· Sete a cada dez entrevistados percebem que os eventos climáticos
extremos estão se agravando.
· 69% afirmam conhecer alguém que já foi afetado diretamente por
eventos climáticos extremos.
· Entre as pessoas que já sofreram consequências diretas, 65%
relatam que tiveram alguma perda financeira e o prejuízo médio estimado é de R$
8.485,00 por pessoa.
Diante da previsão de chuvas fortes nas regiões onde moram, 64%
dos brasileiros sentem medo. Para 76% das pessoas, as cidades não estão
preparadas para enfrentar chuvas fortes, tempestades ou alagamentos.
Os dados fazem parte de uma pesquisa inédita realizada pela
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em cooperação com a UNESCO no
Brasil e o apoio da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente (ANAMMA)
e da Aliança Bioconexão Urbana. O resultado completo do estudo foi apresentado
na 28ª Conferência de Mudanças Climáticas da ONU, a COP 28, que aconteceu em
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Para 91% dos brasileiros, as mudanças climáticas são importantes
ou muito importantes e 80% das pessoas estão preocupadas ou muito preocupadas
com esse assunto. Sete a cada dez entrevistados percebem que os eventos
climáticos extremos estão se agravando.
Ao serem questionadas se já foram impactadas diretamente por
fenômenos climáticos extremos, 35% das pessoas disseram que sim. No entanto,
69% das pessoas disseram conhecer alguém que já foi afetado diretamente por
fenômenos como tempestades, alagamentos e vendavais, entre outros.
Entre a parcela que já sofreu alguma consequência direta, 45%
mencionaram chuvas fortes ou tempestades, 21% ventanias, 21% alagamentos, 20%
ondas de calor, seguido por períodos longos de seca ou sem chuva (7%), e
deslizamentos ou desmoronamentos (5%). A população mais impactada diretamente é
a da região Sul (45%), seguida por Sudeste (36%), Norte (34%), Centro-Oeste
(32%) e Nordeste (29%). Entre as pessoas que já sofreram consequências diretas,
65% relatam que tiveram alguma perda financeira e o prejuízo médio estimado é
de R$ 8.485,00 por pessoa.
As pessoas já percebem as consequências das mudanças climáticas em diversas situações do cotidiano. Em respostas múltiplas nas quais os entrevistados deveriam indicar o quanto as mudanças do clima estão relacionadas a diferentes fatos apresentados em uma lista, aparecem em destaque o aumento no preço dos alimentos, com média de 8,8 em uma escala de 0 a 10; seguida por desmatamento e ondas de calor na cidade, médias 8,7; extinção das espécies, 8,5; e secas, 8,4.
Justiça climática
Para 61% dos entrevistados, todas as classes sociais sentem os
impactos das mudanças do clima da mesma forma, enquanto 39% não concordam com
essa afirmação. “Mesmo conscientes de que os fenômenos extremos podem gerar
problemas para todos, sabemos que esses impactos atingem as classes sociais e
os diferentes países de formas distintas. Essa compreensão é importante para
percebermos que não se trata de uma questão meramente ambiental, é também uma
questão ética e política. Portanto, como sociedade, precisamos avançar no
entendimento sobre a justiça climática”, diz Marlova Jovchelovitch Noleto,
Diretora e Representante da UNESCO no Brasil.
De maneira geral, a pesquisa também revela que o entendimento
sobre as causas e consequências das mudanças no clima varia de acordo com a
escolaridade dos entrevistados. Para 35% das pessoas, por exemplo, mudanças
climáticas ainda são sinônimo para previsão do tempo. “Os dados coletados
mostram que quanto menor o nível de escolaridade, menor a compreensão sobre a
influência dos seres humanos no aquecimento global e nas alterações dos padrões
climáticos. Isso retrata um grave cenário de desigualdade no acesso à
informação, visto que as populações com menor renda são justamente as mais
vulneráveis aos efeitos das mudanças do clima”, explica a diretora da UNESCO.
Já o reitor do Instituto ANAMMA (Associação Nacional de Municípios
e Meio Ambiente), Marcelo Marcondes, compreende que os gestores das cidades
devem estar mais sensíveis ao novo cenário climático e precisam implementar
políticas públicas adequadas. Para ele, é necessário ampliar o debate da
educação ambiental, qualificando o papel dos gestores, para que evitem omissões
que podem levar, inclusive, a responsabilizações judiciais no futuro.
Marcondes afirma que o direito à cidade e ao clima deve guiar a busca por justiça climática. “Temos que criar governança nos municípios, capacitar os gestores e entender a importância de incorporar as Soluções Baseadas na Natureza nas políticas de gestão territorial, visando minimizar os impactos atuais e garantir melhores condições às gerações futuras”.
