A fecundidade no mundo está
em declínio acentuado, com a taxa global caindo de 4,84 filhos por mulher em
1950 para 2,23 em 2021, e projetada para 1,59 em 2100. A taxa de 2,1 filhos por
mulher, necessária para a reposição populacional, já é inferior ao necessário
em 2/3 da população global. Essa queda é impulsionada por fatores como o
aumento da educação feminina, a inserção no mercado de trabalho, incertezas
financeiras e, em muitos países, pela maior autonomia da mulher nas decisões
sobre ter filhos.
Tendências Globais
Declínio Consistente:
A fecundidade mundial vem
diminuindo desde a década de 1960, coincidindo com o início do uso disseminado
da pílula anticoncepcional.
Abaixo da Reposição:
Atualmente, a maioria dos
países e 2/3 da população mundial vive em áreas com taxas de fertilidade
inferiores a 2,1 filhos por mulher, que é o nível de reposição populacional.
Projeções Futuras:
As projeções indicam que a
taxa global continuará a cair, chegando a 1,83 em 2050 e a 1,59 em 2100.
Fatores que Contribuem para a
Queda
Educação e Mercado de
Trabalho:
O aumento da escolaridade
feminina e a maior inserção das mulheres no mercado de trabalho, apesar dos
desafios de desemprego e progressão de carreira, levam a um adiamento da
maternidade e à redução do número de filhos.
Cultura e Escolhas
individuais:
Mulheres e casais têm mais
autonomia para decidir quando e quantos filhos ter, levando em conta a situação
econômica, familiar e de carreira.
Incerteza Financeira:
A instabilidade econômica e a
incerteza financeira podem agravar a decisão de não ter filhos, especialmente
para os homens, que podem sentir que precisam ter um nível socioeconômico mais
alto para formar uma família.
Mudanças Sociais:
A evolução da posição da
mulher na família e na sociedade tem um impacto direto nas decisões
reprodutivas.
Consequências
Envelhecimento Populacional:
A queda da natalidade,
combinada com o aumento da longevidade, contribui para o envelhecimento
populacional em muitos países.
Diminuição da População:
Estima-se que, até 2050, a
população de muitos países diminua em consequência dos baixos níveis de
fertilidade.
Contexto em Diferentes Regiões
Europa:
Países como Itália e alguns
da Europa Oriental já têm populações envelhecidas e taxas de fecundidade muito
baixas.
África:
Nove dos dez países com as
maiores taxas de fertilidade estão na África, como a Guiné-Bissau e Moçambique.
Brasil:
A Divisão de População da ONU
divulgou, em abril/2025, o relatório “World Fertility 2024” traçando um cenário
da evolução da fecundidade global nas últimas décadas e, com projeções até
2100. A transição da fecundidade é uma realidade na maioria dos países.
A figura 1.1 mostra que a
taxa total de fecundidade (TFT) no mundo estava em torno de 5 filhos por mulher
entre 1950 e 1970 e caiu para 2,2 filhos por mulher em 2024, devendo cair para
1,8 filhos por mulher no ano 2100, de acordo com as projeções da revisão 2024.
Nota-se que a revisão das projeções de 2024 são mais baixas do que as projeções
da revisão 2013. A pandemia da covid-19 contribuiu para reduzir a fecundidade
global.
Níveis de fecundidade
inferiores a 2 nascimentos por mulher estão se tornando a norma global.
Em mais da metade de todos os países e regiões (55%), com mais de dois terços da população global, o nível de fecundidade está abaixo de 2,1 nascimentos por mulher. Este grupo abrange todas as regiões e faixas de renda e inclui algumas das nações mais populosas do mundo, como Índia, China, Estados Unidos da América, Brasil e Federação Russa.
Um em cada 6 países e regiões (17%) tinha níveis de fecundidade acima de 2,1 em 2024, mas a projeção é de que caiam abaixo desse nível nos próximos 30 anos. Os países mais populosos deste grupo são Indonésia e Bangladesh.
Uma fecundidade muito baixa
leva ao decrescimento populacional e a uma população muito mais velha. Em mais
de 1 em cada 10 países e regiões em todo o mundo, a fecundidade está agora
abaixo de 1,4 nascimentos por mulher. Em quatro países – China, República da
Coreia, Cingapura e Ucrânia – está abaixo de 1,0.
Se mantidos por décadas,
níveis de fecundidade abaixo de 1,4 nascimentos por mulher resultam em rápido
declínio populacional e em uma mudança pronunciada na distribuição etária da
população em direção a idades mais avançadas.
Nas projeções das Nações
Unidas sobre a população futura de países e áreas com fecundidade muito baixa,
presume-se que o número de nascimentos por mulher aumente ligeiramente acima
dos níveis atuais, permanecendo muito baixo. Um retorno a níveis de fecundidade
de 2,1 ou mais nos próximos 30 anos parece muito improvável.
