sábado, 13 de setembro de 2025

Mudanças climáticas e modelagem de vazões

As mudanças climáticas impactam as vazões de rios ao alterar os padrões de precipitação e evaporação, exigindo modelos hidrológicos para prever essas alterações. Essa modelagem envolve o uso de modelos climáticos e hidrológicos para simular o ciclo da água sob cenários futuros, auxiliando no planejamento e gestão de recursos hídricos, essencial para a adaptação a secas e cheias mais frequentes e intensas.

Como as mudanças climáticas afetam as vazões:

Alteração no regime de chuvas:

As mudanças climáticas podem intensificar secas e inundações, modificando a frequência e o volume das chuvas, o que diretamente afeta as vazões de rios e o suprimento de água.

Aumento da evaporação:

Temperaturas mais elevadas aumentam a umidade que a atmosfera pode reter, mas também elevam a evaporação da terra e a demanda por água, especialmente para irrigação, impactando o ciclo hídrico.

Impacto no ciclo hidrológico:

O ciclo da água é acelerado, afetando a circulação da água, a precipitação e o escoamento.

O papel da modelagem:

Modelos climáticos:

Utilizam dados históricos e preveem tendências futuras do clima, como aquecimento global, considerando forçantes externos.

Modelos hidrológicos:

Simulados com base em dados climáticos, esses modelos analisam o comportamento das bacias hidrográficas e preveem como as vazões responderão aos cenários climáticos.

Ferramentas para a gestão:

A modelagem permite a criação de cenários futuros de disponibilidade hídrica e a compreensão dos impactos das mudanças climáticas, servindo de base para a tomada de decisões.

Importância da integração:

Planejamento de recursos hídricos:

É fundamental incorporar estudos de mudanças climáticas na gestão de recursos hídricos, integrando a modelagem hidrológica a planos setoriais.

Adaptação e resiliência:

A modelagem ajuda a definir estratégias de adaptação e a fortalecer a resiliência dos sistemas hídricos frente a eventos extremos.

Segurança hídrica:

Compreender esses impactos é vital para garantir a segurança hídrica, especialmente com as mudanças climáticas se tornando uma questão presente e não apenas futura.

Se nada for feito, é grande a chance de termos apagões'. (Jerson Kelman)

Há muita discussão se os modelos matemáticos utilizados no planejamento da operação do SIN subestimam ou não a probabilidade de futuras secas, com consequências sobre as relações.

Esta é uma breve visão pessoal de como chegamos até aqui. Em 1976 ingressei no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), me juntando a uma qualificada equipe de pesquisadores. Nossa tarefa era desenvolver modelos matemáticos para otimização e simulação do Sistema Interligado Nacional - SIN.

Inicialmente optamos por modelos probabilísticos do tipo estacionário-markoviano. São modelos que procuram imitar a maneira aleatória como a Natureza “sorteia” futuras vazões mensais afluentes às usinas hidroelétricas, assumindo que as regras probabilísticas não mudam com o passar dos anos (hipótese de estacionariedade), e que cada sorteio depende apenas da situação presente; não do passado.

Notamos que essa modelagem subestima a persistência das vazões agregadas na escala anual, observada nos registros históricos de vazões. Ou seja, ao agregar as vazões mensais produzidas pelo modelo mensal (AR1) em vazões anuais, observava-se menos episódios de anos consecutivos de seca do que o registro histórico mostrava. Era um indício de que o planejamento energético poderia estar sendo feito com base numa visão otimista do futuro - muita água chegando às usinas hidroelétricas -  que seria indutora de decisões equivocadas no presente.

Enfrentamos o problema combinando um modelo estacionário-markoviano na escala anual, capaz de capturar a persistência interanual, com um modelo de desagregação para transformar as vazões sintéticas anuais em mensais. Porém, essa abordagem era incompatível com o algoritmo de otimização da operação na escala mensal.

Uma alternativa intermediária, adotada até hoje, foi manter a modelagem na escala mensal, porém aumentando a “memória”. Ou seja, fizemos a suposição que a distribuição de probabilidades das vazões no mês t não depende apenas da vazão observada em t-1, mas também das vazões observadas em t-2, t-3... t-p (modelo ARp).

Atualmente essa aproximação tem se revelado cada vez menos satisfatória devido à não-estacionariedade causada pelas mudanças climáticas. Para cada grau Celsius de aquecimento global, aumenta em 7% a quantidade de água retida na atmosfera. Significa que a atmosfera está ficando mais “sedenta”, o que explica a ocorrência de secas mais frequentes e intensas.

Por outro lado, em situações de instabilidade atmosférica, a maior quantidade de água existente na atmosfera despenca abruptamente, o que explica a ferocidade das enchentes.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) tem definido “parâmetros de aversão ao risco” para contrabalançar o otimismo do modelo em uso. Todavia, como essas adaptações são arbitrárias, costumam criar conflitos entre os que são beneficiados e os que são prejudicados. Melhor seria avançar por outros caminhos.

Planeta TERRA está doente!!!

Por exemplo, usar Inteligência Artificial para combinar a modelagem probabilística com Modelos Globais de Circulação - MGCs, que utilizam as leis fundamentais da física. Como os MGCs fazem projeções de temperatura, padrões de vento e precipitações já considerando os efeitos do aquecimento global, são intrinsicamente não estacionários. Para quem quiser saber mais sobre essa possibilidade, recomendo leitura do Energy Report 222, da PSR. (brasilenergia)

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