Marcela
Rocha e Danilo Mesquita velejarão e pegarão resíduos do mar durante 2 anos
O
sonho de dar a volta ao mundo começa nos próximos dias para Marcela Rocha e
Danilo Mesquita. O casal de paulistas, que começou a velejar há apenas três
anos, vendeu tudo o que tinha para passar dois anos no mar, juntando-se ao
seleto grupo de brasileiros que já fez a aventura. No caso deles, porém, a
coleta de resíduos plásticos ao longo do caminho confere uma relevância
ambiental à expedição.
A
análise do material, parte dele enviado durante a viagem, será feita pelo
Instituto Oceanográfico da USP. O objetivo é estudar a concentração de
poluentes em diversas partes do oceano, além de descobrir a quantidade e a
dispersão de materiais plásticos pelos mares do planeta.
A
expedição 4 Ventos deve partir nesta quarta-feira e terá Miami como ponto de
partida, por questões logísticas - além da localização, os custos de manutenção
e reforma de barcos é bem menor nos Estados Unidos. "Definimos uma janela
de embarque para quando passar a frente fria que está sobre a região",
explica Mesquita, de 30 anos, que fez curso náutico de capitão amador.
Formados
em jornalismo, os dois trabalhavam na profissão e começaram a mudar de vida
após as primeiras aulas de mergulho, há cinco anos. Em 2009, depois de um fim
de semana no barco de um amigo, passaram a velejar por conta própria e a
ambição de rodar o mundo os fez comprar um barco, em novembro do ano passado.
"Como a questão do plástico nos preocupava, pensamos em unir o útil ao
agradável. Procuramos a USP para dizer que íamos fazer a circum-navegação e
queríamos contribuir com estudos na área", diz Marcela, de 36 anos.
Com
sede em Ubatuba, os pesquisadores da USP já desenvolviam um trabalho semelhante
com plásticos coletados na costa brasileira. Segundo Marcela, o acordo com o
instituto uniu os conhecimentos. "Temos o know how de velejar, mas não o
de coleta em oceano. Eles tinham a ideia de expandir os estudos, mas não tinham
embarcação."
Apoio.
Há um ano, o casal tem estudado cada detalhe da viagem e reforçado o barco para
evitar imprevistos. A aventura de quase 30 mil milhas náuticas deve custar
quase meio milhão de reais - boa parte dos gastos será com manutenção do barco
- e conta com patrocínio parcial da empresa de telefonia Oi. "Ainda
buscamos parceiros, pois o custo do projeto depende de fatores
imprevisíveis", diz Marcela. No mês passado, o casal escapou por pouco de
ter danos no barco por causa da passagem dos furacões Isaac e Sandy pela costa
americana.
Com o
uso de velas, haverá pouco gasto com diesel. Além disso, o barco terá geração
de energia solar e eólica. "A parte mais tensa da expedição é o tempo que
antecede a partida. É preciso fazer toda a prevenção, não pode ser apenas
viagem de aventura", diz Marcela. Entre os brasileiros que fizeram viagens
semelhantes estão Amyr Klink, a família Schürmann e o casal Marçal e Eneida
Ceccon, que serviu de inspiração para o projeto.
No
primeiro trecho da viagem, de Miami a Galápagos, passando pelo Canal do Panamá,
a dupla de velejadores estará acompanhada do biólogo Gabriel Monteiro, que
ficará encarregado de trazer para o País a primeira parte do material.
Monteiro
participou da elaboração de uma rede neustônica de dois metros para a captura
dos microplásticos - o nome vem de nêuston, o conjunto de organismos que fica
na superfície da água. Produzida pelos pesquisadores do instituto, teve a
colaboração da agência federal norte-americana National Oceanic and Atmospheric
Administration (NOAA). "Existem vários tipos de rede neustônica. A nossa
compreende o tipo manta, que apresenta duas abas laterais que oferecem suporte
para que a rede permaneça na superfície durante a coleta", diz Monteiro.
Segundo
ele, a amostragem terá de seguir um protocolo rigoroso para que o material não
seja contaminado. "Um simples toque de mão pode contaminar a amostra. Todo
o manuseio será por meio de pinças e outros instrumentos previamente
descontaminados", explica.
Rosalinda
Montone, professora do instituto, diz que o foco do estudo está nos poluentes
que ficam aderidos ao plástico. Assim, será possível analisar a presença na
água de pesticidas como o DDT, que não se desfaz no ambiente. "Essas
partículas flutuam e são levadas pela corrente, é até difícil prever para onde
vão. Além disso, há tartarugas e outros animais que ingerem esse
plástico", diz a pesquisadora.
Segundo
Montone, as regiões costeiras têm maior acúmulo de resíduos, mas o material
enviado pelo casal de velejadores será retirado de uma área de mar aberto. Para
evitar problemas burocráticos, a coleta será feita apenas em águas
internacionais.
Os
pontos e a frequência da coleta dependerão das condições ambientais e o
material será mantido congelado até chegar ao Laboratório de Química Orgânica
Marinha do instituto - uma parte será enviada pelo correio.
Após
um longo trajeto, a epopeia do casal está prevista para terminar em 2015, em
reencontro com pesquisadores da USP, na base do instituto em Ubatuba. (OESP)
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