segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Neutralizar carbono é mais do que plantar árvore

Fazer um inventário completo de emissões é o primeiro passo para poder reduzir a quantidade de gás-estufa e promover compensações. Enquanto o governo não divulga um novo inventário nacional mostrando como estão as emissões de gases-estufa do País (o único é de 1994), algumas empresas brasileiras estão dando o primeiro passo para compreender a situação do próprio setor. No começo de maio foi lançado o Programa Brasileiro de Inventário Corporativo de Gases de Efeito Estufa, que coloca à disposição de empresas interessadas uma metodologia para aferir essa produção. Conhecido como Protocolo de Gases de Efeito Estufa (GHC), o programa permite a realização de um levantamento minucioso. Com isso, a companhia tem como identificar o tamanho do impacto que está causando ao ambiente e descobrir onde, no processo produtivo, ela pode interferir para reduzir as emissões. Projetos voluntários de redução das emissões ainda são muito tímidos no Brasil. Muitas nem sequer sabem o quanto emitem. Essa é a etapa zero. O alarme do aquecimento global é realista e temos um prazo curto para evitar os piores impactos das mudanças climáticas. Já é hora de trabalhar com força total na mitigação. ‘CARBON FREE’ MESMO? Essa etapa é fundamental antes de tomar alguma atitude. Senão ocorre o que estamos vendo por aí. Uma coqueluche de empresas dizendo que são carbono neutro, que saem plantando árvore por aí sem nem sequer saberem quanto emitem e quanto têm de plantar para compensar suas emissões. Neutralização de fato, é não emitir tanto e compensar com plantio só aquilo que não é possível reduzir. Plantar árvores é bom, mas muitos dos projetos que vemos hoje não podem ser chamados de trabalhos de neutralização de carbono, quando muito são de recuperação ambiental. Plantar árvore em tudo quanto é lugar pode ser uma tremenda falácia. Não é salvo-conduto para a consciência. Exemplo de lição de casa bem feita uma iniciativa da indústria de cosméticos Natura. A empresa inventariou não somente as emissões da fábrica, como de toda a cadeia de seus produtos. Isso inclui as atividades dos fornecedores, o processo de extração dos ingredientes, o transporte, até o descarte de embalagens. Na soma final, descobriu no ano passado que emite 184 mil toneladas de CO2-equivalente e se propôs a reduzir 33% disso ao longo de cinco anos. De um lado a empresa vem mudando sua matriz energética e do outro financia projetos de reflorestamento e de reciclagem de embalagens para compensar o que não conseguir reduzir. E ainda deve lançar uma moda: um “rótulo-carbono” que trará as informações de quanto foi emitido para produzir um produto. Quando se vê pessoas empunhando bandeiras é sinal que algo vai acontecer. Só que a retórica é sempre a mesma, florestas, árvores. Se a gente olhar do lado vai ver que existem problemas bem maiores como as favelas que se proliferam como plantas às margens de riachos de esgoto, onde proliferam crianças mal cuidadas, barracos fedidos, gente que nem banho toma por não ter como. Isso sim é que é poluição. Meio ambiente é aquele em todos nós vivemos e não aquele lá longe na floresta. Que tal se cuidássemos mais dessa gente pobre, suja, fedida e doente.

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