segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Geração sustentável

Jovens e crianças adotam hoje um comportamento mais crítico com relação à preservação do planeta.

Gabriela Koeirich Gubnitsky é uma menina de 10 anos, cuja principal brincadeira ainda são as bonecas. Entre uma mamadeira e outra, um banho ou troca de fraldas de algumas de suas várias "filhinhas", sempre encaixa outro grande divertimento: conscientizar as pessoas sobre a defesa do meio ambiente. No prédio onde mora, no bairro paulistano das Perdizes, já são conhecidas de porteiros e moradores suas campanhas pela coleta seletiva dos resíduos e contra o desperdício de água, por meio de cartazes, que produz com uma amiga. "Eu me divirto e me sinto bem ajudando a cuidar do planeta", declara Gabi, que dispensa folhas brancas para a confecção de suas mensagens ecológicas, preferindo reutilizar papelões. Em casa, foi ela quem ensinou a empregada a colocar o óleo da fritura em uma garrafa pet, não despejando-o na pia. As pilhas e baterias que recolhe pelos apartamentos vai para uma caixinha de coleta igual à da escola. E na última viagem de férias da família, para Nova York, acabou persuadindo a irmã a trocar o casaco de couro animal por um de material sintético. "A jaqueta ecológica era bem mais cara, mas ela nos convenceu, dizendo que era melhor, pois não ia matar um animal", lembra sua mãe, a dentista Cristiana Gubnitsky. "Eu gosto de fazer compras", afirma Gabi. "Mas o que vai poluir ou prejudicar o meio ambiente eu não compro, nem deixo minha mãe comprar." A pequena Gabriela é o retrato de uma geração atual de crianças e jovens que preza o consumo, mas que se preocupa com a sustentabilidade. E mesmo sem estar inserida diretamente no ato da compra, essa turma influencia fortemente a ação de seus pais. É a chamada geração Z, formada pelos nascidos a partir de 1994. "Seus integrantes são críticos, dinâmicos, tecnológicos e tendem a transformar as intenções ecologicamente corretas de agora em hábitos, preferências e ações", resume o conferencista da área de lideranças e desenvolvimento de competências, Gilberto Wiesel. Segundo explica, a definição se originou da palavra "zapear", daí o "Z". "Esta juventude faz trocas com a maior rapidez. Sai da TV para o computador, vai do telefone para o videogame, muda de marcas em segundos", informa. O grande desafio atual das empresas, então, é fidelizar estes jovens, muito mais preocupados com o meio ambiente e social do que seus antecessores. Eles querem saber quais benefícios as empresas trazem para a sociedade e se seus produtos e serviços são ecologicamente corretos. "Esta nova geração não vai comprar produtos de uma marca que apresente a sustentabilidade só no marketing, mas não a pratique, de fato, em suas relações comerciais", afirma. Os futuros consumidores, aliados à mídia e às leis, tendem a pressionar cada vez mais as empresas para que suas práticas de produção e prestação de serviços demonstrem respeito e preocupação com o meio ambiente e com a sociedade. "É um caminho sem volta", garante Wiesel. "E quem não se preparar corre o risco de não perdurar no mercado." Aprendizes A escola tem tido uma participação fundamental na formação dos futuros consumidores, mais responsáveis e conscientes. Desde muito cedo, nos bancos escolares, as crianças vêm aprendendo o significado da palavra sustentabilidade, tão falada nos últimos tempos. É ali que compreendem que a sobrevivência da humanidade depende da forma como serão satisfeitas as necessidades das gerações atuais e futuras. Foi na escola que Gabriela despertou para a causa verde. Encantada e engajada, ela participa de todas as campanhas da Stance Dual. E não são poucas. O projeto sócio-ambiental da escola, chamado Carta da Terra/ Agenda 21, contempla várias ações de conscientização para o consumo, que enfatizam o pensamento crítico, a resolução de problemas, a tomada de decisões, a análise, o aprendizado cooperativo, a liderança e a capacidade de comunicação. Realizadas por grupos de alunos de séries variadas, as ações tratam do uso racional da água, da coleta seletiva de resíduos, do descarte do lixo eletrônico e do óleo de cozinha. Segundo Débora Moreira, coordenadora do projeto da Stance Dual, tais atividades estão envolvidas com conteúdos de várias disciplinas e permitem ao aluno acompanhar todo o processo. "Um exemplo é o trabalho de compostagem dos restos alimentares das aulas de culinária e do refeitório, executado no quinto ano, quando se estuda em ciências a ação de fungos e bactérias na decomposição", conta. Como parte do aprendizado, as crianças adubam as plantas da escola com o composto orgânico resultante. Uma das campanhas de maior sucesso começou em 2006 com o estudo de ótica e visão do nono ano. A visita a uma instituição que trabalha com deficientes visuais levou a turma a conhecer a Fundação Dorina Nowill. No local, a garotada descobriu que a Fundação arrecadava, por meio de doações, todo tipo de tampinhas plásticas flexíveis e as vendia para a indústria recicladora. Com a renda, comprava bengalas, livros e teclados de computadores em braile. Entusiasmados e querendo fazer parte da ação, os alunos implementaram a coleta de tampinhas no colégio e chegaram a receber mais de 100 mil delas em apenas um mês. "Nosso objetivo é formar alunos críticos, que multipliquem seus conhecimentos e ações, com consciência do que estão fazendo", explica Débora. Campanha No ano passado, em uma das unidades da Escola Viva em São Paulo, nascia a campanha de recolhimento de pilhas, cartuchos e CDs, uma iniciativa de quatro alunos. A semente da ação, porém, foi uma discussão que é proposta a cada ano pela escola para uma série específica. "Como conciliar desenvolvimento e preservação" foi o eixo temático interdisciplinar do oitavo ano. "Antes dessa atividade, eu era muito alienada", acredita Giulia Ghigonetto, de 14 anos, uma das idealizadoras da campanha. "Pensava que preservação era só separar plástico, vidro, papel e metal." Da tarefa de desenvolver uma ecosolution (solução ecológica) para as aulas de inglês, vieram muita pesquisa, visitas a empresas de tecnologia e a criação da campanha de coleta, com o apoio do professor de geografia. "Nós pedimos para uma das empresas dois contêineres para colocarmos na escola", conta o aluno Tomaz Volpe Guimarães Piestun, de 14 anos, parceiro na iniciativa. "Já enchemos sacolas gigantes que nem sabíamos como carregar", relata Giulia, responsável por recolher o material a cada dois meses e levá-lo para a empresa que lhe dá a destinação correta. O envolvimento dos jovens foi tão intenso que os pais perceberam. Convidado para uma mesa redonda com os alunos sobre tecnologia e preservação, Maurício Ghigonetto, pai de Giulia e gerente de uma consultoria em tecnologia, se surpreendeu com a qualidade da discussão. "Eles começaram criticando o consumismo, mas terminaram percebendo que consumir é importante, pois faz girar a economia, e o necessário é descartar corretamente os resíduos", conta. Na casa do pai de Tomaz, as mudanças também foram sentidas. "Passamos a trocar o carro pela bicicleta para ir à farmácia, ao mercado. E por minha influência, agora meu pai está até separando o lixo", revela o garoto. (OESP)

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