“Não podemos esconder os problemas do crescimento populacional humano debaixo do tapete” - Dra. Jane Goodall.
A Tailândia deve servir de inspiração para os demais países, especialmente para aqueles países que apresentam grande crescimento populacional e baixo crescimento econômico
A Tailândia (conhecida
anteriormente como Sião) é uma nação asiática situada no centro da península da
Indochina e península Malaia. Faz fronteira ao norte com Mianmar e Laos, a
Leste com Laos e Camboja, ao sul pelo Golfo da Tailândia e da Malásia e a oeste
o Mar de Andamão.
Suas fronteiras marítimas
incluem o Vietnã, no Golfo da Tailândia, a Indonésia e a Índia. O país é uma
monarquia constitucional, desde 1946. Cerca de 75% da população é etnicamente
tailandesa, 14% são de origem chinesa e 3% são etnicamente malaias. A religião
principal é o budismo, praticado por cerca de 85% da população.
A Tailândia era um dos países
mais pobres do mundo em meados do século passado, mas passou por uma rápida e
profunda transição demográfica e avançou em termos econômicos e sociais. Até o
início dos anos de 1970, a Tailândia tinha uma renda per capita abaixo da renda
per capita de Moçambique e muito abaixo da renda per capita brasileira.
A evolução econômica e social
da Tailândia depois da Segunda Guerra Mundial foi marcada por profundas
transformações que a levaram de uma economia agrária tradicional a uma economia
emergente, industrializada e urbanizada.
Durante a Segunda Guerra
Mundial, a Tailândia escapou de ocupação direta, mas esteve alinhada ao Japão.
Ao fim do conflito, buscou se reposicionar internacionalmente, tornando-se
aliada dos EUA no contexto da Guerra Fria. A economia ainda era fortemente
agrária, com predominância do cultivo de arroz para exportação. O país recebeu
apoio econômico e militar dos EUA, especialmente nos anos 1950, o que financiou
infraestrutura e ajudou a estabilizar o regime militar que se consolidava no
poder.
Nos anos 2000, a economia se diversificou, mantendo a agricultura como base exportadora (arroz, borracha, açúcar), mas consolidando setores industriais e serviços. O turismo se tornou um dos maiores motores econômicos, representando cerca de 15% do PIB. Houve melhorias sociais: redução da pobreza extrema, maior acesso à saúde e educação. No entanto, persistiram desigualdades regionais.
A Tailândia, hoje, é
classificada como país de renda média-alta (possui renda per capita maior do
que a brasileira). Destaca-se pela integração às cadeias globais de valor, com
forte presença de montadoras e eletrônicos. Socialmente, apresenta altos
índices de alfabetização, sistemas de saúde relativamente bem estruturados e
redução expressiva da pobreza em comparação ao período pós-guerra.
Em 1950, a população da
Tailândia era de 20,4 milhões de habitantes, cerca de 2,6 vezes menor do que a
população de 53,9 milhões de habitantes do Brasil. Mas a Tailândia, mesmo sendo
um país majoritariamente rural e agrário, fez uma rápida e profunda transição
demográfica que possibilitou o crescimento da renda per capita e a melhoria das
condições sociais.
O gráfico abaixo, com dados
do FMI, mostra que a população da Tailândia era de 47 milhões de habitantes em
1980 e chegou ao pico de 72 milhões em 2022. No mesmo período, a renda per
capita, em preços constantes, em poder de paridade de compra (ppp) passou de
US$ 4,6 mil para US$ 21,3 mil.
De fato, a diminuição da
população significou o fim do 1º bônus demográfico. Mas a Tailândia contou com
o 2º bônus demográfico – bônus da produtividade – o 3º bônus demográfico –
bônus da longevidade e da geração prateada e o 4º bônus ou bônus do
decrescimento.
Esta visão sobre o
decrescimento populacional como oportunidade de progresso social e ambiental é
apontada pelo renomado demógrafo Wolfgang Lutz, que traça um quadro bastante
otimista do futuro da civilização humana se for dada prioridade à educação
universal e, em particular, à educação feminina:
“Mais investimentos em
educação compensam em termos de maior bem-estar, e ainda mais quando combinado
com níveis de fecundidade que levam ao declínio populacional a longo prazo em
países individuais e, em última análise, em todo o mundo. Portanto, esta conclusão
apoia o título do artigo, que afirma que o declínio da população global não é
apenas provável, mas também irá beneficiar o bem-estar humano a longo prazo”
(Lutz, 2023, p. 13).
