Por que a recuperação é
possível?
Resiliência da Floresta: A
Amazónia possui resiliência e capacidade de regeneração, especialmente em áreas
com continuidade de cobertura vegetal, diversidade de espécies e apoio
comunitário.
Vegetação Secundária: Existem
milhões de hectares com vegetação secundária em processo natural de regeneração
que podem voltar a ser floresta madura se for mantida.
O que é preciso para evitar o
colapso?
Medidas Urgentes e
Coordenadas: É fundamental adotar ações conjuntas e rápidas para reverter a
degradação.
Redução do Desmatamento: A
diminuição do desmatamento é vista como a principal linha de defesa para
proteger a floresta.
Restauração de Áreas: A
recuperação de paisagens degradadas e a restauração da vegetação nativa são
essenciais.
Manejo de Incêndios: Medidas
eficazes para controlar e combater incêndios florestais são cruciais.
Apoio a Povos Indígenas e
Comunidades Tradicionais: A cooperação com esses grupos é fundamental para a
conservação.
Fortalecimento de Políticas
Públicas: Políticas públicas bem implementadas e fiscalização são necessárias
para combater o desmatamento ilegal e promover a sustentabilidade.
Os riscos do não-agir:
Múltiplos Colapsos: A
Amazónia enfrenta diversos riscos de colapsos ecológicos, causados por
desmatamento, mudanças climáticas e incêndios, que podem ocorrer em diferentes
regiões da floresta.
"Efeito Martelo": Para
além de um "ponto de não retorno", existe o "efeito
martelo", que é a pressão intensa sobre os ecossistemas que resulta na
perda de biodiversidade e serviços ambientais sem a necessidade de atingir um
único ponto de colapso.
Estudo elaborado por
pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e de
instituições nacionais e internacionais mostra que a recuperação de boa parte
da Amazônia ainda é possível — desde que sejam adotadas medidas urgentes e
coordenadas de conservação. A informação consta no artigo “Pontos de não
retorno das florestas amazônicas: para além dos mitos e em direção a soluções”,
publicado na revista científica Annual Review of Environment and Resources.
No documento, os
pesquisadores argumentam que ainda há grandes incertezas sobre o entendimento
de um tipping point (ponto de não retorno, em português) único para todo o
sistema amazônico. Segundo o estudo, há, na realidade, múltiplos riscos para
colapsos ecológicos com diferentes características para diferentes regiões da
Amazônia, que resultam de combinações de desmatamento, mudanças climáticas, perda
de fauna e incêndios florestais. No entanto, a boa notícia é que vários desses
riscos podem ser evitados com ações ambiciosas e imediatas.
“Embora as mudanças
climáticas e os distúrbios locais já estejam provocando grandes transformações
negativas na Amazônia, a falta de evidências de um colapso florestal iminente
causado exclusivamente pelo clima (sem o fator fogo) também representa uma
janela crucial de oportunidade. O destino da Amazônia não está predeterminado
por um único ponto de não retorno — as escolhas, políticas e ações tomadas hoje
podem direcionar a região para um futuro mais sustentável”, diz o artigo.
Segundo Paulo Brando,
pesquisador do IPAM que liderou o estudo, a hipótese de um tipping point que
pode levar a Amazônia a entrar em uma “espiral da morte” é importante para as
políticas públicas e para a percepção do público. Porém, de acordo com o
artigo, “enfatizar demais” a iminência do ponto de não retorno sem levar em
consideração algumas das suas incertezas pode resultar em um sentimento de
fatalismo, reduzindo possíveis respostas proativas.
Para além do conceito de
tipping point climático, Brando afirma que há um outro tipo de hipótese
relacionada ao potencial colapso da floresta que é ainda mais urgente: o
chamado “efeito martelo”.
“O ‘efeito martelo’ é como se
a gente colocasse uma pressão tão grande nos ecossistemas que acaba resultando
na perda de grande parte da biodiversidade e dos serviços dessas regiões mesmo
sem um tipping point climático evidente. É uma pressão direta que está
acontecendo agora, e não daqui décadas devido a um potencial colapso
climático”, afirma.
