Seminário do clima na UFRGS aponta que aquecimento global pode inviabilizar a vida na Terra.
Evento culminou com a divulgação da Carta de Porto Alegre que sugere ações para tentar minimizar tragédias climáticas.
Cientistas participam de seminário na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)/05/2025 e culminou com a divulgação da Carta de Porto Alegre, que elenca os agravos provocados pelas mudanças climáticas ocorridas no Brasil e, em especial, no Rio Grande do Sul. O documento sugere ações para minimizar ou evitar as consequências da tragédia (íntegra da carta aqui).
O evento foi aberto pela
reitora da universidade, Márcia Barbosa, que lembrou que, em 02/05/2024, o
aeroporto internacional de Porto Alegre, totalmente alagado e com equipamentos
submersos, foi fechado. Um ano depois, cientistas do Brasil e do mundo se
reúnem no Summit para buscar soluções sustentáveis e socialmente comprometidas
com a comunidade.
Durante os dois dias de discussão, não foram poucos os especialistas que se revezaram no palco para alertar que até o ano 2100 o nível do mar deve subir 30 centímetros, inundando costas litorâneas, fazendo desaparecer ilhas, abalando economias e prejudicando ainda mais os já vulneráveis. E a razão principal para tudo isso é o aumento da temperatura provocada pela ação humana. Outros elementos naturais, como explosões solares e a ativação de vulcões, por exemplo, também colaboram para esse cenário.
Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Márcia Barbosa
Para se ter uma ideia, o
testemunho de gelo mais antigo coletado na Antártica, que é como os cientistas
chamam as amostras de gelo que estudam, tem 350 mil anos, e ela já registra a
presença de dióxido de carbono. Essa amostra de gelo é comparada com outra, do
período industrial, onde a presença de dióxido de carbono é infinitamente maior e onde houve
significativo aumento da temperatura global como resultado do impulso fabril
sem cuidados com o meio ambiente, além do uso de carvão para aquecimento em
toda a Europa e também na América do Norte.
O professor Jefferson Simões, PhD em Glaciologia, que participou de 29 viagens polares, assim como Francisco Eliseu Aquino, geógrafo, mestre em geleiras, e Venisse Schossler, geógrafa, pesquisadora polar, os três da UFRGS, falaram sobre a visível consequência do aquecimento global no mundo. Eles alertaram sobre o derretimento de glaciares nos Andes, com o fechamento de vários hotéis, estações de esqui e o fim de comunidades, por falta de neve e de água. “A dinâmica da vida na Terra está mudando”, disse Simões.
O professor Jefferson Simões, PhD em Glaciologia
O cientista José Marengo, do
Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden),
observou que o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS tem condições
de oferecer todas as respostas necessárias para que Porto Alegre não seja
vítima de outra enchente. “Aqui há especialistas capazes de resolver a questão,
mas não foram procurados”, se referindo ao fato do prefeito, Sebastião Melo
(MDB), ter viajado à Holanda, junto com o governador do estado, Eduardo Leite,
em busca de estratégias para prevenir catástrofes hídricas.
Para o cientista Carlos Nobre, pesquisador titular da Universidade de São Paulo (USP), integrante da Academia Brasileira e da Academia Global de Ciência, “não estamos mais falando de mudança climática e sim de emergência climática”. Nobre alertou que a comunidade científica internacional estima que a temperatura subirá 2,5°C até 2050, tornando a vida inviável em várias regiões, podendo levar a população a um ponto de não retorno. “Se não revertemos nosso modo de produzir e de consumir, na América do Sul a vida só será possível próxima a cordilheira dos Andes, por conta da umidade, o restante será um grande cerrado ou até mesmo um deserto”.
Carlos Nobre é pesquisador titular da Universidade de São Paulo (USP)
A enchente
A chuva no mês de maio de
2024, em Porto Alegre, foi de 12 bilhões de metros cúbicos, ou 12 trilhões de
litros. Essa quantidade de água equivale a quatro milhões de piscinas
olímpicas. Para ajudar a entender esse volume, uma piscina olímpica tem 50
metros de comprimento, 25 de largura e três metros de profundidade. Os dados
são do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), e o cálculo foi feito a partir
de imagens de satélite.
