sábado, 19 de dezembro de 2009

Brasil quer confinar CO2 debaixo da terra

Laboratório no RS estuda como guardar o CO2 dentro de rochas. Colheita mecânica da cana ajuda a manter CO2 no solo. A posição do Brasil é acompanhada com grande interesse em Copenhague, e ela deixou de ser meramente defensiva. Qual a responsabilidade dos países desenvolvidos? O que os países em desenvolvimento podem fazer para reduzir o aquecimento global? Pelo Tratado de Kyoto, os ricos são obrigados a apresentar metas de cortes de emissão de gases do efeito estufa. Os pobres, não. O Brasil disse ao mundo o que vai fazer voluntariamente. A meta do Brasil é deixar de liberar na atmosfera algo entre 36,1% e 38,9% dos gases que emitiríamos em 2020, caso nada fosse feito. Em Copenhague dia 16/12/09, o governo brasileiro disse que, para cumprir essa proposta, vai precisar de US$ 166 bilhões, nos próximos dez anos. A maior parte desse dinheiro seria para construção de hidrelétricas. A conta é alta para o setor de energia, mas em outras áreas pode ser diferente. “Vários estudos estão mostrando que o Brasil tem um grande potencial de redução de emissão de gases de efeito estufa a custos ou negativos ou muito baixos. O que esses estudos têm mostrado é que o maior custo para a economia brasileira virá das mudanças climáticas, virá de não fazer nada”, explica Roberto Schaeffer, professor da Coppe/UFRJ. O principal vilão é o desmatamento que o governo promete diminuir drasticamente. “Essa nossa meta de cortar 80% do desmatamento da Amazônia até 2020 representa metade do esforço brasileiro de redução das emissões”, afirma o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc. A outra metade virá do trabalho de cientistas que pesquisam formas de produzir mais e emitir menos, para abastecer a frota de carros a álcool, por exemplo. Colheita mecânica da cana O biocombustível é limpo, mas esse benefício não pode virar fumaça. Quando a palha da cana é queimada antes do corte, cada hectare libera sete toneladas de CO2 para atmosfera. A solução é simples: adotar a colheita mecânica. Sem a queima, a palha que cai no chão entra em decomposição lentamente, e pelo menos uma das sete toneladas de CO2 estocados nela vai para o solo. É o que se chama sequestro de carbono. “Isso é um ganho muito grande para o ambiente, se considerarmos que temos sete milhões de hectares de cana-de-açúcar e que há necessidade de expandir essa cultura por uma quantidade talvez o dobro do que exista hoje”, diz Carlos Cerri, professor da Esalq/USP. É possível reduzir também o gás metano que os seres humanos lançam na atmosfera. É muito gás, que sai todos os dias dos milhares de lixões das cidades brasileiras. Energia Impedir que o gás metano seja liberado na atmosfera, deixou de ser uma obrigação cara e se transformou numa oportunidade de negócios. Um projeto instalado num dos maiores aterros sanitários de São Paulo é um exemplo ainda raro do Brasil, de como o gás que poluía e provocava o efeito estufa passou a ser combustível para gerar energia elétrica. O gás metano liberado por 29 milhões de toneladas de lixo soterrados no aterro São João são capturados e transportados por canos para uma usina termoelétrica. Ela gera eletricidade suficiente para abastecer uma cidade de 400 mil habitantes. “Eu diria que nós devemos ter entre 30 e 40 projetos espalhados pelo Brasil. Esse modelo poderia ser aplicado em outros grandes centros, como grandes capitais: Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Goiânia”, afirma Antônio Carlos Delbin, diretor-técnico da Biogás. A emissão de gases do efeito estufa não é um problema que a humanidade possa varrer para debaixo do tapete, agora, guardar gás carbônico debaixo da terra, essa sim pode ser uma boa ideia, e é exatamente isso que um laboratório no Rio Grande do Sul faz. Estudar a melhor forma de guardar o CO2 dentro de rochas de onde, por exemplo, petróleo é extraído. CO2 do pré-sal O petróleo do pré-sal está impregnado de CO2, mas o Brasil pretende armazenar todo o gás carbônico que encontrar. As reservas de petróleo, enterradas há milhões de anos, são como buchas encharcadas. Imensos bolsões subterrâneos de rochas porosas com óleo em cada fenda milimétrica. À medida que ele é sugado poço acima, esses espaços ficam vazios e podem guardar gás carbônico durante milhões de anos com segurança. “O petróleo só sai de um campo através de um poço. Então se não tivermos um poço para extrair esse CO2 que vamos colocar lá embaixo, nunca mais vamos tirar ele lá de baixo”, afirma João Marcelo Ketzer, coordenador do Cepac/PUC-RS. Segundo a ONU, campos de petróleo e camadas de carvão mineral podem guardar mil vezes mais CO2 que todo o reflorestamento possível na superfície do planeta. Existem muitas formas de reduzir as emissões dos gases que provocam o efeito estufa. Nenhuma é poderosa o bastante para eliminar a pegada de carbono que deixamos impressa no ar nos últimos 150 anos. Mas os próximos séculos dependem da eficácia de todas elas juntas.

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