Ações urgentes e risco de
irreversibilidade
O derretimento acelerado da
criosfera — que engloba lençóis de gelo, geleiras e o descongelamento do
permafrost — está gerando impactos rápidos, irreversíveis e desastrosos em todo
o mundo.
A criosfera é, inclusive,
considerada o “canário na mina de carvão” do sistema climático, indicando
mudanças significativas que afetam os ecossistemas globais.
Relatórios científicos
recentes, como o “Arctic Report Card” da NOAA e o “State of the Cryosphere
2024”, confirmam que o fenômeno se generalizou, com todas as regiões glaciais
do planeta registrando redução de massa. Dados alarmantes mostram que o ritmo
de derretimento das geleiras dobrou nas últimas duas décadas, contribuindo
maciçamente para a elevação dos oceanos.
O aquecimento global, impulsionado pela emissão de gases de efeito estufa, é o principal responsável por essa aceleração.
Os impactos das alterações climáticas na criosfera têm vindo a acelerar
Ameaça irreversível ao nível
do mar
A perda de massa das vastas
camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida quadruplicou desde a década de
1990, tornando-se o motor principal do aumento do nível médio global do mar. A
contribuição dessas calotas polares já supera a das geleiras de montanha.
O aumento do nível do mar é
uma das consequências mais significativas, impactando dramaticamente as zonas
costeiras. A manutenção do ritmo atual de aquecimento pode comprometer
severamente ecossistemas costeiros, infraestruturas urbanas e a segurança de
milhões de pessoas em todo o mundo.
Cientistas alertam que a meta
internacional de limitar o aquecimento a +1,5 °C acima dos níveis
pré-industriais é insuficiente e excessiva. O estudo aponta que, mesmo o
aquecimento atual, em torno de +1,2 °C, já configura um risco extremo e tem
potencial para desencadear um aumento de vários metros no nível do mar ao longo
do tempo. Para mitigar esses impactos, sugere-se que a temperatura média global
seja estabilizada em um patamar mais próximo de +1 °C.
Além disso, o derretimento dessas vastas camadas de gelo pode estar desacelerando correntes oceânicas importantes nos dois polos. Essa desaceleração tem consequências potencialmente graves, incluindo um norte da Europa mais frio e um aumento do nível do mar ao longo da costa leste dos EUA. O derretimento acelerado no Ártico, por exemplo, tem o potencial de desencadear o colapso da Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico (AMOC), crucial para a distribuição de calor no planeta.
Fim das geleiras
O Ártico em “novo regime” e o
risco do permafrost
O Ártico é uma região
particularmente sensível, aquecendo três vezes mais rápido do que a média
global. Relatórios indicam que a região está entrando em um “novo regime”, com
alterações dramáticas em comparação com décadas anteriores. As temperaturas
anuais do ar na superfície do Ártico (entre outubro de 2023 e setembro de 2024)
foram as segundas mais altas desde 1900.
As previsões são sombrias:
modelos climáticos sugerem que o Ártico pode experimentar seu primeiro verão
sem gelo marinho já em 2027. A perda de gelo nessa região ameaça ecossistemas e
espécies, como os ursos polares, cuja população pode ter um terço extinto nos
próximos 50 anos devido à redução do território de caça e reprodução.
Outra preocupação urgente é o permafrost. O permafrost, encontrado em regiões como a tundra ártica, armazena cerca de duas vezes mais carbono do que a atmosfera hoje. O seu aquecimento está levando à liberação desse carbono, agravando as mudanças climáticas. O permafrost das montanhas, que representa 30% da área global, também é extremamente sensível, com taxas de aquecimento a 10 metros de profundidade excedendo 1°C por década em várias montanhas europeias entre 2013 e 2022.
O recorde de degelo da Antártida pode ser o fim das praias do Rio de Janeiro/RJ.
Crise de recursos hídricos
O derretimento acelerado
também tem um impacto direto nos recursos hídricos globais. Cerca de 70% da
água doce da Terra está armazenada em geleiras e lençóis de gelo. A perda de
massa das geleiras atingiu um aumento alarmante, com uma perda coletiva de mais
de 600 gigatoneladas de água em 2023, o que equivale a cerca de 13% do consumo
anual de água do mundo.
A redução a longo prazo da
água armazenada como gelo afetará criticamente os futuros recursos hídricos
para ecossistemas e comunidades, especialmente aquelas que dependem do degelo
sazonal, como em partes da Ásia e da América do Sul. A urgência dessa situação
levou à declaração de 2025 como o Ano Internacional da Preservação das
Geleiras.
Ações urgentes e risco de
irreversibilidade
Em suma, as mudanças na
criosfera têm um impacto profundo e complexo nos ecossistemas globais.
Cientistas envolvidos nos
estudos alertam que a continuidade das atuais taxas de emissão coloca o planeta
em risco de ultrapassar pontos de não retorno. Se o aumento da temperatura
global ultrapassar os 2°C a longo prazo, as camadas de gelo da Groenlândia e da
Antártica podem atingir pontos de inflexão, levando a um derretimento
irreversível.
Tais conclusões destacam a
urgência de reduzir drasticamente as emissões de combustíveis fósseis e adaptar
as comunidades a estas novas realidades. A transição para fontes de energia
renovável e a implementação de políticas ambientais rigorosas são essenciais.
Além disso, os relatórios apontam a importância do conhecimento indígena na
adaptação às mudanças climáticas no Ártico.
O derretimento dos polos vai
alterar a circulação do oceano, ameaçando a biodiversidade e afetando cadeias
alimentares e ecossistemas inteiros. (ecodebate)





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