sábado, 1 de novembro de 2008

Amazônia absorve quase toda a emissão de CO2 do País

O Brasil lança anualmente na atmosfera o equivalente a 1,5 bilhões de toneladas de CO2. A Amazônia tem capacidade para retirar por ano da atmosfera, entre 1 e 2 bilhões de toneladas de CO2. A contribuição do Brasil para o aquecimento global pode chegar a zero. Tudo que o Brasil joga para cima, a floresta puxa de volta para baixo. Os números são baseados em estimativas do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), comparadas com o inventário nacional de emissões e cálculos do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima) da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe), da UFRJ. O cruzamento de dados foi feito pelo Estado e os resultados, confirmados por especialistas. O Brasil é um dos países que mais produzem gases do efeito estufa, com emissões totais comparáveis às de países como Alemanha e Japão. Por ser um país em desenvolvimento, está isento de metas compulsórias para reduzir suas emissões dentro do Protocolo de Kyoto. Mas a pressão é forte para que o País assuma compromissos mais significativos no futuro, com a abertura das negociações para um novo acordo climático pós-Kyoto. A Amazônia é peça central nesse debate. Quase 80% das emissões de CO2 do Brasil têm origem no desmatamento, na conversão de áreas de floresta e cerrado para pastos e plantações. Qualquer redução significativa das emissões brasileiras, portanto, passa obrigatoriamente por uma redução do desmatamento. Essa é a cara feia da Amazônia, transformada em vilã do clima pela ação do homem. Poupada do fogo e de motosserras, a atitude da floresta se inverte. Enquanto o desmatamento acrescenta carbono à atmosfera, a conservação da floresta o subtrai. A Amazônia tem capacidade para "seqüestrar" da atmosfera algo entre 300 e 600 milhões de toneladas de carbono por ano. Isso equivale, a 1,09 bilhões de toneladas de CO2 (molécula livre na atmosfera é mais pesada do que o carbono sozinho). Volume pode chegar a 2,2 bilhões de toneladas de CO2/ano. Esses são valores para a Bacia Amazônica total (cerca de 6 milhões de Km²). Só a Amazônia brasileira (3,5 milhões de Km², descontados os 17% de desmatamento da cobertura florestal original) é suficiente para absorver entre 50% e 100% das emissões de gás carbônico do Brasil, segundo os limites do LBA. Segundo o inventário nacional de emissões, publicado em 2004 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o Brasil lança anualmente na atmosfera 1,03 bilhão de toneladas de CO2, 13 milhões de toneladas de metano e 550 mil toneladas de óxido nitroso, os três principais gases relacionados ao aquecimento global. Transformando tudo isso para dióxido de carbono (coeficiente conhecido como CO2, usado como referência pela Convenção do Clima para medir a contribuição total de cada país para o efeito estufa), chega-se a um total de, aproximadamente, 1,5 bilhões de toneladas. Esse inventário é um retrato do Brasil de 1994. O Brasil se desenvolveu; a população aumentou, o consumo de energia cresceu, é esperado que as emissões também aumentem. É improvável que o crescimento neutralize a capacidade de absorção da Amazônia. As variáveis são muitas: o desmatamento aumentou, depois diminuiu. A indústria cresceu, o consumo de gasolina no transporte caiu. A meta é publicar novo inventário em 2009. O Brasile prefere não utilizar a medição de CO2 equivalente, por discordar da metodologia de transformação dos gases usada pela Convenção do Clima. Melhor até para inflar o moral da Amazônia, se a comparação for feita apenas com as emissões de CO2 puro (1,03 bilhão de toneladas/ano), o lucro de absorção da floresta se torna mais polpudo. Os cientistas ressaltam que esses valores não são definitivos, que há margens de erro e que os números ainda precisam ser refinados com mais pesquisas. A Amazônia tem capacidade para amortizar substancialmente, ou até zerar, as emissões de gás carbônico do Brasil. O valor disso para a conservação da floresta é enorme. Não só deixamos de emitir via desmatamento, mas ainda seqüestramos carbono via manutenção da floresta. Pelas regras da Convenção do Clima, somente fatores antrópicos (resultantes de intervenção humana) podem ser contabilizados no balanço de carbono, para mais ou para menos. As florestas são consideradas sorvedouros naturais, por isso não podem ser usadas para abater CO2 da conta de emissões do País. Porém, é um benefício que não pode ser ignorado. Mesmo que não seja 100%, é um serviço ambiental gigantesco que a floresta está prestando. Mais uma razão para manter a floresta em pé. A cada árvore que cai, o Brasil ganha em emissões e perde em absorção. É prejuízo dos dois lados da balança. O CO2 é o principal gás causador do efeito estufa, funcionando como um cobertor atmosférico que aprisiona calor na superfície da Terra. Ele é consumido no processo de fotossíntese e parte do carbono é incorporada aos tecidos vegetais das plantas em crescimento. Quando a floresta é derrubada e queimada, esse carbono é liberado para a atmosfera, da mesma forma que ocorre na queima de combustíveis fósseis, como a gasolina. Estima-se que a Amazônia contenha até 100 bilhões de toneladas de carbono (366 bilhões de toneladas de CO2) estocadas em sua vegetação, o equivalente a quase dez anos de emissões globais de CO2 por todas as atividades humanas. Cada hectare de floresta guarda entre 120 e 150 toneladas de carbono. Calcula-se uma emissão média de 22 mil toneladas de CO2 por Km² desmatado e queimado na Amazônia. O desmatamento acumulado dos últimos anos lançou na atmosfera 1,3 bilhão de toneladas de CO2, quantidade que a cidade de São Paulo leva mais de 80 anos para emitir. O raciocínio inverso é igualmente relevante: se o desmatamento não tivesse ocorrido, a mesma quantidade de CO2 teria deixado de ser emitida, além do carbono que deixará de ser absorvido pela perda da floresta. Isso precisa ser valorizado. O Protocolo de Kyoto não reconhece o "desmatamento evitado" como válido para a concessão de créditos de carbono, apenas o reflorestamento de áreas já desmatadas.

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