Estudo indica que telhado verde reduz temperatura e aumenta
umidade
O uso de telhado
verde se mostrou eficiente para reduzir os impactos no microclima no topo de um
edifício na região central de São Paulo, como mostra estudo realizado na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Telhado verde
é o uso de vegetação como gramíneas, arbustos e árvores no topo de telhados
comuns ou em laje de concreto.
Edifício Conde
Matarazzo, sede da Prefeitura de SP: telhado verde tem até lago
Os prédios analisados
foram o Edifício Conde Matarazzo (sede da Prefeitura de São Paulo), localizado
entre a rua Dr. Falcão e o Viaduto do Chá, e que possui um amplo telhado verde;
e o Edifício Mercantil/Finasa (rua Líbero Badaró), cuja laje é de concreto. Os
resultados indicaram que o edifício com telhado verde chegou a ficar 5,3 graus
Celsius (ºC) mais frio do que o edifício de concreto; já a umidade relativa do
ar foi 15,7% maior. Os dois edifícios estão no centro de São Paulo.
“O telhado verde
absorveu grande parte da radiação solar emitindo uma menor quantidade de calor
para a atmosfera, o que aumenta a qualidade ambiental das cidades, podendo
fazer parte das políticas públicas do município como forma de ampliar as áreas
verdes”, diz o geógrafo e professor universitário Humberto Catuzzo, autor da
tese de doutorado Telhado verde: impacto positivo na temperatura e umidade
do ar. O caso da cidade de São Paulo. A tese, defendida em 4 de outubro
deste ano, teve orientação da professora Magda Adelaide Lombardo.
Os edifícios foram
escolhidos, pois ambos se localizam na borda direita do Vale do Anhangabaú e
estão sujeitos a condições atmosféricas e de insolação semelhantes . No topo
foram instalados sensores a 1,5 metros (m) do chão (padrão internacional para
medição da temperatura e umidade relativa do ar) e que foram captados de 10 em
10 minutos durante um ano e onze dias. Dois sensores foram colocados em lados
diferentes do Edifício Conde Matarazzo. Os dados foram comparados com os do
outro sensor, instalado no Edifício Mercantil/Finasa.
A coleta ocorreu de
20 de março de 2012 até 31 de março de 2013. A partir daí foi feita a
comparação dos dados primários coletados por meio de estatística e gráficos,
demonstrando as variações das temperaturas máximas, mínimas e umidade relativa
do ar. Também foram analisadas as amplitudes térmicas e higrométricas (umidade
relativa do ar) em todas as estações do ano. “Fiz ainda uma comparação destes
resultados com os dados oficiais coletados pelo Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET) localizado no Mirante de Santana.”
Sede da
Prefeitura (esq.): telhado verde chegou a ficar 5,3ºC mais frio do que o
edifício Edifício Mercantil/Finasa, com laje de concreto (dir.). Umidade
relativa do ar foi 15,7% maior
Resultados
A diferença entre as
temperaturas máxima e mínima (amplitude térmica) do dia chegou a ser 6,7º C
menor no telhado verde em um dia de verão. “Isso significa que ele demora mais
a aquecer e a resfriar, o que mantém a temperatura do ar muito mais constante”,
aponta. Já a amplitude higrométrica chegou a ser 7,1% menor no telhado verde, o
que significa que ele perde menos umidade do que o telhado de concreto ao longo
do dia.
Na comparação com os
dados do INMET, a variação mais significativa foi de 3,2º C mais frio no
telhado verde e 21,7% mais úmido. Ou seja, o telhado verde mesmo estando em
plena área central, apresenta menor aquecimento e maior umidade relativa do ar,
comparado com o telhado de concreto ou até mesmo com a estação do INMET.
Segundo o
pesquisador, o concreto possui características que fazem com ele esquente muito
quando o sol incide, e irradie muito calor ao mesmo tempo, fazendo, inclusive,
o vapor d´água diminuir (umidade relativa). Já as áreas verdes possuem
característica oposta — demoram mais para aquecer, retém o calor por mais tempo
e mantém a umidade também por muito mais tempo — por isso nos sentimos tão bem
debaixo da sombra de uma árvore.
“Há ainda outros
fatores que não foram estudados nesta tese, mas que podem trazer benefícios se
criarmos uma política de implantação de telhados verdes. A criação de
corredores ecológicos onde pássaros e insetos possam “migrar” entre parques e o
conforto interno dos prédios que poderiam diminuir custos com ar-condicionado
são exemplos de efeitos possíveis que merecem investigação”, destaca. “Cabe
ressaltar que, em países europeus, e em algumas cidades dos Estados Unidos e da
Argentina, existem leis, incentivos fiscais e financeiros dados às construções
que utilizam este tipo de estrutura. O poder público tem um papel de extrema
importância, uma vez que em nossas cidades é cada vez mais necessário melhorar
a qualidade socioambiental do meio urbano.”
Telhado verde da
sede da Prefeitura (esq.) e a laje de concreto do Mercantil/Finasa (dir): uso
de telhados verdes como políticas públicas poderiam ampliar áreas verdes das
cidades.
Tipos de telhado verde
Catuzzo explica que o
telhado verde pode ser do tipo intensivo (vegetação de porte arbustivo a
arbóreo, com grama permanente, que requer adequado processo de
impermeabilização, sistema de irrigação e drenagem, alta manutenção e tem um
alto custo). Há ainda o extensivo (vegetação rasteira, geralmente gramíneas,
com baixa manutenção, nenhuma irrigação e menor custo). Existe também um
terceiro tipo, classificado como semi-intensivo (gramíneas e arbustos, sendo
também necessário sistema de impermeabilização e irrigação constante).
“Para todos eles é
fundamental que se realizem cuidados especiais quanto à impermeabilização e o
cálculo de peso da estrutura, para verificar se realmente o edifício ou casa
suporta o peso”, conclui. (ecodebate)
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