A enchente aconteceu não só
porque choveu muito, mas também porque um sistema de alta pressão fez com que
as nuvens permanecem sobre o Rio Grande do Sul, os rios voadores – que são
formados pela umidade da Amazônia, encontraram uma confluência que os fez
migrar para o Sul, uma instabilidade climática entrou no estado pela Argentina
e muitos equipamentos contra enchente estavam sem manutenção, além de várias
edificações serem em áreas de risco ou em locais de aterro.
E o que fazer? Essa pergunta
foi de todos. E várias sugestões surgiram, como dar manutenção para
equipamentos contra cheias, construir pontes, estradas e prédios resistentes a
catástrofes climáticas, não edificar em áreas de risco e em áreas alagadas, ter
programas de acolhimento para populações vulneráveis, melhores práticas de
ocupação do solo e de produção agropecuária, combater o negacionismo climático,
ter um plano eficiente de rota de fuga e de proteção para a população e uma
estratégia de comunicação de risco.
Ministério da Saúde terá um
centro para enfrentar epidemias
A médica Margareth Dalcomo é
a mulher que cancelou o Natal no Brasil. No dia 23 de dezembro de 2020, a
pesquisadora da Fiocruz foi ao Jornal Nacional para dizer que não poderia haver
confraternização natalina por causa da pandemia de covid-19, as pessoas
deveriam ficar em reclusão. E agora ela volta ao cenário para contar que faz
parte do seleto grupo de especialistas que vai orientar o Ministério da Saúde
na construção de uma entidade para o enfrentamento de pandemias. A iniciativa
leva em conta as alterações provocadas no ambiente em consequência das mudanças
climáticas, além de fatores sociais e culturais.
O grupo deve apresentar diretrizes para a criação de um organismo federal de controle e prevenção de doenças vinculado ao Ministério da Saúde. Treze instituições ligadas ao setor de saúde e 18 especialistas da área, entre eles a pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcomo, fazem parte do grupo, que tem prazo de 60 dias para entregar a proposta. A portaria do Ministério da Saúde, de 11 de março de 2025, assinada pelo ministro Alexandre Padilha, determinando a criação do organismo, também estabeleceu que o grupo de trabalho deve elaborar propostas que ajudem o país a ampliar sua capacidade de resposta para as emergências em saúde.
Pesquisadora Margareth Dalcomo integra grupo que discute a iniciativa
Mas a pesquisadora adverte:
“O novo organismo não é um CDC [Centro de Controle e Prevenção de Doenças],
ainda não definimos como será”. O CDC, em inglês Centers for Disease Control
and Prevention, é a agência nacional de saúde pública dos Estados Unidos, com
sede em Atlanta, na Geórgia. O órgão é responsável por combater doenças e
proteger a saúde das pessoas.
O CDC realiza pesquisas,
desenvolve políticas e trabalha em conjunto com parceiros globais para
responder a crises de saúde pública. Procurado pela reportagem, outro
especialista do grupo, epidemiologista, respondeu de forma semelhante: “Ainda
não temos o desenho do futuro centro, mas temos evitado comparar com o CDC”. E
acrescenta que os participantes foram organizados em três grupos temáticos,
portanto, “o perfil da instituição só será vislumbrado quando o produto de
trabalho dos três grupos for reunido e analisado”.
Palestrante do Summit em Mudanças Climáticas, organizado pela UFRGS, em Porto Alegre, Dalcomo sugeriu que houvesse uma nova definição para a espécie humana, que deixaria de ser homo sapiens para se tornar “homo cretinus”. Isto, segundo ela, porque todas as alterações sofridas pelo planeta Terra foram resultado de acidentes com meteoros ou do impacto das placas teutônicas, mas, agora, as alterações são causadas conscientemente pela ação humana.
Aquecimento Global gera as Mudanças Climáticas
Ela destaca os riscos de
enfermidades já controladas voltarem e de doenças desconhecidas emergirem em
função do aumento da temperatura global e suas consequências sobre todo o
planeta. A pesquisadora da Fiocruz atribui ao negacionismo das autoridades
públicas a volta do sarampo, enfermidade que estava controlada no mundo, os
milhões de mortes por Covid, em especial os óbitos registrados no Brasil, e a
queda nas coberturas vacinais, resultado da falta de campanhas de
sensibilização em vários estados e da falta de compromisso social das
prefeituras, que não solicitam imunizantes em quantidade suficiente para
atender a população e não informam o local onde o produto está disponível.
(brasildefato)
Nenhum comentário:
Postar um comentário