sábado, 13 de setembro de 2025

A situação da fecundidade no mundo

Fecundidade fica abaixo do nível de reposição em 20 das 22 maiores economias do mundo

A fecundidade no mundo está em declínio acentuado, com a taxa global caindo de 4,84 filhos por mulher em 1950 para 2,23 em 2021, e projetada para 1,59 em 2100. A taxa de 2,1 filhos por mulher, necessária para a reposição populacional, já é inferior ao necessário em 2/3 da população global. Essa queda é impulsionada por fatores como o aumento da educação feminina, a inserção no mercado de trabalho, incertezas financeiras e, em muitos países, pela maior autonomia da mulher nas decisões sobre ter filhos.

Tendências Globais

Declínio Consistente:

A fecundidade mundial vem diminuindo desde a década de 1960, coincidindo com o início do uso disseminado da pílula anticoncepcional.

Abaixo da Reposição:

Atualmente, a maioria dos países e 2/3 da população mundial vive em áreas com taxas de fertilidade inferiores a 2,1 filhos por mulher, que é o nível de reposição populacional.

Projeções Futuras:

As projeções indicam que a taxa global continuará a cair, chegando a 1,83 em 2050 e a 1,59 em 2100.

Fatores que Contribuem para a Queda

Educação e Mercado de Trabalho:

O aumento da escolaridade feminina e a maior inserção das mulheres no mercado de trabalho, apesar dos desafios de desemprego e progressão de carreira, levam a um adiamento da maternidade e à redução do número de filhos.

Cultura e Escolhas individuais:

Mulheres e casais têm mais autonomia para decidir quando e quantos filhos ter, levando em conta a situação econômica, familiar e de carreira.

Incerteza Financeira:

A instabilidade econômica e a incerteza financeira podem agravar a decisão de não ter filhos, especialmente para os homens, que podem sentir que precisam ter um nível socioeconômico mais alto para formar uma família.

Mudanças Sociais:

A evolução da posição da mulher na família e na sociedade tem um impacto direto nas decisões reprodutivas.

Consequências

Envelhecimento Populacional:

A queda da natalidade, combinada com o aumento da longevidade, contribui para o envelhecimento populacional em muitos países.

Diminuição da População:

Estima-se que, até 2050, a população de muitos países diminua em consequência dos baixos níveis de fertilidade.

Contexto em Diferentes Regiões

Europa:

Países como Itália e alguns da Europa Oriental já têm populações envelhecidas e taxas de fecundidade muito baixas.

África:

Nove dos dez países com as maiores taxas de fertilidade estão na África, como a Guiné-Bissau e Moçambique.

Brasil:

A taxa de fecundidade no Brasil atingiu um nível histórico baixo, com 1,6 filho por mulher no Censo 2022, e a idade média para se tornar mãe subiu.
Média de filhos por mulher chega ao menor patamar da história no Brasil

A Divisão de População da ONU divulgou, em abril/2025, o relatório “World Fertility 2024” traçando um cenário da evolução da fecundidade global nas últimas décadas e, com projeções até 2100. A transição da fecundidade é uma realidade na maioria dos países.

A figura 1.1 mostra que a taxa total de fecundidade (TFT) no mundo estava em torno de 5 filhos por mulher entre 1950 e 1970 e caiu para 2,2 filhos por mulher em 2024, devendo cair para 1,8 filhos por mulher no ano 2100, de acordo com as projeções da revisão 2024. Nota-se que a revisão das projeções de 2024 são mais baixas do que as projeções da revisão 2013. A pandemia da covid-19 contribuiu para reduzir a fecundidade global.

Níveis de fecundidade inferiores a 2 nascimentos por mulher estão se tornando a norma global.

Em mais da metade de todos os países e regiões (55%), com mais de dois terços da população global, o nível de fecundidade está abaixo de 2,1 nascimentos por mulher. Este grupo abrange todas as regiões e faixas de renda e inclui algumas das nações mais populosas do mundo, como Índia, China, Estados Unidos da América, Brasil e Federação Russa.

Um em cada 6 países e regiões (17%) tinha níveis de fecundidade acima de 2,1 em 2024, mas a projeção é de que caiam abaixo desse nível nos próximos 30 anos. Os países mais populosos deste grupo são Indonésia e Bangladesh.

Uma fecundidade muito baixa leva ao decrescimento populacional e a uma população muito mais velha. Em mais de 1 em cada 10 países e regiões em todo o mundo, a fecundidade está agora abaixo de 1,4 nascimentos por mulher. Em quatro países – China, República da Coreia, Cingapura e Ucrânia – está abaixo de 1,0.

Se mantidos por décadas, níveis de fecundidade abaixo de 1,4 nascimentos por mulher resultam em rápido declínio populacional e em uma mudança pronunciada na distribuição etária da população em direção a idades mais avançadas.

Nas projeções das Nações Unidas sobre a população futura de países e áreas com fecundidade muito baixa, presume-se que o número de nascimentos por mulher aumente ligeiramente acima dos níveis atuais, permanecendo muito baixo. Um retorno a níveis de fecundidade de 2,1 ou mais nos próximos 30 anos parece muito improvável.

A fecundidade também vem caindo em países com taxas de natalidade mais altas. Atualmente, os níveis de fecundidade estão em ou acima de 2,1 nascimentos por mulher em 45% dos países e áreas do mundo, que abrigam cerca de da população global.

