É
o que aponta um estudo da McKinsey, ao qual o Valor teve acesso, e que analisa
a descarbonização do transporte rodoviário no Brasil. A pesquisa mostra que o
avanço das regulamentações, a maior pressão corporativa e a expansão da oferta
de fontes de energia mais sustentáveis já contribuem para a redução de emissões
nas estradas. Mas, segundo a consultoria, é preciso agir rápido para que essas
iniciativas ganhem tração.
“Já
há uma série de alavancas que o governo está colocando em pé. Estamos indo na
direção certa. Agora, precisamos, tanto o setor privado quanto o público, pisar
no acelerador”, diz Daniele Nadalin, sócio associado da McKinsey. “Sem
descarbonizar o transporte rodoviário de carga, não haverá uma descarbonização
de fato do Brasil, dado o peso das emissões do setor”, acrescenta.
Estudo
cita como exemplos de normas que incentivam a descarbonização nas estradas
programas federais como o de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que criou o
IPI Verde para quem polui menos, e o de Controle da Poluição do Ar por Veículos
Automotores (Proconve), que desde janeiro estabelece novos limites máximos de
emissões para veículos novos.
O
levantamento também destaca o aumento no número de empresas participantes do
Programa Brasileiro “GHG Protocol”, metodologia internacional mais usada para
inventário de emissões. Segundo a McKinsey, o número de companhias aderentes
mais que triplicou desde 2020, alcançando 539 em 2024. O setor de transportes e
armazenagem é o segundo com mais empresas participantes.
Outro ponto positivo é o avanço da produção de biometano: a estimativa é que a produção anual no país alcance 1,6 bilhão m3 em 2026 e chegue a 2,9 bilhões m3 até 2032.
“O Brasil tem uma oportunidade gigantesca de se tornar líder na adoção de diversas tecnologias. E não precisa haver uma vencedora, porque elas podem coexistir e criar um ecossistema entre biometano, gás natural e elétricos, em que cada um encontra seu espaço e contribui para uma adoção mais ampla”, afirma Victor Stephan, sócio-associado da McKinsey.
Segundo
o levantamento, o país somou 121 postos de abastecimento rápido de gás em 2024,
quase o triplo dos 45 registrados em 2023. “Se não houver infraestrutura
adequada de carregamento elétrico, abastecimento de biometano e
biocombustíveis, será difícil ampliar o uso desses veículos”, alerta Nadalin.
Os
avanços, embora positivos, ainda estão aquém do necessário para ampliar a
escala da descarbonização. “A infraestrutura não é suficiente para escalar
essas novas tecnologias, tanto a de carregamento de veículos elétricos quanto a
de abastecimento de combustíveis verdes”, afirma Nadalin.
Para
Jorge Cerezo, sócio-líder da McKinsey, 90% dos executivos do setor de transporte
rodoviário apontam o custo como o principal fator que desestimula iniciativas
de baixo carbono. Ele defende que é preciso desmistificar a ideia de que
soluções sustentáveis são sempre mais caras. “É claro que haverá situações em
que o ‘verde’ custará mais, mas em outras ele já se mostra competitivo”, diz.
Segundo
Cerezo, quase metade do esforço necessário para atingir a meta de carbono zero
no setor pode vir da otimização de malhas logísticas e do uso de ferramentas
como a inteligência artificial, sem necessidade de grandes investimentos.
A outra metade, afirma, deve vir da mudança na matriz energética, seja com caminhões elétricos, mais sustentáveis e que contam com casos positivos em pequenas e médias distâncias, ou movidos a biocombustíveis, mais competitivos para longas distâncias.
“É preciso que as empresas realmente estruturem um plano e entendam que não é só com grandes investimentos de capital que se alcança o ‘net zero’. É necessário avaliar todas as opções e aproveitar toda a gama de alternativas disponíveis”, acrescenta Nadalin.
Segundo
a McKinsey, escalar o uso de caminhões elétricos ou movidos a biocombustíveis e
outras tecnologias de carbono zero dependerá tanto da oferta de veículos quanto
da infraestrutura capaz de atendê-los, como postos de abastecimento e pontos de
recarga.
Nadalin
explica que, à medida que a presença desses veículos crescer nas estradas, o
investimento privado em infraestrutura deve acompanhá-la. “Se sou um investidor
em infraestrutura de carregamento ou abastecimento, quero que haja demanda, com
muitos caminhões desse tipo nas ruas. Ou seja, há esse dilema, tem que vir
primeiro o ovo e depois a galinha, ou vice-versa”, diz.
O
setor público, no entanto, pode acelerar o processo ao incentivar a produção de
veículos verdes e o desenvolvimento de infraestrutura de suporte. Também pode
criar padrões para abastecimento e recarga, para tornar o mercado mais
previsível.
“O posto de gasolina, em qualquer lugar do Brasil, funciona da mesma forma. Isso precisa ser aplicado ao mundo verde também. Ainda temos carregadores diferentes e não temos um padrão claro para biocombustíveis”, afirma Nadalin.
“É preciso fortalecer o que já vem sendo feito, criar padrões para que a indústria se sinta segura e incentivar, de fato, a redução de impostos e a concessão de incentivos fiscais para investimentos em infraestrutura verde”, completa o executivo. (biodieselbr)




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