quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Mais gente e menos árvores

Pelo gráfico há diversos distritos com densidades vegetal e populacional acima da média da cidade. É o caso de Jardim Paulista, Vila Mariana, Consolação e Perdizes.

No Jardim Paulista, porém, parte da elevada densidade vegetal é devida ao bairro Jardim América, bastante arborizado, onde o tombamento e as leis de uso do solo restringem a ocupação e a verticalização — e o adensamento populacional, consequentemente, é baixo. O mesmo acontece no distrito de Perdizes, que engloba parte do bairro do Pacaembu.

Por sinal, quando focamos na parte de cima do gráfico, onde estão os distritos com densidade vegetal acima da média, até notamos mesmo uma leve correlação negativa entre densidade vegetal e populacional.

O Alto de Pinheiros é pouco adensado em termos populacionais, mas conta com o maior número de árvores por km² da cidade. A medida que caminhamos para a direita no gráfico, para os distritos com maior adensamento populacional, notamos uma queda na densidade vegetal, como nos casos de Santa Cecília, República e Bela Vista — que, contudo, vale ressaltar, apresentam densidade vegetal acima da média da cidade.

É verdade também que maior adensamento populacional, mesmo em áreas arborizadas, pode significar menos árvores por habitante. Bela Vista e República, por exemplo, apesar da densidade vegetal acima da média, estão entre os distritos com menor quantidade de árvores por habitante (daí a relevância de empreendimentos como a Cidade Matarazzo na Bela Vista). O Butantã, por outro lado, apesar da densidade vegetal próxima da média, é um dos distritos com maior quantidade de árvores por habitante.

“Tentamos proteger as árvores, esquecidos de que são elas que nos protegem” - Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

O mundo está trilhando o caminho da insustentabilidade, uma vez que, nos últimos 250 anos, tem crescido o número de habitantes e diminuído o número de árvores. Em geral, as pessoas degradam a natureza e produzem gases de efeito estufa, enquanto as árvores, por meio da fotossíntese, sequestram carbono e liberam oxigênio. As árvores vivem muito bem sem o ser humano, mas o ser humano não tem futuro sem as árvores.

O mundo tinha cerca de 6 mil árvores por habitante antes da Revolução Industrial e Energética. Mas com o crescimento demoeconômico e a antropomorfização do mundo as florestas foram derrubadas para dar lugar à agricultura, à pecuária e à expansão urbana e humana. O número de árvores no mundo hoje em dia está em torno de três trilhões de unidades, segundo artigo da revista Science (Bastin et. al. 05/07/2019). O resultado tem sido a redução do número de árvores por pessoa que está em cerca de 400 árvores por habitante atualmente.

Embora as florestas sejam a ferramenta mais eficaz para combater o aquecimento global e evitar a perda de biodiversidade, a destruição das áreas florestais é uma triste realidade que prevalece no mundo. Uma área do tamanho da Suíça foi removida das florestas tropicais mais preservadas da Terra em 2022, apesar das promessas dos líderes mundiais de interromper sua destruição, segundo dados compilados pelo World Resources Institute (WRI) e pela Universidade de Maryland, conforme mostra o gráfico abaixo.

Os trópicos perderam 10% a mais de floresta tropical primária em 2022 do que em 2021. A perda de floresta tropical primária em 2022 totalizou 4,1 milhões de hectares, o equivalente à perda de 11 campos de futebol de floresta por minuto. Toda essa perda de floresta produziu 2,7 gigatoneladas (Gt) de emissões de dióxido de carbono, o equivalente às emissões anuais de combustível fóssil da Índia.

Em nível nacional, enquanto a perda de florestas primárias aumentou nos dois países com maior número de florestas tropicais, Brasil e República Democrática do Congo, também aumentou rapidamente em outras nações, como Gana e Bolívia. Enquanto isso, a Indonésia e a Malásia conseguiram manter as taxas de perda de florestas primárias próximas a níveis recordes.

O mundo precisa restaurar a biocapacidade dos ecossistemas e voltar ao velho equilíbrio de menos gente e mais árvores. Principalmente os 3 grandes países – Brasil, República Democrática do Congo e Indonésia – precisam atuar em conjunto para proteger as maiores florestas tropicais do mundo.

Mas a civilização humana também precisa abandonar a queima de combustíveis fósseis e abandonar os hábitos do consumismo que fazem o conjunto das atividades antrópicas ultrapassarem a capacidade de carga da Terra. As pessoas precisam da natureza, mas a natureza não precisa das pessoas.

Desenho do Complexo Cidade Matarazzo, que terá mais de 10 mil árvores em seu espaço. Destaque para a Torre Mata Atlântica, com mais de 200 árvores em seus quase 100 metros de altura. (ecodebate)

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