Alguns demógrafos e
economistas dizem que a China enfrentará uma grande crise demográfica ao longo
do século XXI, pois a população chinesa já começou a decrescer em 2022, foi
ultrapassada pela Índia em 2023 e deve perder cerca de 650 milhões de
habitantes até 2100.
Dizem também que os Estados
Unidos da América (EUA) terão uma grande vantagem demográfica, pois o fluxo
imigratório possibilitará garantir uma população em crescimento e uma estrutura
etária mais rejuvenescida (ou menos envelhecida) em relação à pirâmide etária
chinesa.
Até final do século passado,
os 6 países mais populosos do mundo eram, na ordem decrescente: China, Índia,
EUA, Indonésia, Brasil e Rússia. Para analisar a dinâmica demográfica no final
do atual século, o gráfico abaixo mostra os 6 países que serão os mais
populosos do mundo em 2100, de acordo com a projeção média da Divisão de
População de ONU.
Contudo, esta lista sofrerá alterações internas nas próximas décadas. Em 2023, a Índia ultrapassou a China e, na segunda metade do século XXI, os EUA serão ultrapassados pela Nigéria, Paquistão e República Democrática do Congo. Em 2100, o tamanho da população da China será algo como metade da população da Índia e o dobro da população americana. A China se manterá em segundo lugar e os EUA cairão para o sexto lugar no ranking dos países mais populosos.
Portanto, o decrescimento demográfico da China não impedirá ao país do leste asiático se manter na segunda colocação entre os países mais populosos, enquanto o crescimento demográfico dos EUA não evitará ao país norte-americano cair da 3ª para a 6ª colocação no ranking internacional.
Os defensores do pronatalismo
argumentam que as diferentes dinâmicas demográficas da China e dos EUA vão
levar a uma estrutura etária muito envelhecida na população chinesa, quando
comparada com a população americana.
A tabela abaixo mostra a
população total do mundo e dos 6 países e alguns indicadores de mudança da
estrutura etária, em 2100, de acordo com a projeção média da ONU. Nota-se que a
China será o país mais envelhecido, com a população idosa (de 60 anos e mais de
idade) representando 47,2% da população total, quando a média global será de
29,8 anos. Os EUA e a Índia terão, aproximadamente, a mesma proporção de
idosos, em torno de 36%. O Paquistão terá 23,1%, a Nigéria 17,7% e a República
Democrática do Congo com somente 15,4% de idosos.
A mesma proporção entre os
países ocorre com o Índice de Envelhecimento, com a China alcançando 483,5
idosos para cada 100 jovens de 0-14 anos, os EUA e a Índia com IE de 259, o
mundo com 181, o Paquistão com 125 e a Nigéria e a RD Congo com IE abaixo de
100 (ou seja, com mais jovens de 0-14 anos do que idosos). A idade mediana será
de 56,8 anos na China, de cerca de 47 anos nos EUA e Índia, de 42,3 anos no
mundo e algo entre 32 anos e 38 anos no Paquistão, Nigéria e RD do Congo.
A densidade demográfica média do mundo deve ficar em torno de 79 habitantes por quilômetro quadrado (km2) em 2100 e a China ficará com a mesma densidade demográfica. Os EUA terão uma densidade abaixo da média internacional, de 43 hab/ km2. A RD Congo terá uma densidade de 191 hab/ km2. A densidade da Índia deve ficar em 515 hab/ km2. E a Nigéria e o Paquistão terão densidade demográfica acima de 600 hab/ km2.
Portanto, sem dúvida, a China será o país mais envelhecido entre as nações mais populosas do mundo, mas não terá uma densidade demográfica acima da média mundial. Porém, resta saber até que ponto o envelhecimento será uma desvantagem decisiva. É uma questão em aberto, pois se a China aproveitar o segundo bônus demográfico (bônus da produtividade) – investindo em infraestrutura, em educação e em novas tecnologias – pode ter uma população menor, porém mais produtiva. Desta forma, pode se preparar para fazer mais com menos. Além disto, pode aproveitar o 3º bônus demográfico (bônus da longevidade) para aproveitar o potencial da população da terceira idade. Além disto, o meio ambiente tende a se beneficiar de uma população menor.
Muitos analistas
internacionais consideram que a China está entrando na fase do “inverno
demográfico”. Até o economista keynesiano desenvolvimentista, Paul Krugman,
prêmio Nobel de Economia, em artigo reproduzido na Folha de São Paulo
(26/07/2023) considera que o declínio populacional da China será mais
prejudicial para a economia na China do que o decrescimento populacional
japonês para o Japão. Todavia, a ideia de colapso demográfico pode estar
exagerada, assim como podem estar fora de foco as estimativas das vantagens dos
EUA.
De fato, as ditas vantagens da estrutura etária norte-americana não se sustentam em relação à situação da Índia e dos outros 3 países. Em 2100, a Índia terá uma população quase 4 vezes superior à população dos EUA e terá uma força de trabalho, numericamente bem superior. Já a Nigéria, o Paquistão e República Democrática do Congo terão não só uma população superior, mas também uma estrutura etária menos envelhecida.
10 maiores países por população em 2100 que serão os maiores mercados consumidores
Por conseguinte, as supostas
vantagens da população dos EUA sobre a população da China se tornariam uma
desvantagem em relação à Índia, Nigéria, Paquistão e RD Congo. Ou seja, o menor
tamanho populacional e o envelhecimento da estrutura etária são elementos de
análise, mas não são necessariamente um empecilho ao avanço do bem-estar humano
e ambiental. Crescimento demográfico não garante necessariamente crescimento
econômico e bem-estar social. E o crescimento demográfico dificulta o combate à
crise climática e ambiental.
Todos estes 6 países vão
enfrentar um grande desafio ambiental e climático, pois as condições ecológicas
vão piorar bastante ao longo do século XXI. Enormes populações podem
representar mais um passivo do que um ativo, uma vez que tende a aumentar
enormemente os desastres ambientais. A China terá a segunda maior população em
2100, mas terá uma população em decrescimento e isto pode facilitar o processo
de aumento da renda per capita e de adaptação diante das condições naturais. Já
a Nigéria, o Paquistão e a RD Congo vão ter uma estrutura etária mais
rejuvenescida, porém terão uma alta densidade demográfica e terão dificuldades
para lidar com os desastres ambientais e climáticos.
São muitas as variáveis para
analisar o cenário demográfico, econômico e ambiental no final do século XXI. A
Índia se consolidará com a nação mais populosa do mundo. A China permanecerá
como a 2ª maior população e os EUA cairão do 3º para o 6º lugar. Três países,
que não estavam na lista dos 10 maiores países até recentemente, ocuparão do 3º
a 5º lugar.
Neste segundo semestre de 2023 se fala muito sobre as perspectivas econômicas da China e há analistas prevendo o pico econômico chinês. Mas há analistas também que dão destaque para as fragilidades da economia americana. Com a dinâmica demográfica vai afetar a dinâmica econômica é um assunto muito complexo especialmente numa perspectiva de longo prazo.
Mas, sem dúvida, a baixa taxa de fecundidade da China não é necessariamente um sinal negativo e nem levará necessariamente ao colapso econômico. O que se vê é que a dinâmica demográfica dos 6 países mais populosos será bastante contrastante. Como as nações vão lidar com os diversos desafios ainda é uma questão em aberto e dependerá dos desdobramentos da crise climática e ambiental. (ecodebate)
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