Painel do clima da
ONU errou ao prever degelo no Ártico
Um novo estudo de
cientistas dos EUA e da França sugere que o IPCC, o painel do clima das Nações Unidas,
errou feio em suas previsões sobre o degelo do Ártico. No caso, errou para
baixo: o derretimento observado é quatro vezes maior do que apontam os modelos.
O grupo de
pesquisadores liderados por Pierre Rampal, do MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts), publicou seus dados na edição desta semana do periódigo
"Journal of Geophysical Research".
Eles uniram dados de modelagem
com observações de satélites, navios e até submarinos para estimar que o mar
congelado que recobre o oceano Ártico está afinando a uma taxa de 16% por
década. Os modelos que alimentaram o relatório do IPCC, publicado em 2007,
estimam essa taxa em 4%.
Segundo Rampal e
seus colegas, os modelos climáticos computacionais que estimaram um polo Norte
sem gelo no verão em 2100 estão atrasados 40 anos em relação às observações. Da
mesma forma, o papel da chamada "amplificação ártica" --como é
conhecido o efeito de aumento da temperatura devido à perda
do gelo marinho e à maior absorção de radiação solar pelo oceano--
provavelmente foi subestimado.
Isso se deve
principalmente ao fato de que os modelos não conseguiram reproduzir o aumento
de velocidade que ocorre quando o gelo fica mais fino.
O mar congelado do
Ártico está em permanente movimento, seguindo as correntes. Todo verão, elas
empurram enormes quantidades de gelo para fora do oceano Ártico, pelo
chamado estreito de Fram, entre a Groenlândia e o arquipélago norueguês de
Svalbard, diminuindo a área do mar congelado.
Acontece que, com a água mais quente, as
placas de gelo ficam mais finas (a média entre 1980 e 2008 é de 1,65 metro de
afinamento no verão) e se rompem mais. Isso consequentemente aumenta a
velocidade de "exportação" do gelo e, por consequência, amplia a redução
de área da banquisa.
Em agosto deste ano,
a Folha teve oportunidade de
experimentar essa alta velocidade do gelo no estreito de Fram a bordo do navio
Arctic Sunrise, da ONG Greenpeace. A amarrado a uma placa de gelo de mais de
200 m de comprimento, o navio derivou cerca de 80 km em dois dias.
Rampal afirma que os
modelos falham em capturar essa relação entre deformação e velocidade.
Aplicando a metodologia usada no novo estudo aos modelos, eles conseguiram
resolver quase todas as diferenças entre modelos e observações --o que pode
ajudar a estimar com maior precisão o papel do Ártico no clima futuro da Terra.
(livearth)
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