A fecundidade também vem
caindo em países com taxas de natalidade mais altas. Atualmente, os níveis de
fecundidade estão em ou acima de 2,1 nascimentos por mulher em 45% dos países e
áreas do mundo, que abrigam cerca de ⅓
da população global.
Mais de 1 em cada 10 países e
áreas (13%) ainda apresentam níveis de fecundidade de 4 ou mais. Este grupo é
encontrado principalmente na África Subsaariana, mas também inclui Afeganistão,
Sudão e Iêmen. O maior país deste grupo é a Nigéria.
Prevê-se que a fecundidade
continue a cair nos países com níveis de fecundidade elevados atualmente. Não
se prevê que nenhum país ou região apresente um nível de fecundidade superior a
4,0 em 2054 e menos de um terço (30%) ainda terá fecundidade acima de 2,1
nascimentos por mulher.
A figura 1.3 mostra que
existe uma relação inversa entre o nível da fecundidade e o nível de renda per
capita dos países. Quanto maior o nível de renda per capita menor é o nível das
taxas de fecundidade. A maioria absoluta dos países com alto nível de renda
possuem TFT abaixo do nível de reposição (2,1 filhos por mulher) e todos eles
possuem TFT abaixo de 3 filhos por mulher.
A maioria dos países de renda
média alta também possuem TFT abaixo do nível de reposição e todos eles possuem
TFT abaixo de 4 filhos por mulher. Já a maioria dos países de renda média baixa
possuem TFT acima do nível de reposição.
Existe um processo recíproco
de fortalecimento mútuo, com um fenômeno afetando o outro. Um fator influencia
e reforça o outro de diversas maneiras:
Como o desenvolvimento
econômico e social leva à queda da taxa de fecundidade:
• Maior acesso à educação,
especialmente para mulheres: Mulheres mais escolarizadas tendem a casar mais
tarde, ter menos filhos e investir mais em suas carreiras profissionais. A
educação também aumenta a conscientização sobre planejamento familiar e o uso
de métodos contraceptivos.
• Urbanização: A vida urbana
geralmente implica em custos mais elevados para criar filhos (habitação, educação,
etc.) e oferece mais oportunidades de emprego para as mulheres fora do lar, o
que pode levar a famílias menores.
• Maior participação da
mulher no mercado de trabalho: Com mais oportunidades de emprego e maior
autonomia econômica, as mulheres podem optar por ter menos filhos ou postergar
a maternidade para investir em suas carreiras.
• Melhor acesso a serviços de
saúde e planejamento familiar: A disponibilidade de serviços de saúde
reprodutiva e métodos contraceptivos permite que casais planejem o tamanho de
suas famílias de forma mais eficaz.
• Redução da mortalidade
infantil: Com menores taxas de mortalidade infantil, os pais não sentem a
necessidade de ter muitos filhos para garantir que alguns sobrevivam até a
idade adulta.
• Mudança de valores e
expectativas: O desenvolvimento econômico e social geralmente leva a uma
mudança nos valores sociais, com maior ênfase na qualidade de vida, na educação
dos filhos e nas aspirações individuais, em detrimento de famílias numerosas.
• Aumento do custo de vida e
dos investimentos nos filhos: Em sociedades mais desenvolvidas, o custo de
criar e educar um filho aumenta significativamente, levando os casais a optarem
por ter menos filhos e investir mais em cada um deles.
Como a queda da taxa de
fecundidade impulsiona o desenvolvimento econômico e social:
• Bônus demográfico: Uma
queda na taxa de fecundidade leva a uma maior proporção de pessoas em idade
ativa em relação à população dependente (crianças e idosos). Esse “bônus
demográfico” pode impulsionar o crescimento econômico, pois há mais pessoas
trabalhando e menos dependentes para serem sustentados.
•
Maior investimento em capital humano: Com famílias menores, os pais podem
investir mais na educação, saúde e bem-estar de cada filho, levando a uma força
de trabalho mais qualificada e produtiva no futuro.
• Maior participação feminina
na força de trabalho: Com menos filhos para cuidar, mais mulheres podem
ingressar e permanecer no mercado de trabalho, aumentando a força de trabalho
disponível e contribuindo para o crescimento econômico.
• Aumento da poupança e do
investimento: Famílias menores podem ter maior capacidade de poupança e
investimento, o que pode impulsionar o desenvolvimento econômico.
• Menor pressão sobre os
recursos naturais e o meio ambiente: Uma população com crescimento mais lento
exerce menor pressão sobre os recursos naturais, infraestrutura e o meio
ambiente, contribuindo para um desenvolvimento mais sustentável.
É importante notar que esse
processo pode variar em ritmo e intensidade entre diferentes países e regiões,
influenciado por fatores culturais, políticos e históricos específicos. Mas as
relações são inequívocas. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário