No caminho da prosperidade, as economias modernas devastaram
boa parte dos recursos naturais. Em nome do crescimento econômico, a atividade
industrial dilapidou os serviços ecossistêmicos (responsáveis pela manutenção
da biodiversidade), desfigurando a natureza em várias frentes.
Indiscutivelmente, mudanças climáticas foram – e estão sendo – provocadas pelo
“homem-econômico”. O objetivo?
Fazer a economia crescer exponencialmente produzindo em excesso para atender o
consumo exagerado. O resultado? O ambiente ameaçado pelo consumo excessivo. A
consequência? Depleção ambiental.
Inequivocamente, produção econômica implica destruição e
degradação do meio ambiente. Por si só, isso já é o bastante para orientar à
tomada de decisão rumo à elaboração de um novo paradigma econômico voltado às
ordens ecológicas; não às mercadológicas.
Se não mudarmos o atual paradigma econômico é a própria
economia que cada vez mais se joga no abismo da destruição, tendo em vista que,
como bem lembrou Lester Brown, “a economia depende do meio ambiente. Se não há
meio ambiente, se tudo está destruído, não há economia”.
Nessa mesma linha de análise, Clóvis Cavalcanti nos diz que
“não existe sociedade (e economia) sem sistema ecológico, mas pode haver meio
ambiente sem sociedade (e economia)”.“Sem recuperar o meio ambiente, não se
salva a economia; sem recuperar a economia, não se salva o meio ambiente”,
contextualizou o ecologista norte-americano Berry Commoner (1917-2012).
Embora em seus modelos convencionais a economia tradicional
faça questão de não contemplar a moldura ou restrições ambientais, pois a visão
predominante do sistema econômico como um todo enaltece loas ao fluxo circular
da riqueza, imaginando, com isso, uma economia como sendo um sistema isolado,
como se fosse um corpo humano dotado apenas do aparelho circulatório, não há
como negar o enorme grau de dependência da economia em relação ao ecossistema
natural finito (meio ambiente), uma vez que a natureza fundamental da economia
é extrair, produzir e consumir.
É intensa a relação da economia (atividade industrial) com o
meio ambiente. Não se pode perder de vista que o sistema econômico é um sistema
aberto que troca energia com o ambiente. Nessa troca, recebe energia nobre
(limpa) e a devolve de forma degradada (suja).
Portanto, metaforicamente, se a economia é um corpo humano,
o aparelho digestivo está aí contemplado, uma vez que recebe da natureza
matéria e energia e devolve lixo, dejetos. Reafirmando essa ideia, convém
resgatar uma passagem de Nicholas Georgescu-Rogen (1906-94): “o sistema
econômico consome natureza – matéria e energia de baixa entropia – e fornece
lixo – matéria e energia de alta entropia – de volta a natureza”.
Diante disso, é de fundamental importância subordinar o
crescimento aos limites ecossistêmicos, uma vez que crescer além do “normal” é
altamente prejudicial ao meio ambiente.
Por isso, o novo paradigma econômico precisa convergir com a
ecologia, uma vez que dependemos dessa para nossa própria sobrevivência. O
desafio é ímpar: produzir mais (bem-estar) com menos (recursos naturais).
Produzir mais qualidade (desenvolvimento), e não quantidade (crescimento).
Decorre daí a máxima de que somos, pois, dependentes do meio
ambiente, contrariando assim o discurso de René Descartes (1596-1650) de que “somos
senhores e dominadores da natureza”. Por essa ideia do filósofo francês, a
economia dilapidadora dos recursos naturais, manejada pelo “homem-econômico”, estaria agindo de
forma correta em propagar destruição, poluição e degradação ambiental, uma vez
que para gerar riqueza gera-se antes destruição natural.
O futuro da vida – e especialmente, da vida humana – na
Terra, dependerá do rumo que se der hoje à economia. Se nosso objetivo maior
for pela continuidade da vida de nossa espécie devemos seguir o receituário
propugnado por Georgescu-Rogen: “(…) um dia a humanidade terá de compatibilizar
desenvolvimento com retração econômica”. Caso contrário, pereceremos.
(EcoDebate)
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