Desta forma, o envelhecimento
populacional é inexorável, mas isto não implica necessariamente em retrocesso
nos indicadores sociais. O mundo será um lugar melhor para se habitar se o
decrescimento populacional dos países for acompanhado do aumento da renda per
capita e da redução da pegada ecológica e do déficit ambiental. Um mundo com
menor quantidade de pessoas, pode ser um mundo com maior qualidade de vida
humana e ecológica.
O avanço tecnológico pode compensar a diminuição do número de trabalhadores. Por exemplo, a Inteligência Artificial (IA) – a despeito de seus efeitos potencialmente perigosos – pode contribuir para mitigar as tendências de declínio da população em idade produtiva, mesmo não substituindo completamente o trabalho humano. A IA pode ajudar a aumentar a produtividade, transformar setores e criar novas oportunidades, compensando, em parte, a escassez de mão de obra, podendo contribuir da seguinte forma:
Pirâmide populacional do Tailândia em 2025
1. Aumento da produtividade
A IA pode automatizar tarefas
repetitivas e rotineiras, liberando os trabalhadores humanos para focarem em
tarefas mais complexas e de maior valor agregado. Isso é especialmente
importante em setores como a manufatura, serviços financeiros, saúde e
logística, onde a automação já está permitindo operações mais eficientes.
2. Compensação em setores
críticos
Nos cuidados de saúde e na
assistência aos idosos, onde a demanda aumentará devido ao envelhecimento
populacional, a IA pode desempenhar um papel crucial. Sistemas baseados em IA
podem ajudar no diagnóstico precoce de doenças, monitoramento de pacientes e
administração de medicamentos, reduzindo a carga sobre médicos, enfermeiros e
cuidadores.
3. Economia baseada em
habilidades tecnológicas
Com a adoção de IA, muitos
setores estão se transformando, exigindo novas habilidades. Isso pode compensar
o decrescimento da força de trabalho em setores mais tradicionais, desde que as
economias estejam preparadas para transições tecnológicas. A educação e a
requalificação serão cruciais para permitir que as pessoas se adaptem a essas
mudanças.
4. Autonomia em
infraestrutura e transportes
Sistemas autônomos, como
veículos sem motorista e drones, podem reduzir a necessidade de trabalhadores
em setores como transporte e logística. Essas inovações também podem ser
aplicadas em infraestruturas inteligentes para melhorar a eficiência de cidades
e indústrias, com menos necessidade de mão de obra direta.
5. Melhoria da eficiência
econômica
A IA pode ajudar a otimizar
processos econômicos em várias escalas. Com a capacidade de analisar grandes
volumes de dados e prever padrões, a IA pode identificar áreas de melhoria nas
cadeias de suprimento, na alocação de recursos e no consumo de energia,
aumentando a produtividade geral da economia.
6. Automação de trabalhos
intelectuais
Além dos trabalhos manuais, a
IA também pode assumir tarefas que tradicionalmente requerem habilidades
cognitivas, como análises financeiras, geração de conteúdo e tomada de decisões
estratégicas, o que pode compensar a falta de profissionais em certos campos
especializados.
Como disse Larry Fink,
Chairman and CEO at BlackRock (2025): “Há uma preocupação de que a IA possa
eliminar empregos. É uma preocupação válida. Mas em sociedades ricas e
envelhecidas que enfrentam escassez inevitável de mão de obra, a IA pode ser
menos uma ameaça do que uma tábua de salvação”.
As transições demográfica,
energética e tecnológica podem reconfigurar a dinâmica social e econômica no
século XXI. O caso da Tailândia deve servir de inspiração para os demais
países, especialmente para aqueles países que apresentam grande crescimento
populacional e baixo crescimento econômico, visando a redução da pobreza e o
aumento da qualidade de vida humana. (ecodebate)
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