sábado, 1 de fevereiro de 2014

Extremos de frio e calor será o novo normal?

Extremos de frio e calor podem estar indicando o novo normal com a mudança climática
Tremenda onda de frio produz situações dramáticas e letais nos Estados Unidos e no Canadá. Brutal onda de calor que eleva os termômetros no Rio de Janeiro para além dos clássicos 40 graus Celsius e na Austrália para a fronteira dos 50°C. A sensação térmica no Rio anda batendo os 51°C. São temperaturas mortais. O frio pode provocar queimadas severas na pele e hipotermia, muito rapidamente. O calor pode também causar queimaduras sérias e morte por desidratação e agravamento de cardiopatias. Riscos de extremos de temperatura que ameaçam principalmente pobres desabrigados, crianças e idosos. Esses extremos juntos são uma espécie de amostra do tipo de cenário “moderado” que os cientistas preveem para o futuro, se não conseguirmos estancar as emissões de gases estufa e, posteriormente, reduzir sua concentração na atmosfera.
Esse frio intenso no Hemisfério Norte tem explicação clara. Os cientistas sabem o que está acontecendo. Onde não há consenso é no que eles chamam de “questão da atribuição”. Em palavras simples, se é possível ou não atribuir esse cenário caótico ao aquecimento global e à mudança climática. Hoje, diferentemente do passado recente, cientistas experientes e reconhecidos, já dizem em público que os padrões alterados de tempo que têm se repetido nos últimos anos podem e devem ser atribuídos à mudança climática causada pela concentração de gases estufa que já está em curso. A redução do gelo no Polo Norte causa aquecimento do Oceano Ártico no Hemisfério Norte e a difusão do calor latente pela atmosfera ártica. Esse aquecimento enfraquece os corredores de vento polar, o “jestream”, que passa a ter um padrão de circulação serpenteante, em velocidades mais baixas em algumas áreas e mais abrangente. Quando isso acontece o tempo fica caótico em boa parte dos Estados Unidos e em alguns pontos da Europa, como o Reino Unido. Afeta o padrão de tempestades de neve e chuva, de furacões e secas no Hemisfério Norte.
O Oceano Ártico está aquecendo em velocidade muito superior à de outras áreas. Neste período, a temperatura média ficou -17°C. O aquecimento e a perda de gelo polar mudam dramaticamente a atmosfera superior. A forte corrente de ar polar na atmosfera superior, em situações antes normais de temperaturas mais baixas, ficava “fechada” em torno do Polo Norte. Mas, sobrecarregada de calor do Oceano Ártico, ela se “solta” e avança na direção sul, adotando uma trajetória sinuosa e provocando situações climáticas extremas.
Os cientistas mais convictos, como Michael Mann, autor do célebre gráfico conhecido como “taco de hóquei”, não têm mais problema em dizer que os extremos que temos experimentado nos últimos anos são parte do processo de mudança climática provocado pelas emissões humanas. Um processo já em curso. O aquecimento dos polos tem sido apontado pela quase unanimidade (com as exceções pouco respeitáveis – a maioria – e alguns – muito poucos – sérios que ainda não se convenceram. Todos os sérios apontam a margem ainda significativa de indeterminação, que dificulta atribuir à mudança climática determinados fenômenos específicos. Mas isso nem toca na validade da hipótese de mudança climática por causas humanas em curso e com trajetória de alto risco.
Os extremos do final de 2013 e início de 2014 são impressionantes. Nevascas violentas e temperaturas muito baixas, com sensações térmicas impressionantes atingiram os Estados Unidos e o Canadá. Pelo menos metade do EUA está coberta de neve e experimentando temperaturas de congelar. A sensação térmica em alguns lugares chegou a – 55°C. Em Manitoba, no Canadá, as temperaturas chegaram aos níveis de Marte, incríveis – 52°C, na passagem de ano. Em muitos lugares do EUA e do Canadá, as temperaturas estão muito abaixo das registradas no Polo Norte nos últimos dias, que não passaram de bem comportados (para a época) – 21°C.
Mas o EUA não está congelando por toda parte. Na Califórnia nem está tão quente, nem chovendo ou nevando significativamente. Ao contrário, o estado vive intensa seca. Há um sistema de alta pressão parado na região, que desvia o corredor de ar polar para o norte, rumo a partes do Canadá e do Alaska. Como resultado, 85% do estado vive uma longa estiagem, com o a menor grau de umidade desde 1849, quando o índice começou a ser medido. Em Los Angeles a precipitação foi apenas 24% da média “normal”. Em São Francisco, 16% da média anual em 2013.
Esse ondulante corredor de ar polar está também produzindo estragos no Reino Unido. Ondas de mais de 15 metros, ressacas violentas com marés muito elevadas e chuvas de enormes e destrutivas pelotas de granizo estão provocando inundações e destruição na costa britânica. Rodovias e estradas de ferro foram destruídas e a maré tem provocando inundações que avançam facilmente sobre os diques e barreiras. breaching the defenses.
Já a Austrália está fervendo, como o Rio de Janeiro. A seca e as queimadas voltaram a atingir parte do país. O ano de 2013 foi o mais quente jamais registrado, com temperaturas chegando a 50° C, no começo de 2014.
Cá do nosso lado, a Argentina acaba de sair da pior onda de calor dos últimos 107 anos. Ela provou uma série de grandes apagões em boa parte do país. No Rio, temos uma onda de calor que nos últimos dias levou a sensação térmica a níveis de 50-51° C, com temperaturas entre passando dos 42° C nas partes mais quentes. O Nordeste vive a pior seca dos últimos 30 anos. Onde choveu para aliviar a seca houve fortes inundações. Inundações mataram no Espírito Santo e Minas Gerais e afetaram também o Rio, no finalzinho de 2013.
Esse cenário de tempo enlouquecido é um retrato moderado do cenário futuro que pode ocorrer se não tomarmos medidas mais agressivas para conter a mudança climática, reduzindo a zero, em tempo hábil, nossas emissões de gases estufa. Por outro lado, é sempre bom lembrar que tempo não é clima. Esses eventos climáticos cíclicos vão e voltam, mas, aí sim, por causa do clima em mutação, de forma mais frequente e mais intensa, até deixarem de ser cíclicos e se tornarem, de fato, o “novo normal”. Por enquanto, vamos vivendo de anormalidade em anormalidade, com muitos políticos, grupos de interesses e cientistas de baixa qualificação, dizendo que tudo passará, e que vivemos tempos normais. (ecodebate)

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