Aumento das emissões de CO2 pode tornar oceanos
170% mais ácidos até 2100, diz estudo
Corais, como
estes na Indonésia, estão ameaçados pela acidificação dos oceanos.
Cientistas acreditam
que a acidificação dos oceanos irá aumentar 170% até o ano de 2100, colocando
em risco a rica biodiversidade marinha, diz um novo estudo apresentado em
reunião da ONU sobre o Clima, que ocorreu na Polônia.
Em 2012 mais de 500
especialistas em acidificação dos oceanos, vindos do mundo inteiro, se reuniram
na Califórnia. Liderados pelo Programa Internacional Biosfera-Geosfera, lançado
em 1987 para coordenar pesquisas na área, o grupo publicou um relatório a
respeito da situação dos oceanos.
No documento, chamado
de Sumário para Criadores de Políticas, os cientistas declaram “com
muita confiança” que o aumento na acidez é causado pelas atividades humanas,
que estão adicionando 24 milhões de toneladas de CO2 nos oceanos
diariamente alterando a química da água.
Segundo os
cientistas, cerca de 30% das espécies marinhas não devem sobreviver nestas
novas condições, que são particularmente prejudiciais aos recifes de coral.
O mesmo estudo
reforçou a estimativa de que os oceanos estão ficando mais ácidos em uma
velocidade sem precedentes nos últimos 300 milhões de anos, que já havia sido
divulgada no ano passado em estudo publicado na revista Science.
Velocidade de mudança
Desde o início da
revolução industrial, os cientistas acreditam que as águas dos oceanos ficaram
26% mais ácidas.
“Meus colegas não
encontraram nos registros geológicos de velocidades de mudança maiores do que
as que vimos atualmente”, afirmou o professor Jean-Pierre Gattuso, da CNRS, a
agência nacional de pesquisas da França.
O que preocupa os
cientistas é o potencial de impacto destas mudanças em muitas espécies
marinhas, incluindo os corais.
Pesquisas realizadas em
fontes hidrotermais nas profundezas dos oceanos, nas quais as águas são
naturalmente ácidas graças ao CO2, indicam que cerca de 30% da
biodiversidade marinha poderá ser perdida até o fim deste século.
Os cientistas afirmam
que as fontes podem ser uma “janela para o futuro”.
“Você não encontra um
molusco no nível de pH esperado para o ano de 2100, e este é um fato chocante”,
afirmou Gattuso.
“(As fontes
hidrotermais) são uma janela imperfeita, apenas a acidez do oceano está
aumentando nestes lugares, eles não refletem o aquecimento que veremos neste
século. Se você combinar os dois, pode ser ainda mais dramático do que vemos
nestes orifícios de CO2″, acrescentou.
Efeitos mais graves
O efeito da
acidificação atualmente está sendo observado de forma mais grave no Mar Ártico
e na região da Antártida. Estas águas geladas retêm uma quantidade maior de CO2,
e os crescentes níveis do gas estão acidificando estes mares mais rapidamente
do que no resto do mundo.
E isto aumenta os
danos a conchas e esqueletos de organismos marinhos.
Os pesquisadores
afirmaram que até 2020, 10% do Ártico será um ambiente inóspito para espécies
que fazem suas conchas a partir do carbonato de cálcio. Até 2100, o Ártico todo
será um ambiente hostil.
De acordo com
Gattuso, os efeitos da acidificação já são visíveis.
“No oceano do sul já
vemos a corrosão de pterópodes, que são como caramujos marinhos. No oceano,
vemos a corrosão das conchas. Eles (os pterópodes) são elementos importantes na
cadeia alimentar, consumidos por peixes, aves e baleias, então, se um elemento
está desaparecendo, haverá um impacto em efeito cascata na cadeia toda”, disse
o cientista.
Os autores do
relatório afirmam que o impacto econômico poderá ser enorme. O custo global do
declínio nas populações de moluscos pode ser de US$ 130 bilhões até 2100, se as
emissões de CO2 continuarem no padrão atual.
Efeito limitado
Uma possibilidade
para diminuir os efeitos da acidificação seria adicionar substâncias alcalinas
nas águas dos oceanos, como pedra calcária esmagada, mas, segundo Gattuso, isto
teria um efeito limitado.
“Talvez em baías que
tenham uma troca de água mais limitada com o mar aberto poderá funcionar, dar
algum alívio local. Mas as últimas pesquisas mostram que não é prático se
aplicado em escala global. É muito caro e consome muita energia”, afirmou.
Áreas de proteção
marinha poderiam também melhorar a situação no curto prazo.
Mas, segundo os
cientistas, no longo prazo apenas os cortes nas emissões poderiam desacelerar o
avanço da acidificação. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário