O Índice de Preços de
Alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO) atingiu a média de 130,1 pontos em agosto de 2025, praticamente
inalterado em relação ao nível revisado de julho de 130 pontos. As quedas nos
índices de preços de cereais e laticínios foram compensadas por aumentos nos
índices de carne, açúcar e óleos vegetais.
No geral, o IPFA ficou 8,4
pontos (6,9%) acima do registrado em agosto de 2024, mas permaneceu 30,1 pontos
(18,8%) abaixo do pico atingido em março/2022 (gráfico abaixo painel da
esquerda).
O gráfico do painel da
direita mostra a evolução do preço real dos alimentos da FAO entre 1961 e 2025.
A média dos preços reais dos alimentos na década de 1960 foi de 104,7 pontos e
subiu para 110,2 pontos na década de 1970. O recorde de preços de 1974, de
137,4 pontos, ocorreu em decorrência da Guerra do Yom Kippur e do consequente
aumento do preço dos combustíveis fósseis.
Na década de 1980 a média
decenal de preços caiu para 80,7 pontos (abaixo da média de 2014-16 = 100). Com
o fim da Guerra Fria e o avanço dos acordos internacionais da governança
global, o preço dos alimentos atingiu a média decenal de 77 pontos na década de
1990, o menor valor da série histórica.
Contudo, o preço dos
alimentos voltou a aumentar no século XXI. A média decenal do preço real dos
alimentos foi de 86,4 pontos na primeira década dos anos 2000 e subiu ainda
mais para 102,9 pontos na segunda década do atual século. Até 2020, o recorde
inconteste do preço dos alimentos permanecia na década de 1970.
No entanto, a combinação dos efeitos da disrupção das cadeias produtivas ocorridas com o espalhamento da pandemia da covid-19 e com a invasão da Ucrânia pela Rússia fez o preço dos alimentos bater todos os recordes dos últimos 100 anos e atingiu 141,4 pontos em 2021. Na média quinquenal (2021-25) o índice de preços ficou em 122 pontos, bem acima do valor médio da década de 1970. Batendo todos os recordes históricos.
A meta 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) trata da “Fome Zero e Agricultura Sustentável” e propõe: “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Todavia, existe uma pedra no meio do caminho, pois há cerca de 733 milhões de pessoas que passaram fome em 2023, o equivalente a uma em cada 11 pessoas no mundo e 1 em cada 5 na África, de acordo com o relatório o Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI) divulgado por cinco agências especializadas das Nações Unidas em 2024.
O relatório mostra que o
mundo retrocedeu 15 anos, apresentando níveis de desnutrição comparáveis aos de
2008-2009. Em 2023, cerca de 2,33 bilhões de indivíduos no mundo enfrentaram
insegurança alimentar moderada ou grave, um número que não mudou
significativamente desde o aumento brusco em 2020, em meio à pandemia da
Covid-19. A população mundial deve aumentar em cerca de 1 bilhão de habitantes
até 2040, enquanto os desastres ambientais devem se agravar.
O Relatório Global sobre
Crises Alimentares, divulgado dia 16/05/2025 por diversas agências da ONU,
mostra que a crise alimentar atual piorou pelo 6º ano seguido em 53 países e
territórios frágeis. Apenas em 2024, 295 milhões de pessoas, em 53 países e
territórios analisados, enfrentaram fome aguda, quase 14 milhões a mais em
comparação com 2023.
Infelizmente, a crise
alimentar deve se agravar em 2025. A fome na Faixa de Gaza é um evento
dramático que tem alarmado o mundo. Mas a fome não se restringe ao território
de Gaza, pois dezenas de milhares de famílias que se alimentavam com o apoio de
ajuda internacional, encontram-se agora em situação de abandono.
O desmonte de agências especializadas da ONU promovido pelo governo Donald Trump, nos Estados Unidos, somado ao corte de 90% nos contratos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e à redução de US$ 60 bilhões na assistência global norte-americana, tem provocado efeitos devastadores em diversos países da África Subsaariana. A região também sofreu os impactos da diminuição de recursos por parte da França e do Reino Unido, especialmente em suas ex-colônias.
Promessa do presidente Lula de baratear alimentos será difícil de ser cumprida
Nesse contexto, a combinação
entre crise climática, conflitos armados, atraso na transição demográfica e
retração da ajuda internacional representa um sério obstáculo à ambiciosa meta
da ONU de erradicar a fome até 2030. As perspectivas atuais são pouco
animadoras, particularmente para os países de baixa renda. Um mundo livre da
fome continua uma utopia distante. (ecodebate)
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