Mais de 1 em cada 10 países e áreas (13%) ainda apresentam níveis de fecundidade de 4 ou mais. Este grupo é encontrado principalmente na África Subsaariana, mas também inclui Afeganistão, Sudão e Iêmen. O maior país deste grupo é a Nigéria.

Prevê-se que a fecundidade continue a cair nos países com níveis de fecundidade elevados atualmente. Não se prevê que nenhum país ou região apresente um nível de fecundidade superior a 4,0 em 2054 e menos de um terço (30%) ainda terá fecundidade acima de 2,1 nascimentos por mulher.

A figura 1.3 mostra que existe uma relação inversa entre o nível da fecundidade e o nível de renda per capita dos países. Quanto maior o nível de renda per capita menor é o nível das taxas de fecundidade. A maioria absoluta dos países com alto nível de renda possuem TFT abaixo do nível de reposição (2,1 filhos por mulher) e todos eles possuem TFT abaixo de 3 filhos por mulher.

A maioria dos países de renda média alta também possuem TFT abaixo do nível de reposição e todos eles possuem TFT abaixo de 4 filhos por mulher. Já a maioria dos países de renda média baixa possuem TFT acima do nível de reposição.

Já os países de renda baixa possuem as maiores taxas de fecundidade. Nenhum país de baixa renda possui TFT abaixo do nível de reposição e alguns países possuem TFT acima de 5 filhos por mulher, as taxas mais altas do mundo.
O fato é que a redução das taxas de fecundidade é uma realidade na maioria dos países e o menor número de filho por família é um pré-requisito para o aumento da renda e do bem-estar da população.

Existe um processo recíproco de fortalecimento mútuo, com um fenômeno afetando o outro. Um fator influencia e reforça o outro de diversas maneiras:

Como o desenvolvimento econômico e social leva à queda da taxa de fecundidade:

• Maior acesso à educação, especialmente para mulheres: Mulheres mais escolarizadas tendem a casar mais tarde, ter menos filhos e investir mais em suas carreiras profissionais. A educação também aumenta a conscientização sobre planejamento familiar e o uso de métodos contraceptivos.

• Urbanização: A vida urbana geralmente implica em custos mais elevados para criar filhos (habitação, educação, etc.) e oferece mais oportunidades de emprego para as mulheres fora do lar, o que pode levar a famílias menores.

• Maior participação da mulher no mercado de trabalho: Com mais oportunidades de emprego e maior autonomia econômica, as mulheres podem optar por ter menos filhos ou postergar a maternidade para investir em suas carreiras.

• Melhor acesso a serviços de saúde e planejamento familiar: A disponibilidade de serviços de saúde reprodutiva e métodos contraceptivos permite que casais planejem o tamanho de suas famílias de forma mais eficaz.

• Redução da mortalidade infantil: Com menores taxas de mortalidade infantil, os pais não sentem a necessidade de ter muitos filhos para garantir que alguns sobrevivam até a idade adulta.

• Mudança de valores e expectativas: O desenvolvimento econômico e social geralmente leva a uma mudança nos valores sociais, com maior ênfase na qualidade de vida, na educação dos filhos e nas aspirações individuais, em detrimento de famílias numerosas.

• Aumento do custo de vida e dos investimentos nos filhos: Em sociedades mais desenvolvidas, o custo de criar e educar um filho aumenta significativamente, levando os casais a optarem por ter menos filhos e investir mais em cada um deles.

Como a queda da taxa de fecundidade impulsiona o desenvolvimento econômico e social:

• Bônus demográfico: Uma queda na taxa de fecundidade leva a uma maior proporção de pessoas em idade ativa em relação à população dependente (crianças e idosos). Esse “bônus demográfico” pode impulsionar o crescimento econômico, pois há mais pessoas trabalhando e menos dependentes para serem sustentados.

• Maior investimento em capital humano: Com famílias menores, os pais podem investir mais na educação, saúde e bem-estar de cada filho, levando a uma força de trabalho mais qualificada e produtiva no futuro.

• Maior participação feminina na força de trabalho: Com menos filhos para cuidar, mais mulheres podem ingressar e permanecer no mercado de trabalho, aumentando a força de trabalho disponível e contribuindo para o crescimento econômico.

• Aumento da poupança e do investimento: Famílias menores podem ter maior capacidade de poupança e investimento, o que pode impulsionar o desenvolvimento econômico.

• Menor pressão sobre os recursos naturais e o meio ambiente: Uma população com crescimento mais lento exerce menor pressão sobre os recursos naturais, infraestrutura e o meio ambiente, contribuindo para um desenvolvimento mais sustentável.

• Maior flexibilidade econômica: Uma população com taxas de fecundidade mais baixas pode se adaptar mais facilmente a mudanças econômicas e tecnológicas.
Em resumo, a queda da taxa de fecundidade e o desenvolvimento econômico e social estão intrinsecamente ligados em um ciclo de retroalimentação positiva. O desenvolvimento leva à redução do tamanho das famílias, o que, por sua vez, cria condições mais favoráveis para um maior desenvolvimento econômico e social.

É importante notar que esse processo pode variar em ritmo e intensidade entre diferentes países e regiões, influenciado por fatores culturais, políticos e históricos específicos. Mas as relações são inequívocas. (ecodebate)

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