Doutor em Ecologia
Interdisciplinar e professor da Universidade Yale, nos Estados Unidos, Brando
defende que o “efeito martelo” seja interrompido imediatamente para mantermos
os serviços ecossistêmicos da Amazônia. O fenômeno é citado pelo artigo como
sendo um dos principais motores para as perdas de ecossistema e fauna na
floresta, sendo que os seus efeitos estão sendo sentidos agora em quase toda a
Amazônia.
Para Brando, o artigo trouxe
a mensagem positiva de que as florestas que estão sob a pressão do “efeito
martelo” têm uma alta resiliência. “Se a gente remover essa imensa pressão
causada pela fragmentação, defaunação, fogo, exploração madeireira, dentre
outras, as florestas têm uma chance de sobreviver, principalmente, nas regiões
mais conectadas e com o esforço de restauração”, declara.
Resiliência e medidas para
reverter a perda da Amazônia
O artigo afirma que a
resiliência da Amazônia ainda existe, embora esteja em declínio em algumas
áreas. O estudo explica que a floresta segue tendo capacidade de regeneração,
especialmente onde há continuidade de cobertura vegetal, diversidade de
espécies e apoio das comunidades locais.
“Florestas inseridas em uma
matriz com alta cobertura florestal podem recuperar rapidamente a biomassa e a
riqueza de espécies arbóreas”, diz o texto.
Na avaliação de Joice
Ferreira, bióloga e pesquisadora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária), a principal mensagem deixada pelo artigo é que eventuais tipping
points não são o “ponto principal” no qual a sociedade e a comunidade
científica deveriam focar. Ferreira afirma que, enquanto há incertezas
sobre quando e onde pode ocorrer um ponto de não-retorno para a Amazônia, o
estudo mostra que a atenção deve estar no que pode ser efeito para evitar essas
alterações no clima, sejam elas abruptas ou graduais.
“Só existe uma certeza: temos que agir agora”, diz a pesquisadora. Ela acredita que, se a sociedade estiver mais bem informada sobre o que os riscos ambientais envolvendo a Amazônia podem representar para o futuro e para atividades essenciais para a economia brasileira, como a agricultura, a população se engajaria mais em pautas envolvendo as mudanças climáticas.
Restauração florestal em larga escala na Amazônia: o potencial da vegetação secundária
Aproveitando a resiliência da
floresta e a sua capacidade de regeneração, o artigo propõe um conjunto de
estratégias imediatas para evitar danos irreversíveis para a região. Dentre
eles, estão:
- Redução do desmatamento — a
medida é citada pelo artigo como a “primeira linha de defesa” para evitar o
colapso das florestas amazônicas;
- Restauração de paisagens;
- Manejo de incêndios
florestais;
- Fortalecimento de políticas
públicas; e
- Cooperação com povos indígenas
e comunidades tradicionais para a conservação do bioma.
Ferreira explica que as
medidas citadas são interligadas. Por exemplo, ao conservar as florestas e
tornar as paisagens mais sustentáveis, através da restauração, a presença do
fogo é naturalmente reduzida. Ela defende a criação de uma “cultura de
proteção” por meio do aumento de governança e de melhorias no cenário das leis
de proteção nacional como uma forma de incentivar uma sociobioeconomia, ou,
como ela define, “uma economia que mantém a floresta de pé”.
Para Liana Anderson, pesquisadora do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) que também assina o estudo, a mensagem que fica é que é possível “remover” a pressão causada pelos seres humanos. Ela defende que essa ideia sugere um caminho seguro, que permitiria um desenvolvimento sustentável e uma melhora na qualidade de vida da floresta e, consequentemente, para a população mundial e para o setor produtivo do Brasil — que depende da existência da floresta.
“Independentemente de as mudanças ocorrerem de forma gradual ou abrupta, as soluções ambientais permanecem as mesmas: exigem intervenções que estabilizem o clima global, fortaleçam a governança ambiental, reduzam o aquecimento local por meio do controle do desmatamento e da restauração, e promovam o manejo do fogo. Essas estratégias já são bem conhecidas, mas implementá-las e mantê-las em larga escala continua sendo um grande desafio”, concluíram os autores, que destacaram a necessidade de um “compromisso político duradouro”, envolvendo os tomadores de decisão da Amazônia, a transformação da economia regional e liderança das comunidades locais. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário