quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

A queda da fecundidade não é uma trajetória irreversível

A afirmação de que a queda da fecundidade não é uma trajetória irreversível está correta, pois, embora seja uma tendência forte impulsionada por urbanização, educação e carreira, fatores como incertezas econômicas, falta de políticas públicas de apoio à parentalidade e até crises (Zika, Covid-19) podem influenciar o timing e o desejo de ter filhos, com alguns especialistas sugerindo que um ajuste demográfico de longo prazo pode ocorrer e que não é um "apocalipse populacional", mas sim uma mudança de padrões, com potenciais recuperações ou estabilizações em níveis mais baixos.
Fatores que Contribuem para a Queda:

Urbanização e Estilo de Vida: Mudança do campo para a cidade, priorizando educação e carreira.

Empoderamento Feminino: Maior participação no mercado de trabalho e busca por estabilidade.

Educação: Mulheres com maior nível de escolaridade tendem a ter menos filhos.

Planejamento Familiar: Acesso a métodos contraceptivos e maior consciência sobre parentalidade.

Crises: Pandemias e doenças (como Zika) podem acelerar a queda.

Por Que Não é Necessariamente Irreversível (ou, Pelo Menos, Não de Forma Linear):

Desejo Persistente: Muitos ainda desejam ter filhos, mas enfrentam barreiras econômicas e de estabilidade.

Falta de Apoio: A ausência de políticas públicas pode levar mulheres a desistirem da maternidade, sugerindo que apoio adequado poderia reverter a decisão.

Ajuste Demográfico: Especialistas veem um ajuste de longo prazo, não um colapso populacional, com uma possível estabilização em níveis mais baixos.

Ciclos Econômicos: Ciclos de incerteza e melhoria podem influenciar a fecundidade, como visto na década de 2020.

O Que Acontece:

A fecundidade está caindo a níveis históricos no Brasil e no mundo, mas muitas vezes por falta de condições, não por falta de vontade.

A queda gera desafios como envelhecimento da população e pressão sobre sistemas de saúde e previdência.

Portanto, a trajetória é complexa: a queda é real, mas a ideia de que é uma via de mão única sem possibilidade de modulação ou reequilíbrio futuro é contestada por análises que apontam para fatores modificáveis e desejos latentes.

O Colapso Demográfico Silencioso no Brasil: Aspectos Sociais, Ideológicos e Econômicos da Queda da Natalidade

A afirmação de que a queda da fecundidade não é uma trajetória irreversível está correta, pois a queda não é um processo unilateral e pode ser alterada por intervenções externas, políticas públicas ou mudanças sociais e econômicas. Fatores como a falta de políticas públicas de cuidado, altos custos, barreiras de gênero e desigualdades econômicas influenciam a decisão de ter menos filhos, mas políticas adequadas poderiam ajudar a reverter essa tendência.

A reversibilidade da fecundidade: A ideia de que a queda da fecundidade é irreversível não é universalmente aceita. O processo pode ser afetado por fatores externos e pode não ser totalmente unilateral, dependendo do contexto social, econômico e político.

Fatores que influenciam a queda: A queda da fecundidade não é necessariamente uma escolha voluntária, mas pode ser influenciada por barreiras econômicas, sociais e de gênero, como a falta de políticas de cuidado e a dificuldade de conciliar carreira e maternidade, levando as pessoas a não terem o número de filhos que desejam.

Possíveis intervenções: A falta de vontade não é o fator principal; a falta de opções para ter os filhos desejados é o que leva à queda da fecundidade. Intervenções como políticas públicas de cuidado, licenças parentais e políticas que promovam a igualdade de gênero podem ajudar a reverter essa tendência e a incentivar as pessoas a terem mais filhos.

Pessoas se aglomeram em área da favela de Lagos, capital da Nigéria.

Durante mais de 200 mil anos, desde o surgimento do Homo sapiens, as taxas de mortalidade e natalidade eram elevadas e a humanidade não tinha os meios para controlar os efeitos indesejados da mortalidade precoce. Para sobreviver, uma alta natalidade era a arma para enfrentar a alta mortalidade.

Porém, no século XIX, após a Revolução Industrial e Energética, houve avanços na produção e distribuição dos meios de subsistência e aperfeiçoamentos na medicina e no saneamento básico que possibilitaram a redução progressiva das taxas de mortalidade. Com a confirmação da maior sobrevivência das crianças, após um período de aceleração do crescimento vegetativo da população, as taxas de natalidade também começaram a cair e mantiveram um longo período de redução do número de crianças nas famílias.

