A China era, até
recentemente, a nação mais populosa do mundo, mas foi ultrapassada pela Índia
em 2023. A população chinesa iniciou um processo de decrescimento do número de
habitantes a partir de 2022 e deve continuar o processo de decrescimento ao
longo do século XXI.
A China tinha 544 milhões de
habitantes em 1950, chegou a 1 bilhão em 1982, alcançou o pico de 1,426 bilhão
de habitantes em 2021, iniciou a fase de decrescimento em 2022, deve voltar
para 1 bilhão de habitantes em 2077 e terminar o século com 767 milhões de
habitantes em 2100, segundo projeções da Divisão de População da ONU.
É comum a imprensa
internacional interpretar estes dados como se representassem o início de uma
grande crise demográfica que comprometerá o futuro da China. Vejamos alguns
exemplos:
• O jornal New York Times “A
População da China Cai, anunciando uma Crise Demográfica”, o jornal afirma que
haverá escassez de mão de obra e défices no sistema de pensões e que “o país
está sendo empurrado para uma crise demográfica que terá consequências não
apenas para a China e a sua economia, mas para o mundo”.
• The Daily Telegraph ‘Golpe
para a economia da China à medida que a população cai’.
• O Washington Post “O
primeiro declínio populacional da China em 60 anos soa um alarme demográfico”,
com um renomado estudioso dizendo que “a falta de uma rede de seguridade social
ou sistema de pensões robusto poderia “evoluir para uma catástrofe humanitária”.
• The Guardian: A primeira
queda populacional da China desde 1961 cria perspectivas ‘mais sombrias’ para o
país com um pesquisador dizendo que “a verdadeira crise demográfica da China
está além da imaginação” e que “todas as políticas econômicas, sociais, de
defesa e externas do passado da China foram baseadas em dados demográficos
falhos”.
O gráfico abaixo apresenta um
exercício da evolução da população, do PIB e da renda per capita da China entre
2025 e 2100. As curvas representam o crescimento (ou decrescimento) acumulado,
com índice 100 em 2025. Os dados da população são das projeções da Divisão de
População da ONU e mostram uma redução quase pela metade no volume de
habitantes. A projeção do PIB foi feita com os seguintes pressupostos:
crescimento de 4% ao ano de 2026 a 2030, crescimento de 3% entre 2031 e 2040,
crescimento de 2% ao ano entre 2041 e 2050, crescimento de 1% ao ano entre 2051
e 2060, crescimento zero de 2061 a 2070 e decrescimento de 0,3% ao ano de 2071
a 2100.
Resultado: o índice da população passa de 100 em 2025 para 53,8 em 2100. O índice do PIB passa de 100, em 2025, para 201,2 em 2100. E o índice da renda per capita passa de 100 para 373,8 em 2100. Isto quer dizer que, enquanto a população diminui, o PIB dobra de tamanho entre 2025 e 2100 e a renda per capita se multiplica por 3,7 vezes. Desta forma, a renda per capita da China (em poder de paridade de compra) que deve estar em torno de US$ 20 mil em 2025, pode dar um salto para US$ 75 mil em 2100.
Não há dúvidas de que toda dinâmica demográfica traz desafios e oportunidades. O decrescimento populacional traz desafios, especialmente no que diz respeito ao envelhecimento populacional e à redução do tamanho da população em idade ativa. Mas estes dois fatores podem ser superados pelo 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e pelo 3º bônus demográfico (bônus da longevidade).
A China é um bom caso de
estudo, pois é um país que saiu da pobreza, se tornou um país de renda média e
caminha para entrar no clube dos países ricos. O desafio é enriquecer antes de
envelhecer e cuidar do meio ambiente. O exemplo apresentado no gráfico acima, mostra
que a população da China já está decrescendo e o ritmo de crescimento do PIB
está diminuindo e a economia pode decrescer após 2070. Mas se o decrescimento
do PIB for menor do que o decrescimento demográfico, o país pode continuar
tendo aumento da renda per capita, da prosperidade e do bem-estar social.
A China terá menor quantidade
de pessoas, mas poderá ter uma maior e melhor qualidade de vida humana e
ambiental. O “Império do Meio” será demograficamente menor, mas com um padrão
de vida qualitativamente melhor.
O mundo será um lugar melhor para se habitar se a China combinar a dinâmica econômica e demográfica com a redução da pegada ecológica e a restauração ecológica.
Vários países já estão planejando o decrescimento demoeconômico, como Taiwan, Coreia do Sul, Bulgária, Jamaica, etc., mas, evidentemente, o decrescimento demoeconômico do gigante asiático, devido ao tamanho da economia, terá um impacto muito mais positivo sobre o meio ambiente. (ecodebate)
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