sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Campanha de despoluição do Rio Tietê em 1990

Iniciativa da 'Rádio Eldorado' deu arrancada para campanha de despoluição do rio
Abaixo-assinado recolheu mais de 1 milhão de assinaturas, sensibilizou políticos e empresários e gerou projeto de US$ 2,65 bilhões.
A campanha pela despoluição do Rio Tietê começou em 1990, com uma iniciativa da então Rádio Nova Eldorado AM (hoje Eldorado Brasil 3000) - um programa chamado O Encontro dos Rios, que traçava um paralelo entre o Tâmisa, que banha Londres, e o maior rio paulista em extensão.
O programa repercutiu e a população começou a se envolver, aderindo a um abaixo-assinado coordenado pela rádio. Estado, Jornal da Tarde e Eldorado FM abraçaram a causa. Criou-se então o Núcleo União Pró-Tietê, instalado na SOS Mata Atlântica, que recebeu patrocínio de US$ 350 mil do Unibanco. Na sequência, a Fiesp assinou um convênio com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente para controle dos resíduos industriais.
A Câmara Municipal também aderiu à iniciativa, aprovando três moções de apoio à campanha. O slogan "O Tietê pede água. Você não pode negar" parecia ter acordado as pessoas para a situação do rio, que, como disse o escritor Alcântara Machado, "despoetizou-se e empobreceu por São Paulo e pelo Brasil".
No meio disso, um personagem insólito apareceu, chamando a atenção para a possibilidade de vida naquelas águas: Teimoso, um jacaré que passou a habitar as várzeas imundas do Tietê. Até hoje tem quem ache que o abaixo-assinado que recolheu 1,2 milhão de assinaturas - maior mobilização por uma causa ambiental até hoje no País - deve muitas rubricas ao Teimoso, que acabou transferido para o zoológico de São Paulo.
Projeto Tietê. Com iniciativa da Sabesp e apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o governo do Estado lançou em 1992 o Projeto de Despoluição do Rio Tietê. A primeira etapa, entre 1992 e 1998, consumiu US$ 1,1 bilhão com a construção de três estações de tratamento de esgoto.
Na segunda etapa, entre 2000 e 2008, foram investidos US$ 500 milhões, sendo US$ 200 milhões financiados pelo BID e US$ 300 milhões com recursos da Sabesp, que teve apoio do BNDES. Na terceira, que se estende até 2015, serão investidos mais US$ 1,05 bilhão para coletar o esgoto de 1,5 milhão de pessoas e tratar o de mais 3 milhões.
A Sabesp diz que até 2015 os efeitos do projeto serão visíveis para a população da Região Metropolitana - 30 km do rio que cortam a metrópole passarão a ter vida aquática e outros 30 km deixarão de cheirar mal. E afirma que, até 2020, haverá a universalização do saneamento e o fim do mau cheiro das águas.
É difícil identificar o momento preciso em que a cidade virou as costas para o rio, mas há algumas pistas. "Em 1944, a Travessia de São Paulo a Nado, competição que acontecia desde 1924, foi cancelada porque se concluiu que o rio não podia mais garantir condições de salubridade aos atletas", lembra o professor do Departamento de História da Unifesp Janes Jorge, autor do livro Tietê - O Rio Que a Cidade Perdeu.
O Tietê chegou a abastecer com água vários bairros da cidade entre o final do século 19 e as duas primeiras décadas do século 20. Segundo Jorge, em 1898, com dificuldades para abastecer toda a população, a Repartição de Águas e Esgotos (RAE) retirou bairros proletários como Brás, Bom Retiro, Barra Funda, Belenzinho, Campo Grande e Cambuci do Sistema Cantareira, que provia água de excelente qualidade, e passou a abastecê-los com água captada no Tietê. "Isso provocou uma reação contrária dos círculos médicos, pois não havia um sistema de tratamento que garantisse a qualidade da água captada", afirma o professor. A água distribuída na cidade só passou a ser clorada em 1926.
Riqueza. O Tietê possibilitou o crescimento e o desenvolvimento de São Paulo. Forneceu areia, argila para os tijolos que transformaram suas várzeas, pedregulho, energia elétrica, peixes para os moradores do arredores, água para o consumo e a prática de esportes. "Na virada do século 19 para o 20, São Paulo era uma cidade de 250 mil habitantes que curtia o rio. Ele era usado por remadores, para passeios, caminhadas, banhos. Agora, podemos até despoluí-lo, mas é preciso pensar em como vamos reconquistar a beira-rio. Como o paulistano vai poder curti-lo de novo, à beira da Marginal?", pergunta Jorge. É algo a se pensar. (OESP)

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