A transição demográfica desarmou a chamada “bomba populacional” e reduziu o ritmo de crescimento da população mundial. O gráfico abaixo mostra a queda da fecundidade no mundo e nos continentes. Observa-se que a Taxa de Fecundidade Total (TFT) do mundo estava em torno de 5 filhos em meados do século passado e caiu para 2,25 filhos por mulher em 2023.

A Europa e a América do Norte tinham TFT por volta de 3 filhos por mulher em 1950, passando para taxas abaixo do nível de reposição. A Ásia e a América Latina tinham TFT perto de 6 filhos por mulher e já apresentam patamares abaixo do nível de reposição. Somente a África apresenta, atualmente, taxas elevadas (4 filhos por mulher), embora represente uma queda do patamar de 6,5 filhos que havia em 1950.

Hoje em dia já existem dezenas de países com taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição e muitosdestes países já apresentam decrescimento populacional. Como escrevi no artigo “Mitos e realidade da dinâmica populacional”, publicado no 12º Encontro da ABEP (Alves, 2000), a transição demográfica tendia a se aprofundar no século XXI e o mito da “explosão populacional” seria substituído pelo mito da “implosão demográfica”.

O bilionário Elon Musk é um dos principais defensores da necessidade de aumento das taxas de fecundidade. Ele considera que “o declínio populacional deve levar ao colapso da civilização”. O presidente Donald Trump, que está promovendo severas políticas anti-imigratórias, prometeu ser “o presidente da fertilização”. Juntamente com os setores conservadores e da extrema-direita, Trump tem promovido uma agenda pronatalista e chegou a propor um “bônus de bebê” em dinheiro de US$ 5.000 a cada mãe americana após o parto.

Por traz da ideia de colapso populacional está a concepção de que a transição da fecundidade, na ausência de uma intervenção externa, é um processo unilateral e basicamente irreversível. Desta forma, o decrescimento populacional é visto como um “apocalipse demográfico” que resultaria no despovoamento dos países. Mas seria esse processo realmente um fato inexorável?

O gráfico abaixo mostra o exemplo de 5 países que apresentam taxas de fecundidade em ascensão nos anos 2000. O Cazaquistão e a Mongólia tinham elevadas taxas de natalidade, passaram pela transição demográfica e apresentaram taxas de fecundidade total (TFT) abaixo do nível de reposição na virada do milênio. Porém, nos últimos 20 anos os dois países apresentaram uma recuperação da taxa de fecundidade.

No Cazaquistão a TFT chegou a 1,9 filho por mulher em 2000 e subiu para 3,1 filhos por mulher em 2022. Na Mongólia, a TFT chegou a 1,98 em 2004 e subiu para 3 filhos em 2015 e estava em 2,7 filhos por mulher em 2023. Outro país que apresentou recuperação da fecundidade é o Uzbequistão, que tinha TFT de 2,7 filhos por mulher em 2000, caiu para 2,3 filhos em 2012 e subiu para 3,5 filhos por mulher em 2023.

A Romênia e a Bulgária tinham TFT de 1,3 filho por mulher em 2000 e passaram para níveis acima de 1,7 filho por mulher em 2023. A fecundidade nestes dois países do Leste Europeu continua abaixo do nível de reposição, mas está longe de gerar pânico por falta de bebês.

O fato é que existem diversos exemplos de países onde o declínio da TFT desmente o mito da irreversibilidade da queda do número de filhos. Ao longo das décadas as populações vão se adaptando à dinâmica demográfica. Um decrescimento demográfico moderado e gradual pode trazer muitas oportunidades para o avanço social e ambiental.

Como mostrou Adair Turner no artigo “The Case for Gradual Population Decline” (PS, 03/10/2025), ao contrário da sabedoria convencional, o rápido crescimento populacional raramente gera dividendos demográficos, enquanto baixas taxas de fecundidade não levam necessariamente à estagnação. Nos últimos 50 anos, as economias de crescimento mais rápido do mundo – Coreia do Sul, China, Taiwan e Singapura – registraram as menores taxas de fecundidade, variando entre 0,8 e 1,2 filho por mulher. Em contraste, as maiores taxas de fecundidade são encontradas onde a pobreza permanece arraigada ou os direitos das mulheres são severamente restringidos, como na África Subsaariana (4,26) e no Afeganistão (4,76).

Desta forma, taxas de fecundidade na faixa de 1,5 a 1,9 filhos por mulher pode trazer muitos ganhos. Em vez de ser temida, a taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição deve ser celebrada como uma marca registrada de uma sociedade próspera, onde as pessoas são livres para decidir como viver suas vidas.

O ajuste demográfico deve ocorrer no longo prazo e o “apocalipse populacional” parece ser apenas um mito que não corresponde à realidade global. (ecodebate)

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