segunda-feira, 23 de agosto de 2010

9 - Estamos nos aproximando de uma nova Era Glacial?

Argumento cético "Um dia você vai acordar enterrado embaixo de nove andares de neve. É tudo parte de um ciclo estável, previsível e natural que retorna como um relógio a cada 11.500 anos. E como a última Era Glacial terminou quase que exatamente há 11.500 anos..." (Ice Age Now) O que a ciência diz O efeito de aquecimento de mais CO2 se sobrepõe com folga à influência de mudanças na órbita da Terra ou atividade solar, mesmo que esta caísse para os níveis do Mínimo de Maunder. Há apenas alguns séculos, o planeta experimentou uma leve era glacial, que recebeu o nome pitoresco de Pequena Era do Gelo. Parte da Pequena Era do Gelo coincidiu com um período de baixa de atividade solar chamado Mínimo de Maunder (batizado em homenagem ao astrônomo Edward Maunder). Acredita-se que uma combinação de atividade solar mais baixa e maior atividade vulcânica constituíram na maior causa do fenômeno (Free 1999, Crowley 2001), com mudanças na circulação oceânica que também tiveram efeito nas temperaturas européias (Mann 2002).
Figura 1: Irradiância solar total (TSI, na sigla em inglês). TSI de 1880 até 1978 de Solanki. TSI de 1979 a 2009 do Physikalisches-Meteorologisches Observatorium Davos (PMOD). Será que estamos nos aproximando de outro mínimo de Maunder? A atividade solar está mostrando atualmente uma tendência de resfriamento de longo prazo. 2009 teve a irradiância solar mais baixa em mais de um século. Porém, predizer a atividade solar futura é problemático. A transição de um período de 'grand maxima' (a situação da segunda metado do século XX) para uma 'grand minima' (a condição do Mínimo de Maunder) é um processo caótico e difícil de prever (Usoskin 2007). Digamos, apenas a título de argumento, que o sol entrasse em outro Mínimo de Maunder no século XXI. Que efeito isso teria sobre o clima da Terra? Simulações da resposta climática nesta condição concluem que a diminuição de temperatura devido a isso seria mínima comparada com o aquecimento por gases estufa de origem humana (Feulner 2010). O resfriamento causado por essa hipotética menor atividade solar seria de cerca de 0,1ºC (com um valor máximo estimado de 0,3ºC), enquanto o aquecimento por gases estufa é de 3,7ºC a 4,5ºC, dependendo de quanto CO2 nós emitirmos ao longo do século XXI.
Figura 2: Anomalias médias globais de temperatura de 1900 a 2100 relativo ao período 1961-1990 para os cenários A1B (linhas vermelhas) e A2 (linhas rosa) e para três diferentes forçantes solares correspondendo a um ciclo de 11 anos típico (linha contínua) e para um novo 'grand minimum' com irradiância solar correspondendo a recentes reconstruções da irradiância do Mínimo de Maunder (linha tracejada) e uma irradiância ainda mais baixa (linha pontilhada), respectivamente. As temperaturas observadas pelo NASA GISS até 2009 também são mostradas (linha azul) (Feulner 2010). Entretanto, nosso clima experimentou mudanças muito mais dramáticas que a Pequena Era do Gelo. Ao longo dos últimos 400.000 anos, o planeta experimentou condições de Eras Glaciais, pontuadas por breves intervalos mais quentes a cada cerca de 100.000 anos. Nossa atual interglacial começou há cerca de 11.000 anos atrás. Poderíamos estar à beira do final desta nossa interglacial? Figura 3: Mudanças de temperatura em Vostok, Antártica (Petit 2000). Períodos interglaciais são marcados em verde. Como se iniciam as eras glaciais? As mudanças na órbita da Terra fazem com que menos luz do sol (insolação) atinjam o Hemisfério Norte durante o verão. A calota polar do norte derrete menos durante o verão e gradualmente vai crescendo ao longo de milhares de anos. Isso aumenta o albedo da Terra, o que amplifica o resfriamento, fazendo com que a calota polar aumente ainda mais. Este processo dura por cerca de 10 a 20 mil anos, trazendo o planeta a uma Era Glacial. Nem todas as interglaciais duram o mesmo tempo. Uma perfuração de gelo do Domo C, na Antártica, proporcionou uma visão das temperaturas até 720.000 anos atrás. As condições climáticas de 420.000 anos atrás eram similares às condições atuais. Naquela época, a interglacial durou 28.000 anos, sugerindo que nossa interglacial atual poderia durar por tempo semelhante sem a intervenção humana (Augustin 2004). As condições atuais similares às de 400.000 anos atrás se devem a configurações similares na órbita da Terra. Em ambos os períodos, a forçante das variações orbitais mostraram muito menos mudanças que em outras interglaciais. Simulações com a órbita atual mostram que mesmo sem emissões de CO2, espera-se que a interglacial atual dure pelo menos 15.000 anos (Berger 2002). Evidentemente, a questão de quanto tempo dura a interglacial sem intervenção humana é apenas hipotética. Nos estamos intervindo. Então, que efeito têm nossas emissões de CO2 em uma futura Era Glacial? Esta questão é examinada em um estudo a respeito do "gatilho" da glaciação - a diminuição necessária na insolação do verão do hemisfério norte para iniciar o processo de aumentar a calota polar (Archer 2005). Quanto mais CO2 houver na atmosfera, mais baixo precisa cair a insolação para disparar a glaciação. A Figura 4 examina a resposta do clima a vários cenários de emissões de CO2. O azul representa uma liberação humana de 300 gigatoneladas de carbono - nós já ultrapassamos esta marca. A liberação de 1000 gigatoneladas de carbono (linha laranja) impediria uma Era Glacial por 130.000 anos. Se as emissões de carbono fossem 5000 gigatoneladas ou mais, a glaciação seria evitada por meio milhão de anos. Como as coisas estão hoje, a combinação de uma forçante orbital relativamente fraca com um longo período de permanência atmosférica do CO2 provavelmente gerará uma interglacial mais longa do que a que foi vista nos últimos 2,6 milhões de anos. Figura 4: Efeito do CO2 de combustíveis fósseis na evolução futura da temperatura média global. O verde representa a evolução natural, o azul representa os resultados da liberação antrópica de 300 Gton C, laranja representa 1000 Gton C, e o vermelho 5000 Gton C (Archer 2005). Então podemos ficar seguros de que não há nenhuma Era Glacial à espreita. Para aqueles com dúvidas persistentes de que uma Era Glacial poderia ser iminente, voltem seus olhos para a calota polar do Ártico. Se elas estiverem crescendo, então sim, o processo de 10.000 anos de glaciação pode ter começado. Porém, o permafrost Ártico atual está se degradando, o gelo oceânico Ártico está derretendo e o manto de gelo da Groenlândia está perdendo gelo num ritmo acelerado. Dificilmente isso representaria boas notícias para a Era Glacial iminentes. (skepticalscience.com)

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