Extremos Climáticos:
Pesquisadores fazem diagnósticos e recomendações sobre a gestão de riscos
Nova Friburgo,
2011
Interface entre
cientistas e governos é prioridade para gestão de desastres – A fim de
aprimorar a gestão de riscos de extremos climáticos e desastres, é preciso
aprimorar o diálogo entre cientistas e tomadores de decisão – especialmente com
as autoridades locais – e obter participação mais ativa dos governos na
avaliação de vulnerabilidades e em iniciativas de adaptação.
Essas recomendações
fazem parte do diagnóstico produzido por cientistas e gestores durante o
workshop “Gestão dos riscos dos extremos climáticos e desastres na América
Central e na América do Sul – o que podemos aprender com o Relatório Especial
do IPCC sobre extremos?”, realizado na semana passada na capital paulista.
O evento discutiu as
conclusões do Relatório Especial sobre Gestão dos Riscos de Extremos Climáticos
e Desastres (SREX, na sigla em inglês) – elaborado e recentemente publicado
pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – e as opções
para gerenciamento dos impactos dos extremos climáticos, especialmente nas
Américas do Sul e Central.
O workshop foi
realizado pela FAPESP e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
em parceria com o IPCC, o Overseas Development Institute (ODI) e a Climate and
Development Knowledge (CKDN), ambos do Reino Unido, e apoio da Agência de Clima
e Poluição do Ministério de Relações Exteriores da Noruega.
Depois de dois dias
de debates, os participantes se dividiram em grupos de trabalho que
sintetizaram as conclusões das discussões. Segundo o pesquisador do INPE José
Marengo – coordenador do evento e membro do comitê organizador do IPCC-SREX –,
um dos principais consensos entre os grupos foi a necessidade urgente de levar
informação climática aos tomadores de decisão e à população.
“Ficou claro que a
interface com os gestores e com as comunidades locais é um ponto crítico. Há
muito ruído nessa comunicação. Apareceram discussões, por exemplo, sobre termos
como ‘incerteza’, que é derivado da área de modelagem climática e cujo conceito
nós cientistas compreendemos, mas que não foi traduzido adequadamente para o
público”, disse Marengo à Agência FAPESP.
A necessidade de participação
mais ativa dos governos em tomadas de decisão relacionadas a questões como
vulnerabilidade e adaptação também foi destacada por Marengo.
“O papel do IPCC é
produzir subsídios científicos, mas o Painel não pode interferir na realidade
nacional, isso cabe aos governos. Entretanto, os governos se mostram pouco
preparados e continuam sendo pegos de surpresa por eventos meteorológicos que
estão aumentando em frequência e intensidade, como mostram os relatórios, e
deverão aumentar ainda mais no futuro”, disse.
Segundo Marengo,
muitas vezes há recursos para mapeamento de risco e remoção de população em
áreas vulneráveis, mas eles acabam sendo transferidos para outras áreas.
“Isso mostra uma
falha no nosso diálogo com os governos locais. Não é segredo que o clima está
mudando e todos os anos pessoas morrem por conta de desastres que poderiam ser
evitados se esses recursos fossem aplicados”, afirmou.
Marengo destaca que a
ciência climática é fundamentalmente interdisciplinar e a elaboração do SREX
mostrou que cientistas de áreas como física e meteorologia conseguem trabalhar
de forma muito satisfatória em colaboração com os cientistas sociais.
“A elaboração do SREX
teve a participação de mais de 1.500 cientistas de todas as áreas e mostrou que
a interação com os cientistas sociais é viável e produtiva. Uma das conclusões
é que os cientistas sociais são os que melhor conseguem transmitir a linguagem
técnica e científica, de forma compreensível, para os tomadores de decisão e
para as comunidades. Temos que aproveitar melhor essa competência”, disse.
Os grupos de trabalho
concluíram também que é preciso integrar ações de governos locais e estados,
melhorando a comunicação entre a comunidade científica e as autoridades locais,
dando mais acesso às informações sobre o clima. “As comunidades locais muitas
vezes necessitam de informações e não sabem onde procurar”, disse Marengo.
Os pesquisadores
também detectaram a necessidade de aumentar o financiamento de estudos sobre
mudanças climáticas, com apoio de instituições governamentais e não
governamentais. Os grupos recomendaram ainda o fortalecimento das instituições
locais de gerenciamento de risco. “Não é preciso criar novas instituições, mas
fortalecer as que já existem”, afirmou.
Melhorar o sistema
educacional e a formação de profissionais dedicados às questões relacionadas às
mudanças climáticas foi outra recomendação. Outro aspecto diagnosticado é que
os sistemas nacionais capazes de lidar com os desafios dos eventos extremos não
estão integrados de forma adequada: há necessidade de se estabelecer diretrizes
em diferentes níveis de governo.
Os grupos detectaram
também que não há ações para estabelecer políticas, orçamentos e planos de
longo prazo. A recomendação é que os orçamentos para lidar com desastres
naturais deveriam ser desconectados de mandatos eleitorais curtos, a fim de
estabelecer políticas de Estado, de longo prazo.
Os governos locais
muitas vezes, de acordo com os especialistas, trabalham apenas com situações de
emergência e não com prevenção de riscos e vulnerabilidades. Há falta de
integração das instituições em diferentes níveis de governo. A falta de
planejamento urbano também foi apontada como um problema crítico para a gestão
de desastres.
Os especialistas
recomendaram, ainda, que os conselhos regionais voltados para questões
ambientais sejam integrados à defesa civil, ao sistema de saúde e à academia.
Foi detectada também
a necessidade de fornecer às comunidades informação mais integrada – e menos
fragmentada – sobre os riscos e vulnerabilidades. Foi sugerido também que os
sistemas de defesa civil descartem o paradigma reativo existente e atuem mais
na prevenção de situações emergenciais. (EcoDebate)
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