Pesquisa publicada em
24/08/23 pela revista Science mostrou que milhões de créditos de carbono têm
sido gerados superestimando a preservação florestal à qual supostamente
estariam vinculados.
Isto significa que muitos dos
“créditos de carbono” comprados pelas empresas para equilibrar as emissões não
estão ligados à preservação florestal no mundo real, como alegado.
A equipe internacional de
cientistas e economistas, liderada pela Universidade de Cambridge e pela VU
Amsterdam, descobriu que milhões de créditos de carbono se baseiam em cálculos
grosseiros que inflacionam os sucessos de conservação de projetos voluntários
de REDD+.
Consequentemente, muitas
toneladas de emissões de gases com efeito de estufa consideradas “compensadas”
por árvores que de outra forma não existiriam, na verdade apenas aumentaram a
nossa dívida planetária de carbono.
Como é calculada a redução de
emissões
Os esquemas REDD+ geram
créditos de carbono através do investimento na proteção de secções das
florestas mais importantes do mundo. Esses créditos representam o carbono que
não será mais liberado através do desmatamento.
As organizações e os
indivíduos podem então compensar a sua própria pegada de carbono através da
compra de créditos equivalentes a uma determinada quantidade de emissões.
Atualmente, os créditos de
projetos voluntários de “desmatamento evitado” são emitidos com base em
previsões de perda de árvores que teriam ocorrido sem o esquema REDD+.
Os pesquisadores dizem que
estes cálculos – que consideram médias ou tendências históricas de
desflorestação, por vezes de há mais de uma década, numa vasta região que
geralmente inclui o local de REDD+ – são muitas vezes demasiado simplistas.
Resultados do estudo
O estudo analisou
detalhadamente 18 projetos de REDD+ em cinco países tropicais: Peru, Colômbia,
Camboja, Tanzânia e República Democrática do Congo.
De acordo com os
pesquisadores, dos 89 milhões de créditos de carbono que se espera que sejam
gerados por estes 18 locais de REDD+ em 2020, cerca de 68% deles – mais de 60
milhões de créditos – teriam vindo de projetos que mal reduziram o
desmatamento, se é que o fizeram.
Mesmo os restantes 32% dos créditos de carbono tiveram origem em projetos de REDD+ que não conservaram a floresta nos níveis reivindicados pelos promotores do projeto.
Riscos do mercado de créditos de carbono
A equipe por trás do último
estudo argumenta que o crescente comércio de créditos de carbono pode já ser
uma espécie de “mercado de limões”: onde os compradores não têm como distinguir
a qualidade, então alguns vendedores inundam o mercado com produtos ruins,
levando a uma quebra de confiança e, em última análise, o colapso do mercado.
As super estimativas da
preservação florestal permitiram que o número de créditos de carbono no mercado
continuasse a aumentar, o que por sua vez suprime os preços.
Recomendações
Os pesquisadores destacam
quatro razões possíveis – e sobrepostas – pelas quais os esquemas de créditos
de carbono podem superestimar a sua eficácia de forma tão dramática.
Uma delas é que o uso de
tendências históricas é simplesmente altamente impreciso. Além disso, os
projetos podem estar localizados onde a conservação tem maior probabilidade de
sucesso, independentemente disso. Em terceiro lugar, as regras de certificação
exigem atualmente períodos fixos para as projeções, pelo que é difícil se
adaptar às mudanças nas taxas de desflorestação.
Por último, os pesquisadores
também destacam riscos claros de que os métodos de previsão da desflorestação
possam ser “inflacionados de forma oportunista” para maximizar as receitas das
vendas a crédito.
Conclusão
Os resultados do estudo são
preocupantes, pois sugerem que os projetos de compensação de carbono podem não
ser tão eficazes como se pensava para reduzir as emissões de gases com efeito
de estufa.
É urgente que sejam tomadas medidas para melhorar a qualidade dos créditos de carbono e garantir que eles sejam realmente ligados à preservação florestal.
Locais de projetos voluntários de REDD+ incluídos no estudo.
( A ) Peru e Colômbia.
( B ) República Democrática do Congo (RDC), Tanzânia e Zâmbia.
( C ) Camboja. As
áreas de estudo estão indicadas em vermelho. As áreas roxas são os locais
excluídos da análise. In Action needed to make carbon offsets from forest
conservation work for climate change mitigation. (ecodebate)
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