Serge Latouche,
professor emérito de Economia da Universidade de Paris-Sul (Orsay), é um dos
teóricos do decrescimento, uma proposta que rechaça o crescimento pelo
crescimento e a sociedade de consumo. Convidado pelo Instituto do Território,
Latouche alertou, em uma conversa em Valência, para a superexploração do
Planeta. Urge uma mudança, razão pela qual, para Latouche, “a crise é uma boa
notícia”.
Segue a entrevista
que Serge Latouche concedeu a Cristina Vázquez publicada no jornal espanhol El
País, 30/03/09.
Esses tempos de crise
são um momento propício para as teorias do decrescimento, não?
Sim e não. Sim,
porque a crise econômica está conectada ao desastre econômico, o que nos leva a
um choque terapêutico que exige outro sistema [de produção]. E não, porque a
reação de todos os Governos e dos poderes econômicos não é corrigir, mas
reproduzir o atual sistema; mais indústrias automobilísticas e mais cimento, o
que é uma contradição. Os Governos admitem isso, mas fazem o contrário para
evitar tensões sociais e seguem ajudando os bancos, o capital…
A sua proposta não é
utópica?
É uma revolução e
toda revolução implica uma mudança de mentalidade. Temos o exemplo do Maio de
1968, que não foi violento. As pessoas saíram às ruas para pedir outro modelo
de vida. Não foi uma mudança tão espetacular como a revolução francesa, mas
trouxe transformações. O Planeta necessita que mudemos de estilo de vida.
Há alguém que possa
liderar este movimento?
As mudanças não serão
produzidas com as estruturas atuais, que são do século XIX. Serão associações,
mas não necessariamente um partido político. Eu, ao menos, não tenho intenção
de criá-lo.
Que mudanças vão
empreender?
A relocalização,
porque permite desmundializar, questiona os mercados financeiros e encontra um
sentido diferente para a produção local e ecológica.
Um retorno ao campo?
Não apenas um retorno
ao campo. Mas creio que haverá uma agricultura não produtivista. Não deve ser
entendido como um retorno ao passado; será preciso reinventar uma agricultura
mais próxima, menos produtivista e que use menos pesticidas e produtos químicos
para engorda.
O desemprego é o
grande drama desta crise. O que você faria?
Os Governos
reimpulsionam o crescimento, o que nos empurra novamente contra a parede. Há
soluções fáceis como aumentar a população agrícola, reduzir as horas de
trabalho ou potencializar a reciclagem. A indústria automobilística poderia
produzir tecnologia solar em vez de carros.
Como vive um crítico
do crescimento?
Não é preciso ser de
uma sobriedade masoquista. Mas eu, por exemplo, não ando de avião, prefiro o
trem. Andar de carro pela cidade também é bastante desagradável. Se pudermos
andar de bicicleta, melhor. Não gosto de beber água engarrafada. Prefiro as
biocooperativas aos shoppings centers e coisas do gênero.
É o decrescimento
incompatível com a internet?
Todos aqueles que
fizeram uma opção radical de voltar ao campo, ser autônomos e produzir seus
próprios alimentos, têm computador. O decrescimento não demoniza necessariamente a internet. (EcoDebate)
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