quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Por que as negociações contra poluição plástica continuam fracassando?

Negociações para tratado contra poluição por plásticos fracassam mais uma vez.

Após 11 dias de negociações, Impasse sobre limitar produção de plástico impediu assinatura do primeiro acordo global contra a crise de poluição.
A luta contra a poluição plástica não fracassa por falta de solução, mas por falta de decisão

Quando as conversas internacionais sobre poluição plástica voltam a patinar, a mensagem ao mundo é desalentadora: sabemos o que funciona, mas adiamos o que precisa ser feito. Há consenso sobre como e o que fazer, mas falta definir metas e regras com consequências reais para atingir o objetivo.

De um lado, não há quem conteste ampliar a coleta seletiva, estruturar a logística reversa, padronizar materiais e priorizar embalagens efetivamente recicláveis são pilares da solução. Também já não há dúvida de que design importa: menos multicamadas e aditivos problemáticos, cores e rótulos que não prejudiquem a triagem, e padronização que permita ganho de escala. Isso é “o que” fazer.

No entanto, persiste a divergência sobre o “quanto” produzir. Hesitamos em controlar ou reduzir a produção de matéria-prima plástica. É compreensível porque há interesses econômicos, impacto social e assimetrias entre países, mas não pode servir de pretexto para paralisar o que já está acordado. É possível avançar com metas robustas de gestão e circularidade enquanto se debate, em trilho próprio, instrumentos sobre oferta de resina virgem.
Tratado global contra o plástico: sem acordo em Genebra

Após dias de negociações intensas, representantes de 185 países encerraram o INC 5.2 sem ter consenso sobre um tratado para combater a poluição plástica.

O impasse atual revela algo incômodo: a falta de interesse em alcançar um acordo minimamente vinculante.

Se há pontos aceitos por todos, por que não os consolidar já em obrigações executórias, com prazos, métricas e mecanismos de transparência? Deixemos as divergências relevantes, tais como o controle de produção e as metas de redução absoluta para rodadas subsequentes, com metodologias e cenários bem definidos. A sociedade não pode ficar refém do “tudo ou nada”.

Enquanto isso, o mundo pisa no freio com compromissos assumidos nos últimos anos. Metas de conteúdo reciclado são relativizadas, cronogramas escorregam, cláusulas “sujeitas a condições de mercado” viram álibi para a inação. A oscilação do petróleo e a queda do preço da resina virgem corroem a competitividade do reciclado e testam a convicção das marcas. O resultado é um ciclo vicioso: a menor demanda por matéria-prima reciclada inviabiliza investimentos, que por sua vez, reduzem oferta e qualidade.

Após o fracasso das negociações da ONU em Genebra para um Tratado Global, representantes da campanha Pare o Tsunami de Plástico estão em Brasília entregando às autoridades um Manifesto que exige compromisso real do Congresso e do governo federal com a saúde das pessoas e do planeta, cobrando uma ação urgente contra a crise da poluição causada pelos plásticos.

No caso das embalagens plásticas, todos sabem que a resposta é a economia circular, o que não se resume a um slogan; é um mecanismo com engrenagens que funcionam em sincronia: Produção com design para reciclar; Descarte correto; logística reversa eficiente; Reciclagem em escala e com qualidade e; Consumo consistente da matéria-prima reciclada. Sem esta última, o mercado que compra e usa materiais reciclados é prejudicado. Quando esse mecanismo gira de forma estável, a demanda por insumos fósseis naturalmente diminui.

O problema é que conjunturas econômicas travam essa revolução. Petróleo barato torna a resina virgem mais atraente; de imediato, surgem atalhos: plantar árvores, comprar créditos de reciclagem ou ostentar selos de logística reversa que, isolados, pouco alteram a realidade do material no pós-consumo. Esses instrumentos podem ter papel complementar: financiamento, compensação, transição. Mas quando substituem o uso efetivo de matéria-prima reciclada, acabam por induzir o consumidor ao erro com um falso “missão cumprida”.

Mas chegamos na questão principal: utilizar matéria-prima reciclada é a única forma de fomentar de verdade toda a cadeia. É a combinação de preço e de volume que financia a coleta e a triagem, profissionaliza cooperativas, impulsiona a tecnologia e estabiliza a oferta.

Narrativas contrárias frequentemente buscam proteger materiais com baixa reciclabilidade ou conferir a eles um falso verniz de nobreza. Em alguns casos, opta-se por ações assistencialistas junto à base da cadeia em vez de investimentos estruturais em embalagens de fato recicláveis e recicladas.

O que fazer agora?

Negociar é conciliar ritmo e direção. A direção, todos conhecem: menos poluição, mais circularidade, menos dependência de fósseis. Já o ritmo não pode ser o da estagnação. Se a comunidade internacional não consegue, por ora, resolver tudo, que resolva o possível e já. Cada mês de paralisia fortalece a resina virgem barata, enfraquece o reciclado e mina a confiança social.

De fato, devemos estipular metas nacionais de coleta e reciclagem, padrões mínimos de reciclabilidade por categoria, rastreabilidade e transparência de dados, além de regras claras para logística reversa atribuindo responsabilidade a todos os atores do mercado.

A demanda garantida por reciclado é uma opção. Com metas obrigatórias de conteúdo reciclado (PCR) em embalagens. Já em Eco modulação e design, taxas e incentivos que tornem mais caro colocar no mercado o que não é reciclável e mais barato o que cumpre os critérios.

A blindagem contra greenwashing também é uma ferramenta. Limitar créditos e selos a um papel complementar, com verificação independente e proibição explícita de substituírem metas de uso de reciclado.

A luta contra a poluição plástica não fracassa por falta de solução, mas por falta de decisão. É hora de assinar o que já é consenso e tirar o resto do acostamento. (ecodebate)

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