Segundo um relatório recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), há evidências científicas de que as mudanças climáticas estão influenciando a frequência, a intensidade e a duração dos eventos climáticos extremos. O relatório também alerta que esses eventos devem se tornar mais frequentes e severos no futuro, se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas.
Para entender melhor como o clima extremo está relacionado às mudanças climáticas, citamos três especialistas da Universidade da Pensilvânia, que explicam aspectos importantes dessa questão:
1. O aquecimento global
aumenta o risco de ondas de calor e secas.
O professor Michael Wehner,
do Departamento de Ciências da Terra e do Meio Ambiente, explica que o
aquecimento global é causado pelo aumento da concentração de gases de efeito
estufa na atmosfera, que retêm o calor do sol. Esse calor adicional faz com que
as temperaturas médias globais subam, o que aumenta o risco de ondas de calor e
secas em várias regiões do mundo.
“O aquecimento global é como
um dado carregado, que favorece a ocorrência de temperaturas mais altas”, diz
Wehner. “Isso significa que as ondas de calor se tornam mais frequentes, mais
intensas e mais longas, o que pode ter consequências graves para a saúde
humana, a agricultura e os ecossistemas”.
Wehner também afirma que o
aquecimento global afeta o ciclo hidrológico da Terra, alterando os padrões de
precipitação e evaporação. Isso pode levar a secas mais severas e prolongadas
em algumas áreas, como o Mediterrâneo, a América Central e o sul da África.
2. As mudanças climáticas
alteram os padrões atmosféricos que influenciam as chuvas e as inundações.
A professora Irina Marinov,
do Departamento de Física e Astronomia, explica que as mudanças climáticas
alteram os padrões atmosféricos que influenciam as chuvas e as inundações em
diferentes regiões do mundo. Um desses padrões é o chamado “jato polar”, que é
um fluxo de ar rápido e estreito que circula em torno do hemisfério norte.
“O jato polar atua como uma
barreira entre as massas de ar frio do Ártico e as massas de ar quente dos
trópicos”, diz Marinov. “Quando o jato polar é forte e estável, ele mantém
essas massas de ar separadas. Mas quando ele é fraco e ondulado, ele permite
que essas massas de ar se misturem, criando condições propícias para
tempestades e inundações”.
Marinov afirma que as
mudanças climáticas estão enfraquecendo e ondulando o jato polar, porque o
Ártico está aquecendo mais rápido do que os trópicos. Isso faz com que o
gradiente de temperatura entre essas regiões diminua, reduzindo a força do jato
polar.
“Essa é uma das razões pelas quais vemos eventos extremos de chuva e inundação em lugares como a Europa Ocidental, a China e os Estados Unidos”, diz Marinov. “Esses eventos podem causar danos à infraestrutura, deslocamento de populações e contaminação da água”.
3. As mudanças climáticas aumentam a probabilidade de incêndios florestais.
O professor Daniel Aldrich,
do Departamento de Ciências Políticas, explica que as mudanças climáticas
aumentam a probabilidade de incêndios florestais, especialmente em regiões com
vegetação seca e inflamável. Ele diz que isso ocorre por dois motivos
principais:
“Primeiro, as mudanças
climáticas aumentam as temperaturas e reduzem as chuvas, o que cria condições
mais secas e quentes para as plantas. Isso faz com que elas se tornem mais
suscetíveis a pegar fogo e a propagar o fogo”, diz Aldrich. “Segundo, as
mudanças climáticas podem provocar eventos climáticos extremos, como raios,
ventos e tempestades, que podem iniciar ou espalhar os incêndios.”
Aldrich destaca que os
incêndios florestais podem ter impactos devastadores para as pessoas e o meio
ambiente, como a destruição de casas, a emissão de poluentes e a perda de biodiversidade.
“Os incêndios florestais são um exemplo de como as mudanças climáticas podem criar retroalimentações negativas, ou seja, processos que amplificam os próprios efeitos das mudanças climáticas”, diz Aldrich. “Por exemplo, quando os incêndios florestais queimam as árvores, eles liberam mais dióxido de carbono na atmosfera, o que contribui para o aquecimento global”.
Como podemos nos adaptar e mitigar os efeitos do clima extremo?
Os três especialistas
concordam que é preciso tomar medidas urgentes para se adaptar e mitigar os
efeitos do clima extremo, tanto no nível individual quanto no coletivo. Eles
sugerem algumas ações possíveis, como:
• Reduzir as emissões de
gases de efeito estufa, adotando fontes de energia renováveis, melhorando a
eficiência energética e promovendo a conservação da natureza.
• Aumentar a resiliência das
comunidades, fortalecendo as redes sociais, melhorando o planejamento urbano e
investindo em infraestrutura verde e azul.
• Monitorar e prever os
eventos climáticos extremos, usando modelos climáticos, satélites e sensores.
• Preparar-se para os eventos
climáticos extremos, seguindo as orientações das autoridades, tendo um plano de
emergência e mantendo-se informado.
Os três especialistas também enfatizam que é preciso aumentar a conscientização e a educação sobre as causas e as consequências do clima extremo, bem como sobre as formas de prevenção e adaptação.
Crise climática causa 37% das mortes por calor no mundo.
Estudo na Nature revela
impacto do aquecimento global em 732 cidades: São Paulo está no topo do ranking
com 239 óbitos anuais.
“O clima extremo é um desafio
global, que requer uma resposta global”, diz Wehner. “Todos nós temos um papel
a desempenhar na redução dos riscos e na proteção das pessoas e do planeta”.
(ecodebate)
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