As novas gerações não conheceram períodos de regularidade
climática, mas até há duas décadas, por exemplo, não havia ciclones no Rio
Grande do Sul e eram mais raras enchentes ou secas.
Nos últimos anos, se sucedem fenômenos de desequilíbrio, tivemos
secas dramáticas que afetaram o abastecimento de água em muitas cidades e
arruinaram safras, agora essas semanas de chuva sem parar que levaram a
enchentes, mortes e destruição.
Nos anos 70, José Lutzemberger escreveu o Manifesto Ecológico
explicando a crise climática, com uma previsão de futuro que, infelizmente, se
realizou. Até então eram raros os fenômenos climáticos extremos, a enchente do
Guaíba que levou ao muro da Mauá, em Porto Alegre, ocorreu apenas uma vez – e o
muro ficou lá, sem utilidade. Na época, se dizia que a Amazônia era o pulmão do
planeta, até Lutzemberguer explicar que “a Amazônia não é o pulmão, é o ar
condicionado do planeta”.
É difícil explicar algo que, para as novas gerações, já está “normalizado”, como ocorre também com a poluição. Gerações mais antigas chegaram a tomar banho no Guaíba, hoje as pessoas se conformam em ir passear na Orla e ver o rio ali, poluído, como se fosse normal.
Eventos climáticos extremos na América do Sul - crise climática no Brasil, Argentina e Paraguai.
O desmatamento e a poluição do ar, normais para a sociedade
industrial, alteraram não só o clima no planeta como a qualidade da atmosfera,
hoje temos menos proteção contra os raios solares e aumentou a incidência do
câncer de pele, bem como todas as outras formas de tumores devido à
contaminação do ar, da água e do solo, que se refletem também na contaminação
dos alimentos. Na casca dos legumes e frutas, onde estaria a maior concentração
de vitaminas, agora está a maior concentração de agrotóxicos.
Hoje, as tragédias que se sucedem geram muito sofrimento com as
mortes e geram correntes de solidariedade também, para auxílio às vítimas com
as perdas materiais, milhares de famílias que perderam tudo. Mas tudo, hoje,
parece inevitável, como se fosse normal. As novas gerações já se acostumaram
com os efeitos da crise climática, que é uma realidade desde o início dos anos
2000, quando nos anos 70 era apenas a previsão de gênios da ecologia, como
Lutzemberger.
Lutz nunca participou da guerra ideológica entre esquerda e
direita (e foi muito criticado por isso), dizia que a causa do desequilíbrio
era a sociedade industrial, o exagero do consumismo e a falta de preocupação
com o ambiente. Já naquela época se afigurava que países como os Estados Unidos
e a China – com dois regimes políticos opostos – eram os maiores poluidores.
As pessoas hoje parecem tão envolvidas na guerra ideológica que esquecem que a crise climática e a poluição atingem a todos – e deveriam ser consideradas questões urgentes e graves, a nos unir para que consigamos ter respostas racionais e rápidas a elas.
A crise climática não é “normal”, porque é efeito da ação humana irracional sobre o planeta, que estamos tornando inabitável para nossa própria espécie – após o que, só as baratas sobreviverão. (ecodebate)
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