na biodiversidade e em
comunidades inteiras.
• Escassez de água: O
aquecimento global pode afetar a disponibilidade de água doce em todo o mundo,
uma vez que as mudanças climáticas alteram os padrões de chuva e aumentam a
evaporação. Isso pode levar a escassez de água em muitas regiões, exacerbando conflitos
sobre recursos naturais.
• Perda de biodiversidade: O
aumento da temperatura global pode alterar os habitats naturais, levando à
perda de espécies animais e vegetais. Isso pode ter um efeito cascata na cadeia
alimentar e afetar a produção de alimentos.
• Problemas de saúde: O
aumento da temperatura pode levar a um aumento das doenças transmitidas por
vetores, como malária e dengue, bem como doenças respiratórias devido à
poluição do ar.
• Deslocamento de populações:
Com o aumento do nível do mar e a intensificação de eventos climáticos
extremos, milhões de pessoas podem ser forçadas a deixar suas casas e
comunidades em busca de abrigo seguro e recursos básicos.
Essas são apenas algumas das consequências possíveis do aquecimento global acima do limite de 1,5°C. “É importante lembrar que os efeitos do aquecimento global não são isolados e podem interagir e se amplificar, tornando o cenário futuro ainda mais imprevisível”.
Portanto, a janela de oportunidade para limitar o aquecimento global a níveis relativamente seguros está se fechando rapidamente, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Para haver 50% de chance de evitar o limite de 1,5°C de aquecimento ao longo do século 21, as emissões globais de carbono terão que atingir o zero líquido (onde não há mais carbono liberado na atmosfera do que removido) no início da década de 2050. As emissões de todos os gases de efeito estufa devem atingir o pico até 2025 e a oferta e a demanda de combustíveis fósseis devem ser reduzidas rapidamente.
IPCC divulgou última parte do
6º Relatório de Avaliação/ AR6 em 20/03/23, após a sessão plenária presencial
realizada entre 13 e 19/03/23. Relatório Síntese captura últimas descobertas dos
3 Relatórios de Avaliação (Physical Science Basis, Impacts, Adaptation and
Vulnerability e Mitigation of Climate Change) e dos três Relatórios Especiais
anteriores (Global Warming of 1.5°C, Climate Change and Land, The Ocean and
Cryosphere in a Change Climate). Síntese abrangerá o estado atual e as
tendências das mudanças climáticas, as respostas em curto prazo entre 2030 e
2040 e os impactos de longo prazo no clima e no desenvolvimento social.
Sem dúvida, a humanidade está trilhando de maneira acelerada a autoestrada da emergência climática e precisa reverter o processo de crescimento demográfico e econômico para evitar que amplas partes da Terra fiquem inabitáveis.
O decrescimento pode ser o caminho para mitigar o aquecimento global e para a civilização se adaptar aos cenários mais inóspitos da crise climática e ambiental. (ecodebate)
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