‘Sem segurança alimentar não haverá paz’, diz José Graziano,
diretor geral da FAO
“A cúpula da Rio+20 será a última oportunidade para
solucionar o problema do impacto da mudança climática sobre o sistema
alimentício e sem segurança alimentar não haverá paz”, afirmou o diretor-geral da FAO, José Graziano Da Silva, em entrevista à
Agência Efe.
Segundo Graziano, a visão de desenvolvimento sustentável não
pode ser alcançada sem que a fome, que afeta 900 milhões de pessoas no mundo, e
a desnutrição sejam erradicadas plenamente.
O diretor da Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação (FAO) fez uma referência especial à Cúpula Rio+20,
que será realizada entre os dias 20 e 22 de junho, no Rio de Janeiro.
Aproximadamente 140 chefes de Estado devem comparecer ao evento, que, como
aponta Graziano, terá dificuldades para alcançar um acordo vinculativo.
O diretor se refere ao debate sobre os gases que provocam o
efeito estufa, explicando que os países em vias de desenvolvimento não querem
assumir o custo adicional que supõe esse controle, já que se sentem
discriminados pelos países industrializados – os principais poluidores.
“É o sonho de todos conseguir um mundo mais limpo, mais
verde e sustentável, mas é preciso que os países assumam o custos para a
preservação do meio ambiente”, declarou o diretor brasileiro.
De acordo com as indicações do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (PNUMA), limpar o meio ambiente custa
entre US$ 100 bilhões e 300 bilhões, enquanto uma agricultura sustentável pode
precisar de até US$ 3 trilhões, que “são números enormes” para o diretor-geral
da FAO.
“Os países em desenvolvimento não querem pagar esse preço”,
resumiu Graziano, que admite que o problema sempre gira em torno do fato de que
os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos não querem assumir a
responsabilidade pelo pagamento essa conta.
“Eu acho que a Rio+20 representa uma grande oportunidade
diante dessas dificuldades. Agora, nós temos que perceber a urgência do tema,
sendo que isso só é observado por uma via: a do impacto da mudança climática”,
acrescentou.
“Essa mudança pode ser sentida a cada dia, com inundações,
secas, terremotos e outros eventos extremos que se repetem”.
A produção de alimentos também é afetada diretamente pela
mudança climática, já que muitos países se transformaram em recorrentes
importadores de alimentos devido às secas ou chuvas e também não conseguem
produzir mais o que necessitam.
“Essa confluência da sustentabilidade, com a da mudança climática
e a produção de alimentos, faz com que a Rio+20 seja a última oportunidade para
tomar medidas de um problema que não é se encontra no futuro, mas no presente”,
ressaltou.
“É um problema que afeta todos e que se trata de uma ação
preventiva sobre o impacto da mudança climática na segurança alimentar. Sem
ela, não haverá paz”, completou Graziano, que defende que “a agricultura não é
só parte do problema, mas também da solução”.
A produção de alimentos de maneira sustentável é um dos
principais avanços neste sentido, “pois não podemos usar 15 mil litros de água
para produzir um quilo de filé, nem 8 bilhões de pessoas podem comer filé
diariamente”.
Desta forma, Graziano aposta na educação alimentícia. O
objetivo, segundo o diretor, é aplicar com urgência as diretrizes voluntárias
para a sustentabilidade.
Estas diretrizes, que acabam de ser aprovadas no Comitê de
Segurança Alimentar Mundial (CSAM), promovem o fim da pesca indiscriminada, a
poda de árvores e apostam em medidas como o bom uso da água em sistemas de
irrigação, com fórmulas como o gotejamento, cuja eficácia foi demonstrada pelos
israelenses.
O diretor-geral da FAO destacou que 35% de toda produção
alimentícia mundial – a quantidade que é desperdiçada anualmente – vai para
lixo, mas poderia alimentar a toda a faixa subsaariana.
“A comida é desperdiçada no consumo, no transporte, na
armazenagem, no manejo inadequado e até na educação alimentícia”, finalizou
Graziano. (EcoDebate)
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