Desejo por mais contato com a natureza
A pesquisa também buscou identificar como as pessoas enxergam a
natureza nas cidades. Tendo em vista que mais de 85% dos brasileiros vivem em
zonas urbanas, com grande concentração nas metrópoles, de acordo com dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tornar os municípios
mais resilientes às mudanças climáticas é um dos maiores desafios atuais e, de
acordo com os especialistas, passa diretamente por uma relação mais próxima com
a natureza.
Nove a cada dez pessoas percebem que a sensação de calor é maior
em regiões que não possuem áreas verdes. Apesar disso, para 86% dos
entrevistados, o verde está diminuindo cada vez mais. Existe também a percepção
de que as áreas de risco para inundações e alagamentos estão aumentando,
conforme a opinião de 78% dos entrevistados. Em outro indício do déficit de
natureza nas áreas urbanas, 26% dos entrevistados disseram que moram em regiões
que não possuem parques, bosques ou áreas verdes por perto.
Outras formas de convivência com a natureza nas cidades são menos
observadas pela população. Metade dos entrevistados sabe da existência de
corredores verdes em suas cidades – áreas naturais ao longo de uma faixa de
ruas ou rios com vegetação. Apenas 23% têm conhecimento da existência de
jardins de chuva – jardins projetados para reter água da chuva, prevenindo inundações;
e somente 16% conhecem telhados verdes, construções com vegetação no telhado
que ajudam a diminuir a temperatura interna nas edificações.
A pesquisa também aponta que 98% dos entrevistados gostariam de
ter mais natureza em suas cidades, sendo ruas arborizadas quase uma
unanimidade, além do desejo por parques urbanos, corredores verdes, entre
outras soluções.
Outro dado positivo apontado pela pesquisa é que 87% dos
entrevistados afirmam que estão dispostos ou muito dispostos a mudar seus
hábitos em benefício do clima. Entre as mudanças mais citadas estão: reciclar e
descartar o lixo corretamente (24%), plantar árvores (15%), evitar o uso de
plástico (8%) e usar meios de transporte menos poluentes (8%). Entre as pessoas
dispostas a mudar de hábitos, 19% não sabem exatamente o que fazer. “Por isso é
tão importante o trabalho de disseminação do conhecimento sobre a mudança do
clima e sobre as soluções que a natureza nos oferece”, conta Cecilia Polacow
Herzog, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e
professora e pesquisadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
“É importante aproveitar uma certa disposição da população para a mudança de hábitos para incentivar medidas para reduzir o aquecimento global, como o uso de transporte público e bicicletas, a economia de energia e o uso de energia renovável, o plantio de árvores, os cuidados com as áreas naturais de forma geral, o consumo consciente, privilegiando produtos e serviços de empresas comprometidas com a redução de seus impactos negativos na sociedade e no meio ambiente, entre outras iniciativas. Além disso, é importante incentivar o voto consciente em candidatos que compreendam a importância da conservação da natureza para o nosso futuro”, afirma Herzog.
Publicação
Os principais resultados da pesquisa estão disponíveis na publicação “Natureza e Cidades: A relação dos brasileiros com as mudanças climáticas”, apresentados com infográficos que podem ser baixados e compartilhados. Além de conhecer a opinião da população, o trabalho pretende disseminar o conceito de Soluções Baseadas na Natureza (SBN), relacionar este conceito com a importância de aumentar a presença da natureza em áreas urbanas em busca de maior resiliência aos eventos climáticos extremos e, também, contribuir para que gestores públicos e candidatos às eleições municipais de 2024 tenham mais subsídios para planejar cidades mais sustentáveis.
Mais sobre a pesquisa
A pesquisa foi realizada pela Zoom Inteligência em Pesquisas,
entre os meses de julho e setembro de 2023 – ou seja, um pouco antes dos
impactos provocados pela intensificação do El Niño de 2023. Foram realizadas 2
mil entrevistas presenciais e por telefone, com pessoas entre 18 e 64 anos, de
ambos os gêneros e todas as classes sociais, nas cinco regiões do país. Entre
os entrevistados, 50,5% residem em capitais e 49,5% vivem nas demais cidades. A
margem de erro é de 2,2% para um nível de confiança de 95%. Entre os municípios
que compõem a amostra, 64% foram afetados por desastres ambientais nos últimos
5 anos, enquanto 36% não foram afetados, de acordo com a base de dados do
Instituto Talanoa. (ecodebate)
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