O aquecimento do
Planeta está prestes a ultrapassar o patamar anual de 1,5º Celsius.
“Estamos na
autoestrada rumo ao inferno climático e com o pé no acelerador” - António
Guterres, Secretário-geral da ONU (2022).
A temperatura da
Terra apresentou uma incrível estabilidade durante a maior parte do Holoceno
(últimos 12 mil anos). Essa estabilidade climática permitiu o florescimento da
civilização humana. O Homo sapiens dominou a agricultura e a pecuária, criou as
cidades, desenvolveu um modelo de produção urbano-industrial e, gradualmente,
foi ocupando todos os cantos habitáveis do Planeta.
Os seres humanos, de
maneira egoísta, criaram um sistema produtivo altamente eficiente na produção
de bens e serviços às custas da exploração desenfreada dos recursos naturais,
da destruição dos ecossistemas, da perda de biodiversidade e da poluição do
solo, das águas e do ar. O uso generalizado dos combustíveis fósseis e o
desmatamento de amplas áreas florestais lançaram grande quantidade de gases de
efeito estufa que tiveram como consequência o aumento do aquecimento global.
Nos últimos 800 mil
anos, a concentração de CO2 ficou sistematicamente abaixo de 280
ppm. Em 1950 chegou a 300 ppm e pulou para 350 ppm em 1987. Este é o nível
máximo recomendado pela ciência para evitar um possível aquecimento global
catastrófico. Porém, a máquina econômica de emissão não sofreu interrupção e,
em 2015, quando houve o Acordo de Paris, a concentração de CO2 já
havia ultrapassado 400 ppm. Em maio de 2023 chegou a 424 ppm.
O resultado da maior concentração de gases de efeito estufa é o aumento da temperatura global como mostra o gráfico abaixo da NASA/GISS/GISTEMP. De 1880 a 2023 houve um aumento sistemático da temperatura, sendo que os últimos três meses (junho, julho e agosto) foram os mais quentes da série, com destaque para julho e agosto que apresentaram as maiores temperaturas dos últimos 120 mil anos.
O gráfico abaixo, do Instituto Berkeley Earth, mostra que a temperatura média global em agosto de 2023 foi 1,68 ± 0,09°C acima da média de 1850 a 1900, que é frequentemente usada como referência para o período pré-industrial. Esta é a 12ª vez na análise da do Berkeley Earth que qualquer mês individual atingiu pelo menos 1,5°C acima do valor de referência pré-industrial. Além de agosto, o limiar de 1,5ºC foi superado também em março e julho de 2023.
As anomalias isoladas acima de 1,5°C são um sinal de que a Terra está se aproximando desse limite. É provável que o aquecimento global faça com que a média anual exceda 1,5°C em 2024 e continue aumentando, a menos que sejam alcançadas, em breve, reduções significativas nas emissões de gases com efeito de estufa. O fato é que os últimos três meses foram extraordinários em termos de temperaturas médias globais, com novos recordes mensais estabelecidos todos os meses e muitas vezes por uma grande margem.
O mais grave é que a temperatura da Terra está não só esquentando, como acelerando o processo de aquecimento. Artigo de James Hansen e colegas (14/09/2023) mostra que a temperatura global no atual El Nino excede a temperatura dos El Niños anteriores (1997 e 2015). A causa imediata do aquecimento acelerado é um aumento do Desequilíbrio da Energia da Terra (EEI, na sigla em inglês).
A hipótese de que o
aquecimento global esteja acelerando ocorre devido à comparação da taxa de
aquecimento entre os El Niños de 1997-98 e 2015-16. A taxa de aquecimento entre
esses super El Niños foi de 0,24°C/década, excedendo a taxa de 1970-2010 que
foi de 0,18°C/década. Até agora, o atual El Nino, apenas 8 anos após o El Niño
de 2015-16, sugere um aumento adicional substancial na taxa de aquecimento
global, como mostra o gráfico abaixo.
Ainda é cedo para estimar o pico de aquecimento atual, que deverá ocorrer no primeiro semestre de 2024. No entanto, a temperatura global nos primeiros meses do El Niño 2023-24 são tão extremos que agora é quase certo que o período de 12 meses a temperatura média global excederá 1,5°C em maio de 2024 ou antes (há 50% de chance de 2023 alcançar o patamar de 1,5ºC).
O fato é que o sucesso da humanidade em aumentar o crescimento demo econômico dos últimos 250 anos tem provocado uma redução da biocapacidade do Planeta e um desequilíbrio do sistema climático da Terra. Se não houver uma mudança do estilo de vida global e uma alteração do padrão de produção e consumo fica cada vez mais provável a possibilidade de uma crise ambiental com um colapso sistêmico global. (ecodebate)
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